Nos Estados Unidos, o Departamento (Ministério) de Agricultura (USDA), que supervisiona a aprovação e liberação de transgênicos nos país, começou recentemente o processo de legalização do lançamento da primeira árvore florestal transgênica – um híbrido de eucalipto geneticamente modificado para ser tolerante ao congelamento. Contudo, o impacto não vai se dar apenas sobre florestas e comunidades daquele país, mas em todo o mundo.
O USDA tem tido uma conexão direta com a infame gigante dos transgênicos, a Monsanto, já que muitos funcionários do USDA já trabalharam para a empresa. Como resultado, o órgão nunca rejeitou a aprovação de uma planta transgênica solicitada pela indústria.
Em janeiro de 2011, a empresa de árvores transgênicas ArborGen pediu permissão ao USDA para vender bilhões de clones de eucalipto geneticamente modificados tolerantes ao congelamento, para vastas plantações nos estados de Carolina do Sul, Geórgia, Flórida, Alabama, Mississippi, Louisiana e Texas.
A ArborGen também tem muitos funcionários que vêm de Monsanto. Sua ex-diretora-executiva, Barbara Wells, foi chefe da Divisão de soja geneticamente modificada Roundup Ready da Monsanto no Brasil, há 18 anos.
O USDA começou recentemente a aceitar comentários públicos a um Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) sobre o pedido da ArborGen para lançar comercialmente árvores de eucalipto transgênico. Esta é a primeira vez que o USDA prepara um RIMA completo sobre uma planta transgênica sem ser forçado a isso por uma ação judicial. Isso indica que o USDA sabe que os eucaliptos transgênicos terão impactos significativos e perigosos sobre o meio ambiente.
Mas esse relatório de impacto ambiental também é o primeiro passo do processo do USDA para aprovar árvores transgênicas de eucalipto.
Bombinhas vivas
O eucalipto já está documentado como espécie invasora na Califórnia e na Flórida. A ArborGen os modificou para ser tolerantes ao congelamento, permitindo que sobrevivam a temperaturas de até 9 °C – ampliando consideravelmente a área que poderiam invadir. Devido à natureza invasiva, o jornal The Charlotte Observeros chamou de “o kudzu da década de 2010”. Kudzu é a infame trepadeira que foi introduzida nos Estados Unidos em 1876 e já cobriu três milhões de hectares de terra nos mesmos estados onde as plantações de árvores transgênicas estão planejadas. Ela cobre completamente a paisagem, sufocando a vegetação existente e engolindo todas as estruturas em seu caminho.
Mas há uma diferença importante entre eucaliptos invasivos e trepadeiras kudzu invasivas. As árvores de eucalipto são altamente inflamáveis. Elas foram chamadas de “bombinhas vivas” devido a sua inflamabilidade explosiva em condições secas.
Um catastrófico incêndio de eucaliptos, na Austrália, em 2009, avançou a velocidades acima de 100 quilômetros por hora e matou 200 pessoas.
As plantações de eucalipto esgotam a água do solo e podem até piorar as secas. O Serviço Florestal dos Estados Unidos ressalta que os eucaliptos transgênicos vão usar duas vezes mais água do que as florestas nativas.
Desertos verdes
Os eucaliptos transgênicos não nativos não proporcionam habitat para animais selvagens. Espécies ameaçadas e em perigo de extinção poderão se extinguir se forem desenvolvidos milhões de hectares de plantações de eucalipto transgênico.
No Brasil, as plantações de eucalipto são chamadas de “desertos verdes” porque devastam a biodiversidade.
Os eucaliptos transgênicos ainda não estão legalizados. Podemos interromper esta catástrofe ambiental irreversível antes que ela ocorra, mas precisamos agir imediatamente.
Porém, essas árvores Frankenstein não são apenas uma ameaça para os Estados Unidos. Se forem aperfeiçoados aqui, os eucaliptos transgênicos podem ser exportados para todo o mundo. Como são tolerantes ao congelamento, poderiam crescer onde o eucalipto convencional não pode. Assim, o desastre de plantações de eucalipto pode se espalhar ainda mais ao norte, ao sul e a altitudes mais elevadas – a ecossistemas e comunidades anteriormente não atingidos pelo desastre das plantações de eucalipto.
Por que eucalipto transgênico? Nos Estados Unidos, a principal razão para o desenvolvimento do eucalipto transgênico é a biomassa, ou seja, para queimá-los e produzir eletricidade. Alguns também serão digeridos para fazer biocombustíveis líquidos. A empresa-matriz da ArborGen, a Rubicon, projeta vendas de meio bilhão de mudas de eucalipto transgênico a cada ano para plantações de bioenergia em todo o sul dos Estados Unidos.
No Reino Unido, as usinas a carvão estão sendo convertidas para queimar madeira. Grande parte da madeira que elas vão queimar será importada dos Estados Unidos e de outros países. Florestas e comunidades estão sendo ameaçadas por esquemas voltados a transformar a madeira em eletricidade, tendo como pretexto a “energia renovável”.
Mas a demanda rapidamente crescente pela chamada “bioenergia” já está impulsionando uma imensa concentração global de terras à medida que as comunidades são expulsas de suas terras para dar lugar a plantações de dendê, pinhão manso, soja ou outras monoculturas. Acrescentando-se plantações de eucalipto transgênico para fazer bioenergia à base de madeira, essa concentração só irá se intensificar, ameaçando algumas das últimas florestas e comunidades dependentes da floresta. Ela deve ser interrompida.
Neste mês de maio, estaremos enfrentando a indústria de árvores transgênicas na Tree Biotechnology 2013 Conference, em Asheville, Carolina do Norte, no final do mês. Este é um encontro bianual global de pesquisadores, representantes da indústria e estudantes que se reúnem para promover a biotecnologia em árvores. Estamos organizando uma série de protestos, oficinas, entrevistas coletivas e outros eventos para conscientizar amplamente a opinião pública sobre os perigos de árvores transgênicas e lembrar aos pesquisadores de que há oposição pública generalizada a suas perigosas pesquisas.
Para saber mais sobre a campanha e assinar como organização o nosso apelo por uma proibição global da liberação de árvores transgênicas no meio ambiente, acesse: http://nogetrees.org
Anne Petermann, Global Justice Ecology Project, globalecology@gmavt.net, http://globaljusticeecology.org
Veja também os comentaríos enviados pelo WRM às autoridades americanas para não liberar o eucalipto transgênico tolerante ao congelamento (veja http://www.wrm.org.uy/subjects/GMTrees/
Comment_by_the_WRM_on_the_Petition_ArborGenhtml.html)