A Green Resources Tanzania Limited (GRL) está projetando uma imagem de uma empresa líder na África Oriental. Ela afirma oferecer soluções para as mudanças climáticas por meio do plantio de monoculturas de árvores. Essa afirmação errada e enganosa esconde a realidade concreta. A GRL está causando concentração de terras, desmatamento, destruição de pastagens e muitos prejuízos sociais.
Meu nome é Frank Luvanda, nascido, criado e residente na Tanzânia. Eu trabalho na Fundação SUHODE, uma ONG pequena, mas com forte atuação em vários problemas ambientais e sociais enfrentados pelas comunidades locais neste país. Este artigo é uma oportunidade de denunciar ao resto do mundo os perigos e males causados pelas empresas de monoculturas de árvores na Tanzânia, principalmente a Green Resources Tanzania Limited.
A Green Resources é a maior empresa de plantação de árvores do país, e também da África Oriental. Na Tanzania, controla uma área de cerca de 38 mil hectares. É uma empresa norueguesa, controlada pela Norfund, a instituição de desenvolvimento do governo da Noruega, e pelo Finnfund, o braço de investimento do governo finlandês. Além da Tanzânia, a empresa possui plantações de árvores em Moçambique e Uganda.
Discursos e mentiras
Nos últimos anos, muitas comunidades na Tanzânia têm enfrentado dificuldades causadas pelas mudanças climáticas, como aumento das temperaturas, surgimento de novas doenças para plantas e seres humanos, enchentes excessivas, longas temporadas de seca, regimes de chuva imprevisíveis, aumento de eventos agressivos, elevação do nível do mar, inundação de ilhas menores, entre outros. Esses impactos das mudanças climáticas trazem outras dificuldades, como insegurança alimentar, expansão dos desertos, perda da quantidade e da qualidade da água, perda de biodiversidade em diversos ecossistemas, entre outros. E todos esses desafios afetam em muito as comunidades locais, principalmente as que dependem de suas terras para produzir alimentos para seu próprio consumo e para vender em suas respectivas localidades.
Para além desse contexto de dificuldades, algumas empresas multinacionais e financiadores propuseram as chamadas soluções para mitigar a mudança climática, insistindo na expansão das plantações de monoculturas de árvores, principalmente em países do Sul global. Depois de muitos anos testemunhando como são essas plantações nos territórios e para as comunidades que vivem dentro e ao redor dessas monoculturas, posso dizer com segurança que as plantações de monoculturas industriais NÃO são uma solução para mitigar os impactos negativos das mudanças climáticas. A única solução possível é deixar os combustíveis fósseis no subsolo.
A Green Resources Tanzania Limited (GRL) está se destacando na Tanzânia como líder entre outras empresas de monocultura de árvores que operam na África Oriental. Ela diz que oferece soluções para os impactos negativos das mudanças climáticas por meio do sequestro de carbono com o plantio de muitos hectares de monoculturas árvores!
Essa afirmação equivocada e enganosa esconde a realidade concreta. Ao plantar milhares de hectares com eucaliptos e pinus, a GRL está, na verdade, causando muitas dificuldades às comunidades locais e afetando o meio ambiente como um todo através de concentração de terras, desmatamento, destruição de ecossistemas de pastagens, e contribuição para a perda de biodiversidade.
Recursos verdes no terreno na Tanzânia
Recentemente, eu visitei doze pequenas vilas afetadas pelas plantações da GRL: Mapanda, Kihanga, Nzivi, Idete, Mninga, Taweta, Uchindile, Ukami, Mgugwe, Mnyela, Chogo e Igowole. Ficou claro que muitas delas enfrentam problemas graves, a maioria causada pela apropriação de terras e recursos pela GRL.
As comunidades da vila de Idete estão enfrentando escassez de terras porque a GRL se apropriou de grande parte da área para suas plantações.
