Suazilândia: plantações de árvores em grande escala que não são a exceção à regra

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O estudo de caso “Swaziland: The myth of sustainable timber plantations” (Suazilândia: o mito das plantações madeireiras sustentáveis) realizado por Wally Menne e Ricardo Carrere e publicado em março de 2007(disponível em http://www.wrm.org.uy/countries/Swaziland/Book_Swaziland.pdf), visa a desvelar o mito das plantações sustentáveis na Suazilândia e mostrar que as plantações de monoculturas de árvores em grande escala nesse país têm impactos negativos similares aos de outros lugares e não são uma exceção à regra.

Antes da implementação das plantações madeireiras em grande escala na Suazilândia, a área que agora ocupam eram pradarias, entremeadas com trechos de floresta sempre-verde que crescia em lugares úmidos e protegidos. Os cultivos domésticos e os animais, a caça e os recursos naturais da floresta e pradarias forneciam ao povo Suazi o que precisava para sobreviver.

As coisas começaram a mudar na década de 1870 quando os europeus afluíram para a Suazilândia e através de diferentes meios obtiveram direitos para estabelecer-se em vastas porções do país. Em 1899 estourou a guerra Anglo-Bôer e em 1902 os britânicos assumiram o controle da Suazilândia. O país permaneceu sob o domínio colonial britânico até setembro de 1968 quando a Suazilândia obteve sua independência.

Muitas das plantações madeireiras foram estabelecidas durante o domínio colonial, mas sua existência continuada é hoje um meio de "congelar" a injusta distribuição da terra ordenada pelos governantes imperais britânicos. Atualmente as plantações de árvores industriais cobrem uma área total estimada de quase 135.000 hectares (8% da área total de terras). O que é ainda pior, ocupam as terras com o maior potencial produtivo, às custas de outros usos agrícolas da terra. A maioria das plantações (78%) está composta por árvores de pinus, enquanto uma área importante tem sido plantada com eucaliptos (20%) e uma área menor com acácias (2%). Além disso, há aproximadamente 25.000 hectares das chamadas "florestas de acácia" que são áreas invadidas por acácias exóticas (Plano de Ação Ambiental da Suazilândia, 1997).

Obviamente que nem todas as desgraças da Suazilândia devem atribuir-se às plantações de árvores industriais. No entanto, mais de cinqüenta anos de desenvolvimento pela indústria da celulose e do papel não têm conseguido trazer benefícios para a maioria da população da Suazilândia. Pelo contrário, as coisas têm piorado.

O impacto mais óbvio é a destruição da vegetação natural quando as plantações são estabelecidas pela primeira vez, mas também a fragmentação das pradarias da alta estepe tem sido identificada como um problema, com implicações negativas para a conservação da biodiversidade.

As plantações madeireiras têm tido um impacto direto nos solos, causando erosão do solo, esgotamento de nutrientes, mudanças na estrutura do solo e acidificação, que ainda devem ser estudados na Suazilândia. Também na água: as plantações madeireiras na Suazilândia já carecem de água. Consumem mais do que fornecem as chuvas naturais para a área que ocupam, inclusive tirando água adicional de aqüíferos e córregos circundantes. O grau no que as plantações têm um impacto sobre os recursos hídricos tem tido sérias conseqüências para as pessoas que dependem da água de córregos e rios que fluem desde a área de captação da alta estepe. Algumas pessoas, que nasceram na área antes de que as plantações chegassem, lembram quedas d'água e córregos profundos que já não existem.

Os impactos diretos estão relacionados com a apropriação das melhores terras pelas companhias de plantação. Em um país onde a maioria das pessoas não tem terras, quase 120.000 hectares da terra mais produtiva do país (a região da 'Alta Estepe' no Oeste) está ocupada por plantações madeireiras de propriedade das corporações estrangeiras. Em decorrência disso, a agricultura tradicional e a pastagem de gado foram deslocadas para áreas mais secas e escarpadas, onde os solos superficiais têm maior potencial de erosão e menor capacidade para a retenção de água e nutrientes. Um número relativamente maior de pessoas precisa subsistir agora com uma área menor de terra arável e produtiva. Esses fatores resultam em impactos conseqüentes, como por exemplo alagamento mais severo, erosão do solo, esgotamento de nutrientes do solo e assoreamento de córregos e pradarias, com a decorrente escassez de alimentos e impactos sobre a saúde.

Hoje, duas companhias sul-africanas de pasta e papel controlam a maioria dos 120.000 hectares de plantações de árvores industriais na Suazilândia. A Mondi possui 30.000 hectares de árvores de eucaliptos e pinus no norte do país, enquanto a Sappi arrenda 70.000 hectares de terras de plantação no oeste da Suazilândia. A Mondi exporta sua madeira de eucalipto para sua fábrica de pasta na Baía de Richards, a 400 quilômetros na África do Sul. O pinus vai para as serrarias locais. A Sappi possui uma fábrica de pasta que produz 220.000 toneladas de pasta cada ano, a maioria das que são exportadas para o Sueste da Ásia.

O emprego oferecido pela indústria da madeira é às vezes bem mais perigoso que os trabalhos agrícolas convencionais, incluindo o perigo de lesão dos trabalhadores e exposição a químicos tóxicos e maquinário perigoso em fábricas de pasta e serrarias, enquanto a recente tendência de terceirização como meio de aumentar a rentabilidade e reduzir o risco de ações trabalhistas resultou em salários ainda menores e piores condições de trabalho.

A poluição do ar e da água das fábricas de pasta é às vezes o objeto de queixas pelas comunidades. Apesar de que os níveis de poluição produzidos pelas serrarias são menos óbvios, o efeito cumulativo do uso de conservadores de madeira tóxicos em uma área pode ser considerável. A disposição de resíduos em córregos próximos parece ser prática comum que pode ter implicações negativas para os organismos aquáticos e comunidades humanas.

Todas as espécies de árvores geralmente usadas nas plantações são altamente invasivas. Durante muitos anos, a indústria madeireira têm permitido que suas árvores (acácia, pinus e eucaliptos) se espalhem em cursos de água, zonas úmidas e áreas escarpadas inacessíveis. Isso resulta no deslocamento de espécies naturais, principalmente através de sombreamento ou sufocação, e ainda mais destruição de hábitat através de impactos contínuos como a desidratação de córregos e zonas úmidas.

As plantações de árvores em grande escala na Suazilândia têm resultado em sérios impactos sobre as pessoas e o meio ambiente, tanto no presente quanto no passado. É difícil entender a forma na que as duas têm sido certificadas pelo Conselho de Manejo Florestal: a Mondi (20.000 hectares) e a Shiselweni Forestry Company (17.000 hectares). De acordo com seu mandato, "o Conselho de Manejo Florestal (FSC) promoverá o manejo ambientalmente apropriado, socialmente benéfico e economicamente viável das florestas do mundo". Além do fato de que essas plantações não são florestas, as constatações da pesquisa têm revelado que nem são ambientalmente apropriadas nem socialmente benéficas e que sua viabilidade econômica depende da externalização dos custos sociais e ambientais.

As plantações de monoculturas de árvores em grande escala na Suazilândia têm impactos negativos similares aos de outros lugares e não são uma exceção à regra.