A Asia Pulp and Paper (APP) é uma das empresas papeleiras mais polêmicas e destrutivas do planeta. A empresa já clareou vastas áreas de florestas tropicais para abastecer sua fábrica de celulose de dois milhões de toneladas ao ano em Sumatra, Indonésia.
A APP está em constante expansão. Em setembro de 2007, o Vietnam Investment Review informou que a APP estava considerando a construção de uma fábrica de dois milhões de toneladas anuais de celulose no Vietnã. Apesar de esse plano não ter progredido até agora, parece que a APP está entrando no Vietnã através de uma empresa chamada Green Elite.
A Green Elite apareceu primeiramente no Camboja em março de 2004, quando começou a cortar as florestas de mangues e melaleuca dentro do Parque Nacional Botum Sokor. Mesmo que a concessão da plantação de acácias de 18.300 hectares tenha sido ilegal, já que estava dentro de um parque nacional, a empresa conseguiu clarear várias centenas de hectares e começou a construção de uma fábrica de lascas de madeira.
Finalmente, o ministério do Meio ambiente ameaçou a Green Elite com uma ação legal de US$ 1 milhão por danos e reparações. Apesar de o processo ter sido posteriormente abandonado, fez pelo menos que a Green Elite saísse do parque nacional.
Ao que parece, a Green Elite tem vínculos estreitos com a Asia Pulp and Paper. Em setembro de 2004, o Cambodia Daily informou que milhares de mudas de acácia tinham sido importadas da Arara Abadi, que faz parte da empresa matriz- o Grupo Sinar Mas. O Cambodia Daily falou com ex-empregados da Arara Abadi que nesse momento estavam trabalhando para a Green Elite. Um deles, Frankie Ng, referiu-se à Arara Abadi e à “filiada” da Green Elite.
Outra confirmação do vínculo entre a APP e a Green Elite veio à tona em janeiro de 2005, quando Jeff Hayward da SmartWood escreveu a ONGs em Phnom Penh. Hayward explicou que a Smartwood “tinha sido contatada pela APP para desenvolver uma avaliação independente da área de concessão em Botum Sakor que a subsidiária Green Elite e o grupo administrador Green Rich Ltd visavam transformar em plantações.”
No dia 21 de janeiro de 2005, a APP apresentou uma declaração que negava qualquer envolvimento: “Nem a APP China nem o grupo APP têm qualquer participação ou interesse na Green Elite ou no Green Rich.” O que fica bem claro, apesar da estrutura labiríntica do Grupo Sinar Mas, é que a declaração não descarta de fato uma ligação entre a APP e a Green Elite.
Desde que começou a exploração no Camboja, a Green Elite já avançou a fronteira com o Vietnã. No dia 30 de maio, conforme o VietNamNet, a Green Elite solicitou às autoridades provinciais de Nghe Na uma licença pra estabelecer plantações. Em poucos dias, as autoridades outorgaram à companhia um certificado de investimento por 70.000 hectares de plantações. Uma subsidiária da Green Elite, a InnovGreen Nghe An, deve implementar o projeto.
As plantações na província de Nghe An fazem parte dos planos da Innov Green sediada em Hong Kong para plantar um total de 349.000 hectares em seis províncias do Vietnã. As terras seriam arrendadas à InnovGreen por um período de 50 anos.
Apesar de ter sido plantada até agora só uma pequena área do total planejado, o VietNamNet informa que as plantações da InnovGreen já estão causando sérios problemas para as comunidades locais.
Lo Van Tho, líder da comuna de Cam Muon, disse ao VietNamNet que, “nós não recebemos nenhum benefício dessa empresa e eles não tem nenhum compromisso ou contrato com a comuna de Cam Muon”. No entanto 300 famílias da comuna entregaram suas terras à InnovGree. O repórter do VietNamNet visitou o povoado de Huoi May, que abriga 39 famílias pertencentes do grupo indígena Kho Um. “A Innov Green tomou conta de nossas terras,” disse Vi Van Que, líder da equipe de produção do povoado. “Se eles não nos compensarem, vamos morrer de fome. Isso é um fato, estamos esperando a morte!”
Em Quang Ninh, o VietNamNet falou com Tang A Tai no povoado de Ban Danh. “Se eles arrendarem todas as terras florestais para plantar eucaliptos, onde irá morar minha família?” ele perguntou.
La Van Vi, secretário da divisão jovem da comuna de Ha Lau, disse que, “Muitas coisas irão mudar em 50 anos, mas uma coisa é certa: sem terras florestais, nós iremos morrer de fome!”
Dong Sy Nguyen parece ser alguém improvável para protestar contra as plantações industriais de árvores. Ele é um tenente geral reformado, ex membro do gabinete ministerial e membro do Politburo- Partido Comunista do Vietnã. De 1992 a 1998, o general Nguyen esteve encarregado de implementar o Programa 327, que visava o esverdeamento das estéreis colinas do Vietnã. Infelizmente o “esverdeamento” consistia principalmente em monoculturas de acácias e eucaliptos.
Mas em janeiro de 2010, o general Nguyen escreveu ao Primeiro Ministro do Vietnã, Nguyen Tan Dung, para expressar sua preocupação sobre o arrendamento de terras florestais a investidores estrangeiros.
No dia 10 de março de 2010, o Primeiro Ministro instruiu os governos locais para não permitirem nenhum outro projeto até o Ministro da Agricultura e o Desenvolvimento Rural (MARD) concluir as pesquisas nessa questão.
Em uma interessante entrevista para o VietNamNet, o general Nguyen explicou o problema central que enfrentam os proponentes das plantações industriais de árvores no Vietnã: a terra já está em uso. “Algumas províncias disseram que arrendaram as terras aos estrangeiros porque as terras não tinham sido usadas durante anos,” disse Nguyen. “É uma irresponsabilidade! Quando eu implementei o projeto 327, percebi claramente que nosso povo sempre precisa da terra.”
Nem eu mesmo poderia tê-lo dito melhor. Mas resta ver se o governo vietnamita ouvirá as falsas promessas da InnovGreen quanto a empregos e desenvolvimento ou a voz do General Nguyen e das comunidades locais.
Por Chris Lang, http://chrislang.org
Um relatório recente, de Ernesto Cavallo em Hanoi: “Farmers’ Forests and Crop Land for Wood Pulp Factories? – The mean business practices of InnovGreen in Vietnam” está disponível em inglês em http://bit.ly/btxBCQ, e em vietnamês em:http://bit.ly/br5T3N