A GRL chegou a Idete em 1996 e adquiriu 5.665 hectares, uma área conhecida pelas comunidades como Fazenda 900, com total consentimento das comunidades locais. Poucos anos depois, a empresa adquiriu outros 4.856 hectares, área conhecida localmente como Fazenda 901. As comunidades locais e o atual governo local de Idete afirmam não entender como essa outra área foi entregue à empresa, pois não houve consulta e, portanto, a aquisição deve ter sido ilegal. Na perspectiva das comunidades, a posse da Fazenda 901 pela GRL é uma apropriação desonesta de suas terras férteis, que tem causado muito sofrimento porque as terras que sobraram para elas são insuficientes. De acordo com muitas vozes da comunidade, “a área da Fazenda 901 era a terra fértil da comunidade local para seus usos atuais e futuros, mas agora está com a GRL ilegalmente!”
Como resultado, as pessoas estão morrendo de fome devido à falta de terras para plantar, criar gado e outras atividades sociais e econômicas. Os conflitos de terra entre as comunidades de Idete estão aumentando, pois as pessoas competem e lutam por áreas menores. Para escapar disso, algumas comunidades optaram por se mudar e começar uma nova vida dentro das florestas ao longo do caminho para Makambako. Assim, para sua sobrevivência, tiveram que desmatar essas áreas, que são conhecidas como florestas de Miombo. Outros membros da comunidade decidiram retornar à Fazenda 901 para continuar cultivando, alegando que a GRL não os consultou e nem os indenizou, e que estão prontos para lutar por suas terras! Muitos outros estão começando a ganhar coragem para entrar na Fazenda 901, para que suas vozes e suas reivindicações pela devolução da terra que lhes foi confiscada possam ser ouvidas.
Outro perigo nas operações da GRL na Tanzânia está claramente visível na vila de Ukami. Lá, a GRL adquiriu 3.400 hectares de terras fazendo, como de costume, muitas promessas, como a construção de uma sede para o governo local, salas de aula, instalações de saúde e a criação de empregos para as comunidades. A maioria dessas promessas não foi totalmente cumprida. O atual governo local ainda não consegue entender qual foi a base para o governo anterior ter oferecido uma área tão grande sem reservar alguma terra para as comunidades realizarem suas atividades socioeconômicas. Eles suspeitam que a corrupção pode ter ajudado a GRL a adquirir quase todas as terras da vila de Ukami.
As comunidades locais começaram uma campanha para exigir a devolução de suas terras, o que requer assessoria jurídica de organizações que apoiam as comunidades em suas lutas contra as empresas de monoculturas. Atualmente, a vila de Ukami enfrenta muitas dificuldades graves para sobreviver. A terra é extremamente insuficiente para atividades agrícolas e até mesmo para necessidades sociais, como cemitérios, assentamentos, entre outros. Existem muitos conflitos de terra, assim como insegurança alimentar e desnutrição infantil. A equipe do SUHODE lhes perguntou o que achavam que seria a solução para a sua situação, e a sua resposta foi: “reivindicar a devolução de parte ou de toda a terra”.
Em resumo, das 12 aldeias que visitamos, apenas Chogo, Igowole e Nzivi estão de alguma forma protegidas das dificuldades mais graves causadas pela GRL. A razão para isso é que, nessas três aldeias, ainda há terra suficiente disponível. A aldeia de Chogo ainda tem muita terra que eles disseram que nem cogitariam dar à GRL. É a mesma posição de Nzivi e Igowole. (1) Infelizmente, a população nas outras vilas está sofrendo muito, enfrentando escassez de terras, aumentando os conflitos entre os membros da comunidade local enquanto competem e lutam pela terra, promessas não cumpridas pela GRL, índices crescentes de HIV/AIDS, insegurança alimentar, aumento dos níveis de pobreza, visto que a maior parte das suas atividades econômicas depende da disponibilidade de terras.
Aproveito esta oportunidade para solicitar e apelar às pessoas e organizações que compartilham nossa visão e nosso pensamento sobre os impactos destrutivos das plantações de monoculturas industriais de árvores a trabalhar juntas para apoiar lutas e movimentos comunitários contra a expansão dessas plantações na Tanzânia e em outras partes do mundo!
Especificamente, pedimos aos cidadãos e organizações noruegueses e finlandeses que nos ajudem a interromper o investimento destrutivo que seus governos estão promovendo em nossos países!