Chegamos mais uma vez ao mês de setembro, durante o qual fazemos, há vários anos, uma homenagem às mulheres e aos homens no mundo que lutam de diferentes formas contra as monoculturas de árvores, que querem defender seus territórios, suas florestas, para gerar vida, contrastando com a voracidade de grandes empresas e investidores que buscam essas mesmas terras para gerar lucros.
Esse dia não foi criado dentro de um escritório. Este dia surgiu num encontro que reuniu, em 2004, mulheres e homens que tiveram suas vidas diretamente afetadas pelas monoculturas de eucalipto no Brasil. Reunidos, sentiram a necessidade de criar um dia específico por ano, como mais uma ferramenta para fortalecer suas lutas de resistência e de retomada de territórios que tinham sido perdidos para o eucalipto. Desde 2004, e estimulado também por esse Dia, várias lutas de retomada de territórios e outros atos de resistência foram realizados nessa região do Brasil. O WRM resolveu tornar o Dia “internacional”, querendo com isso reforçar essas lutas em todo o mundo.
Quem conhece de perto a vida de comunidades afetadas pelas monoculturas de árvores de dendê, eucalipto, seringueira, acácia e pínus costuma entender facilmente o porquê dessas lutas de resistência. As empresas de monoculturas de árvores buscam se apropriar e controlar de todas as formas os territórios de populações, e também buscam controlar suas vidas, seus modos de vida, contribuindo muitas vezes para a desestruturação e a divisão de comunidades.
Esse avanço das plantações é um processo movido por transnacionais cada vez maiores num ritmo alucinante e aproveitando-se de “selos de certificação” que legitimam sua atuação. Um novo relatório lançado pelo WRM (1) mostra que nesses últimos 20 anos, a área de plantações no mundo quadriplicou, com o eucalipto e o dendê crescendo mais. Se não fosse a resistência das comunidades em muitos lugares e países, é provável que essa expansão fosse ainda maior.
Alertamos em especial para um novo vetor de expansão, que são as plantações de monoculturas de árvores em larga escala na América Latina, África e Ásia para gerar energia, principalmente para países na América do Norte, Europa e alguns na Ásia – os quais, em vez de reduzir e tornar mais eficiente seu consumo exorbitante de energia baseado em petróleo, gás e carvão mineral, buscam manter os níveis atuais de consumo e se abastecer com a chamada bioenergia que se baseia em matéria prima de plantações, e cada vez mais, de árvores.
Com palavras da moda como “renováveis”, “verdes” e outras mais, trata-se de uma tendência que nos remete aos tempos coloniais, de apropriação de vastos territórios de comunidades para garantir matérias primas para uma minoria da humanidade, concentrada em países do Norte. Trata-se de um ataque direto à soberania alimentar de populações inteiras, para saciar a “fome” de carros e usinas de geração de energia em países industrializados com alto consumo energético.
Neste boletim, obviamente abrimos espaço para falar de lutas contra as plantações no mundo, contra as plantações para energia, mas também contra plantações, digamos, tradicionais, como para celulose, por exemplo, que também não param de crescer. Afinal das contas, para as comunidades que vivem os impactos das plantações no dia-dia, pouco importa o uso que se faça dessas plantações. O que importa para elas é garantir e recuperar seus territórios, sendo o desejo que talvez elas mais compartilhem e que buscamos reforçar, em especial nesse Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas.
(1) “Um panorama das plantações industriais de árvores no Sul global. Conflitos, tendências e lutas de resistência”, http://www.ejolt.org/wordpress/wp-content/uploads/2012/09/EJOLT3-POR-low.pdf