Tailândia: ambientalista local é morto

Imagem
WRM default image

No dia 25 de maio, Samnao Srisongkhram (1965-2003) foi morto de um tiro na cabeça por um assassino pago. Samnao, 38 anos de idade, era agricultor e uma liderança local muito prezada por seu trabalho em defesa dos agricultores da região nordeste da Tailândia, atingida pela contaminação produzida por uma grande fábrica de celulose.

Samnao era de Khambongpattana, um povoado da província de Khon Kaen, onde exercia a função de presidente da organização local Clube para a Conservação do Rio Phong. Tinha participado na fiscalização da compensação pelos efeitos da contaminação da Phoenix Pulp and Paper Company desde 1996.

Era membro de um comitê formado pelo Escritório do Primeiro Ministro, para dar solução às reclamações contra a empresa Phoenix, e de um comitê estabelecido pelo governador da província de Khon Kaen, para analisar os prejuízos causados pelo sistema de eliminação de águas residuais dessa empresa à agricultura. Também trabalhava nos planos oficiais de conservação de rios e participava ativamente em campanhas de conservação voltadas para os jovens, bem como em atividades ambientais em nível regional. O controle da poluição e os esforços das organizações locais que Samnao ajudou a dirigir são em grande parte responsáveis pela melhora da qualidade da água e do ar nos arredores da planta da Phoenix.

Samnao foi morto enquanto conversava tranqüilamente com seu assassino, sentado no casebre construído no arrozal da família, depois de uma reunião de moradores em que foram analisados os planos de um projeto para fomentar a liderança da mulher na aldeia. A filha mais nova de Samnao estava ao lado dele e sua mulher estava perto. O assassino, uma pessoa de fora da região, tinha se aproximado de Samnao, pretextando ser ativista de uma ONG do norte da Tailândia em busca de informação.

No mês de julho, a Polícia deteve, no sul da Tailândia, um suspeito do assassinato. Segundo fontes policiais, o suspeito apontou o próprio chefe do subdistrito de Samnao, Khoke Soong, como a pessoa que o contratara para cometer o assassinato. O chefe, também detido, tem ligação de longa data com a Phoenix, mas observadores locais manifestaram dúvidas quanto a que o chefe e o atirador sejam as únicas pessoas envolvidas no crime.

A Phoenix tem duas linhas de produção de celulose kraft, com cerca de 200 mil toneladas por ano, a partir do bambu, do kenaf (uma espécie parecida com a juta) e do eucalipto. Numa das linhas, é utilizado cloro elementar para branquear a celulose; na outra, são utilizados compostos de cloro. Embora a Tailândia careça da capacidade para controlar as dioxinas, foram encontrados repetidas vezes outros contaminantes associados à indústria da celulose nas áreas vizinhas. Antes de 1993, os efluentes da empresa eram despejados diretamente no rio Phong, mas, depois de um gravíssimo incidente de contaminação, esse procedimento foi proibido por lei. Atualmente, os efluentes das duas plantas são processados juntos e despejados em tanques, para, finalmente, serem despejados nas plantações de eucalipto da companhia.

Porém, a Phoenix tem grande dificuldade para conseguir terra em quantidade suficiente onde despejar os efluentes (entre 25 e 28 mil metros cúbicos) que deve eliminar diariamente. Uma parte da água residual é filtrada nos campos dos agricultores vizinhos e, finalmente, no rio Phong, danificando solos, lavouras e peixes. Segundo um pacto ajustado com o Ministério da Indústria, a empresa é obrigada a adquirir uma parcela adicional de terra para despejar os efluentes; caso contrário, a licença de funcionamento será cancelada no final deste ano. A Phoenix vem tentando adquirir a terra necessária entre os moradores.

Vários moradores, no entanto, especialmente aqueles que possuem terras férteis na foz de um afluente local, se recusaram a vender suas terras. Com o apoio do Clube para a Conservação do Rio Phong, eles exigiram também compensação adequada pela terra contaminada com detritos despejados pela fábrica e reuniram provas a serem apresentadas nos órgãos oficiais competentes. Preocupada com o vencimento do prazo estabelecido pelo governo, a Phoenix tinha entrado em contato com Samnao, como parte de sua campanha para adquirir terra e negociar as compensações. Segundo vários moradores locais, antes de ser morto, Samnao tinha recebido telefonemas da Phoenix com ameaças e tentativas de suborno que o ativista rejeitou.

Araya Nanthaphotedet, diretora do X Escritório Regional do Ambiente, manifestou a sua esperança de que sejam detidas e sentenciadas todas as pessoas responsáveis pelo assassinato. Afirmou que Samnao tinha feito um excelente trabalho, e que tinha sido um admirável porta-voz dos moradores.

“Justamente, antes dele morrer, tinha participado numa reunião em nível provincial, para resolver os problemas de terra da fábrica, que atingiam os moradores”, contou Araya. “Ele estava prestes a apresentar seu relatório perante os moradores. É uma vergonha”.

Samnao é lembrado por amigos e companheiros de luta como uma liderança reservada e humilde, sem ambições pessoais ou políticas, que não teve conflito com ninguém, salvo com a Phoenix.

Ele deixou mulher, Mayuree, e dois filhos: um menino de 7 anos e uma criancinha de sete meses. O seu lugar no grupo de conservação local foi ocupado, entre outros, por Chawang Buochan, sobrevivente de um tiroteio em 1996, cujos autores jamais foram achados. Pode-se contribuir para a vaquinha a favor da mulher e dos filhos de Samnao, fazendo um depósito na seguinte conta:

NOME DA CONTA: Mrs Mayuree Srisongkram for Utain Srisongkram
NOME DO BANCO: Krung Thai Bank
AGÊNCIA: Ubonrat Branch, Khon Kaen province
NÚMERO DA CADERNETA DE POUPANÇA: 4341298616

Artigo baseado em informação de: jornal Krungthep Thurakit, 22 de julho de 2003; jornal Khao Sot, 17 de julho de 2003; Manager Online, 17 de julho de 2003.