Bangladesh: floresta saqueada por dinheiro

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O plantio de espécies exóticas – em especial, seringueira, acácia e eucalipto – é um dos principais fatores que mudaram para sempre a floresta de “sal” (Shorea robusta) de Modhupur, com graves conseqüências para as nações indígenas Garos e Koch, há séculos habitando a floresta.

Com verba oriunda de empréstimos, principalmente do Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB, em inglês) e do Banco Mundial, o governo está estabelecendo plantações de espécies exóticas em toda a extensão das florestas públicas. Em Bangladesh, excetuando o Sundarban, só restam fragmentos de floresta nativa.

Nos últimos tempos, também tem havido expansão das plantações de abacaxi e banana na floresta de “sal” de Modhupur, juntamente com o uso em excesso de praguicidas, inclusive, DDT e hormônio importado, para fazer com que a fruta cresça mais rápido e alcance um tamanho maior, prática que coloca um grave problema. Atualmente, a produção e comercialização de abacaxi e banana são controladas por comerciantes bengalis.

Em Bangladesh, a chamada silvicultura “social” em florestas públicas eqüivale a negócios de muito dinheiro em espécie, com empréstimos de instituições financeiras internacionais. A plantação convencional de árvores foi catalogada como silvicultura “social”, “comunitária” ou “participativa”. A terra pertence ao Departamento Florestal, a verba dos empréstimos vem do ADB, e o Departamento Florestal estabelece plantações em florestas públicas, derrubando arbustos e florestas nativas, com o argumento das espécies locais serem menos produtivas e apresentarem um crescimento lento. Moradores locais e, com freqüência, pessoas de fora são envolvidos no negócio como participantes ou beneficiários; porém, eles não têm nem voz nem voto quando da seleção de espécies, além da produção e comercialização ficarem totalmente controladas.

Segundo estatísticas de arrepiar, sobre o estado da floresta de Modhupur, divulgadas pelo Escritório Florestal de Tangail, de um total de 46 mil acres na parte da floresta de Modhupur correspondente a Tangail, 7.800 acres foram entregues para o plantio de seringueira, 1.000 acres para a Força Aérea, 25 mil acres estão em situação de posse ilegal, e o Departamento Florestal controla apenas 9 mil acres.

Em Modhupur, outrora rica em plantas medicinais, hoje é dificílimo achar espécies nativas, como, por exemplo, Ajuli (Dillenia pentagyna), Sonalu (Chuva dourada) (Cassia fistula), Jogini Chakra (Gmelina arborea) e Amloki (Emblic myrobalan).

Atualmente, o Departamento Florestal está implementando a segunda rotação de plantação de árvores para lenha no país todo, com empréstimos do ADB para o Projeto do Setor Florestal. A polêmica, o debate e o protesto gerados pela primeira rotação da plantação (iniciada em 1989-90) ainda estão vivos. O Departamento Florestal continua ignorando todos esses protestos e polêmicas em torno das plantações.

Artigo compendiado de: “Modhupur. A stolen forest, robbed Adivasis”, de Philip Gain, Society for Environment and Human Development (SEHD), enviado pelo autor, correio eletrônico: sehd@citechco.net