Começa um ano novo. Mas a mudança no calendário não implica necessariamente uma mudança no acirramento dos processos de dominação e destruição que motivam as lutas e a resistência de numerosos povos e comunidades, bem como das organizações sociais que os acompanham.
Não obstante, é um momento simbólico para fazer uma parada, olhar para trás e para a frente, juntar forças, tremular bandeiras, ter esperanças.
Ao olhar, o que se vê é que os processos diretos e indiretos causadores do desmatamento têm a mesma raiz que os que atingem os direitos de comunidades indígenas e camponesas sobre seus territórios. Na privatização dos rios pela construção das mega-represas, encontramos os mesmos fatores que estão por trás da mineração em grande escala, que também expulsa comunidades e altera ecossistemas. E assim seguimos com a longa lista de atividades extrativas: petróleo e poluição, fazendas de camarão e destruição de manguezais, expansão de monocultivos industriais e perda da soberania alimentar. Atrás de tudo isso, estão os novos reis “Midas” do capitalismo neoliberal e globalizante, as grandes transnacionais que querem converter tudo o que tocam em ouro – em sua versão moderna de mercadoria e ativos financeiros –, e que nos submetem, como na referida história, ao risco de nos deixar sem alimentos, ocupando os territórios para seus monocultivos em grande escala.
Mas, no horizonte, também vemos que, assim como os problemas se somam, as lutas devem se somar: os indígenas, por suas florestas e sua identidade; os camponeses e camponesas, por suas terras e sementes; as mulheres, as minorias discriminadas, os povos desalojados, as maiorias exploradas, na defesa das florestas, dos campos, das montanhas, das planícies, dos rios, dos mares – todo esse conjunto, e mais, que sofrem cada vez que o mundo globalizado liga seus motores, acende suas chaminés, manipula os gens, põe a mesa.
Será necessário seguir no caminho, alertando, apoiando uns aos outros, para enfrentar as sucessivas crises, a instabilidade, a incerteza. Será necessário seguir trabalhando na construção, entre todos e todas, de mundos solidários e amorosos. Os povos, as comunidades, as pessoas organizadas têm essa tarefa pela frente. E ela é bonita. Por isso, cabe dizer Feliz Ano Novo.