Ecuador: Um poema para as mulheres do manguezal

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(Photo: C-Condem)

Durante muitos anos, as “décimas” têm sido ferramenta de protesto dos povos negros do Equador, que ainda mantêm viva a tradição dos poetas “decimeros” quando denunciam a agressão sofrida por seu povo diante dos sistemas ambiciosos de poder, como o da indústria do camarão e outros empreendimentos industriais que destroem o mangue.

Linver Nazareno dedica esta “décima” às mulheres que habitam o manguezal, em uma homenagem ao trabalho que enfrenta, todos os dias.

Mulher do manguezal
Linver Nazareno

 

Lenha e mangue são teu carvão
A concha vai te esperar
O remo é o teu timão
Teu grande amigo é o manguezal

No fogão a lenha cozinhas
Os filhos, são tua diversão
Os montes são teu remédio
A sombra, tua proteção

Um bom peixe é tua comida
O coentro, teu tempero
Mangue, barreira de vida
Protegê-lo é tua razão

Para apurar a comida
Lenha e mangue teu carvão
Pele curtida de esperança
E de tanto madrugar

Tua mente te dá a força
No lodo vais andar
O fumo é tua paixão
Fumaça pro mosquito espantar

O vento é tua grande canção
O tapao [1] é teu manjar
Pra te dar alimentação
A concha vai te esperar

Esquentas a citronella
Antes do café da manhã
Teu viver é tão simples
Duro sabes trabalhar

O sol é teu fiel horário
As ondas, teu coração
A lua é teu calendário
Teu gás, um saco de carvão

Para chegar ao estuário
O remo é o teu timão
Casca largando fumaça
Os mosquitos é preciso espantar

Do coco tiraste o suco
A tonga [2] é preciso preparar
Minha arvorezinha de mangue
Muitas comida me deste

Mil batalhas já travei
Quando vou à labuta
A vida me presenteou
Meu grande amigo, o mangue

(Versão original em espanhol)

Leña e mangle es tu carbón
La concha te va a esperar
Canalete es tu timón
Tu gran amigo el manglarEl fogón es tu cocina
Tus hijos tu diversión
Los montes tu medicina
La sombra tu protección

Un buen pescao tu comida
La chillangua tu sazón
Mangle barrera de vida
Protegerlo es tu razón

Para apurar la comida
Leña e mangle tu carbónPiel curtida de esperanza
Y de tanto madrugar

Tu mente te da la fuerza
En el lodo vas andar
El tabaco es tu pasión
Humo pa`l mosco espantar

El viento es tu gran canción
El tapao es tu manjar
Pa darte alimentación
La concha te va a esperar

Calientas el limoncillo
Antes de desayunar
Tu vivir es tan sencillo
Duro sabes trabajar

El sol es tu fiel horario
Las olas tu corazón
La luna es tu calendario
Tu gas un saco e carbón

Para llegar al estuario
Canalete es tu timón
Estopa botando humo
Los moscos hay que espantar

Del coco has sacado el zumo
La tonga hay que preparar
Mi arbolito de manglar
Mucha comida me has dao

Mil batallas he librao
Cuando me voy a faena`
La vida me ha regalao
Mi gran amigo el manglar

(1) Prato típico da província de Esmeraldas, preparado com peixe, banana verde e coentro.

(2) Merenda ou prato que se leva quando se trabalha longe de casa, típico de Manabí: arroz, peixe ou carne envolvidos em folhas de uma palmeira pequena chamada bijao. As mulheres costumam preparar a comida de manhã para comer mais tarde, na metade da jornada de trabalho.