Depois do estrepitoso e anunciado fracasso da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança Climática celebrada em Copenhague em dezembro de 2009, o presidente da Bolívia, Evo Morales, tomou a iniciativa de convocar outro tipo de cimeira à procura de soluções. Trata-se da Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, que será realizada na cidade boliviana de Cochabamba, de 19 a 22 de abril de 2010 (HTTP://cmpcc.org/).
Calcula-se que irão participar umas 10.000 pessoas, em grande medida integrantes de organizações e movimentos sociais, mas também haverá delegações oficiais de países do mundo todo.
Foram instrumentados 17 grupos de trabalho dos quais é possível participar de forma presencial e/ ou virtual. Alguns se referem a temas clássicos, como “Florestas”, “Adaptação”, “Protocolo de Kyoto”, “Financiamento”. Mas também há outros assuntos que traduzem, sem dúvidas, a intenção de conduzir as soluções para o problema da mudança climática por uma trilha diferente da transitada até agora na Convenção sobre a Mudança Climática. São assuntos tais como: “Perigos do mercado de carbono”, “Dívida climática, “Tribunal de Justiça Climática”, “Referendum Mudança Climática”, “Direitos da Mãe Terra”, “Causas estruturais”.
Por outra parte, há uma longa lista de eventos autogestionados que revela uma grande diversidade de abordagens enfrentadas. Lá também há enfoques críticos aos interesses que estão por trás da mercantilização da natureza, como ocorre com as florestas em mecanismos como REDD, e aqueles que afirmam que estamos diante de uma crise de civilização e que é preciso buscar paradigmas alternativos, reivindicando a importância da agricultura camponesa e da soberania alimentar como respostas à mudança climática, com uma participação muito ativa da mulher como agente de propostas e mudança- em organizações como a Passeata Mundial de Mulheres, GenderCC, Confederação Nacional de Mulheres Camponesas e Indígenas da Bolívia, Rede Feminismo Comunitário, Movimento de Mulheres Camponesas, Associação Nacional de Mulheres Rurais e Indígenas (ANAMURI), por citar algumas.
Esta cimeira dos povos abre a possibilidade de que outras vozes e outras propostas, silenciadas nos eventos oficiais, ressoem com maior força. As recentes negociações de abril da Convenção sobre a Mudança climática celebradas em Bonn concordaram em que o novo texto de negociação que está em discussão levasse em consideração as propostas que se apresentarem até o dia 26 de abril de 2010. Isso significa que haveria tempo de incluir aquelas que surgirem da Conferência dos Povos.
Esta conferencia será um encontro popular em um país latino-americano cujo povo indígena tem sido sangrado e despojado durante mais de 500 anos de colonialismo, neocolonialismo e neoliberalismo, mas que também soube dar e ganhar uma batalha incrível pela água e por sua dignidade, e que colocou no governo o primeiro presidente indígena do continente. É um lugar significativo para transformar esta crise climática em que estamos submersos por causa do modelo de civilização ocidental imperante em uma oportunidade de mudança. Uma mudança que nos devolva a nossas raízes, à harmonia com a Mãe Terra e entre os irmãos e irmãs que habitamos nela.