Plantações industriais de monoculturas de árvores: Elevando as vozes da resistência!

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Manifestação contra as monoculturas de árvores de Arauco em Argentina, 2019. Foto: Productores Independientes de Piray.

O Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores, 21 de setembro, reconhece a coragem e a força por trás dos processos de resistência contra as plantações industriais. Compartilhemos as histórias de resistência, exigindo coletivamente o fim da expansão dessa indústria devastadora.

“As grandes plantações industriais de árvores certamente ajudam a indústria internacional de celulose e papel a garantir fornecimento estável ​​de matérias-primas. Elas também são capazes de proporcionar periodicamente lucros consideráveis aos enormes conglomerados que as plantam. No entanto, elas não foram feitas para beneficiar os países do Sul como um todo, seus povos ou seu meio ambiente. Embora costumem destruir mais empregos do que conseguem criar, elas dependem de subsídios extraídos de um grande número de pessoas para gerar seus lucros. Não ajudam a preservar terras, florestas, pastagens nem fontes de água, mas exploram as vantagens naturais locais sem qualquer escrúpulo. Portanto, nem os países do Sul, nem suas comunidades locais devem esperar benefícios da presença de grandes plantações e firmas de celulose que produzem para exportar. Pelo contrário, devem estar atentos aos danos que essas corporações podem causar.

Mesmo que as raízes das plantações de árvores estejam dentro do território nacional, é muito improvável que as raízes dessas empresas também estejam."

Este texto não foi escrito recentemente. Foi publicado há quase 15 anos, por Ricardo Carrere, (1) coordenador do WRM de 1996 a 2010.

Abrimos este boletim com as palavras de Ricardo, não apenas porque o foco desta edição é a devastação causada atualmente pelas monoculturas industriais, mas também porque Ricardo faleceu há dez anos. Seu legado na luta contra as plantações industriais e seus ensinamentos continuam bem vivos.

Além dos danos e prejuízos causados ​​pelas plantações industriais, para os quais Ricardo alerta em seu texto e que continuam presentes hoje, as comunidades que vivem dentro e perto das plantações também precisam enfrentar políticos, plantadores e empresas relacionadas, bem como ONGs conservacionistas que usam novas táticas para seguir tentando fazer a indústria parecer “sustentável”. Os argumentos continuam tão perversos quanto há dez anos, por exemplo, o de que as árvores (ou seja, plantações industriais) podem salvar a humanidade do caos climático. O plantio de árvores é um elemento chave de esquemas de compensação, como o REDD+ ou as chamadas “soluções baseadas na natureza”. Essas plantações permitem que os poluidores afirmem ser “neutros em carbono” ou tenham “emissão líquida” zero.

As empresas de plantações e seus investidores estão aumentando ainda mais os lucros ao entrar em novos mercados além do de celulose e papel, incluindo a produção de tecidos, plásticos, cosméticos, produtos farmacêuticos, tintas, fertilizantes, resinas, energia e muitos outros produtos à base de madeira. (2) Por exemplo, a União Europeia fará pressão por meio do lobby da indústria de plantações durante as negociações climáticas da ONU para permitir que a biomassa (transformação de árvores em pellets de madeira e sua queima para produzir eletricidade) seja considerada “sustentável” e de “emissão zero”. Além disso, a maior produtora mundial de celulose de madeira, a Suzano Papel e Celulose, estabeleceu uma nova parceria com a empresa Spinnova para construir a primeira unidade de produção de fibra de madeira em escala comercial na Finlândia, que eles chamam de fibra “sustentável”.

Na realidade, o modelo de grandes plantações não pode ser dissociado das histórias de colonialismo, capitalismo, patriarcado e racismo. Esse modelo intensivo e violento é amplamente baseado em crimes, como roubo de terras e meios de subsistência, criminalização ilegal, agressão e assédio sexuais, violações dos direitos humanos, opressão das mulheres, exploração do trabalho, devastação ambiental e poluição. Os responsáveis pela violenta imposição desse modelo no hemisfério sul muitas vezes tentam apagar passados e presentes violentos de suas atividades, usando propaganda simpática. No entanto, as afirmações de que são “sustentáveis”, têm “emissão líquida zero” ou são “neutros em carbono” escondem inúmeras histórias de expropriação e opressão, que geraram e sustentaram lucros para alguns. Histórias que foram amplamente silenciadas e marginalizadas por forças do dinheiro e do poder.

Mas essas histórias também carregam outras, poderosas e fortes – histórias de resistência de comunidades. Suas lutas contra as monoculturas industriais de árvores são lutas por suas terras e florestas, suas coletividades e seus espaços de vida nutridos por suas trajetórias, seus conhecimentos e suas visões.

Desde 2004, o 21 de setembro marca o Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores. É um dia para comunidades, movimentos, organizações e redes aplaudirem a coragem e a força por trás de cada luta de resistência. Reconheça as inúmeras histórias de resistência e junte-se ao apelo pelo fim da expansão dessas devastadoras plantações industriais de árvores.

Elevemos o volume das vozes da resistência contra as plantações industriais de árvores!