Ao longo do rio Congo na República Democrática do Congo, o projeto da hidrelétrica Inga abrange uma série de usinas; sendo que duas delas já estão construídas- a Inga I e a Inga II- e outras duas estão em andamento- a Inga III e a Inga Grande (vide Boletins 138 e 77 do WRM).
A Inga III está sendo desenvolvida pelo consórcio Westcor e consiste no desvio de energia hidráulica através de um sistema de túneis que produzem 3.500 MW de eletricidade com um custo total de 8 bilhões de dólares. A Inga Grande inclui a citada Inga 3. O projeto do Banco Mundial de US$80 bilhões é o maior plano em hidrelétricas do mundo e poderia produzir acima de 39.000 MW de eletricidade, mais do dobro da geração da hidrelétrica de Três Gargantas na China e mais de um terço da eletricidade total atualmente produzida na África toda.
Apesar desse gigantesco fornecimento de energia não há nenhum plano para abastecer de eletricidade aos lares congoleses em um país onde aproximadamente 62 milhões de pessoas- 94% da população- não têm acesso à eletricidade e a interrupção diária de energia assedia os poucos que estão conectados à energia dilapidada pela do estado.
A Inga III foi desenhada a fim de produzir eletricidade para ser exportada a indústrias e consumidores urbanos da África do Sul e outros países vizinhos, e atrair ao país indústrias que fazem uso intensivo de energia.
A respeito da Inga Grande, a International Rivers Network (IRN) informa que “a gigante mineradora BHO Billiton tentou apropriar-se do projeto oferecendo ao governo da RDC um acordo mais sedutor. Billiton iria usar a energia da Inga 3 para alimentar uma fundição com uma produção de 800.000 toneladas de alumínio ao ano” o que consumiria 2.500 MW de eletricidade, mais do que o atual abastecimento de energia da RDC inteira.
Isso confirma a preocupação de que seriam empresas estrangeiras as que irão obter altos benefícios econômicos em decorrência do mega- projeto Inga, e não a vasta maioria da população congolesa.
Recentemente, 14 organizações internacionais e africanas encaminharam uma carta ao presidente da BHP Billiton exortando à corporação a impor uma moratória no projeto até o governo congolês cumprir seu compromisso de levar eletricidade a todos seus cidadãos.
As barragens Inga Grande e a Inga III ameaçam muitas pessoas que irão perder suas terras agrícolas e seu sustento em decorrência da construção dessas barragens. O Vale Bundi ficará inundado enquanto as trilhas para as linhas de transmissão irão implicar desmatamento de longas faixas da segunda maior floresta tropical do mundo que têm um papel crucial no ecossistema global e no equilíbrio climático. O rio Congo, que é o segundo mais rico da terra em diversidade de peixes, irá ser afetado pela construção das represas e turbinas que levarão à perda de populações de peixes e à destruição de ecossistemas no rio.
Como se isso não bastasse, o projeto Inga Grande está sendo vendido como energia “limpa e inócua para o ambiente” que pode compensar emissões de carbono em outros lugares “ao aproveitar a energia hidráulica mediante uma usina ‘de passagem’, sem que isso implique a construção de diques no rio. Como tal poderia ganhar um impulso do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).
De fato, os projetos de barragens em longa escala não são pensados para atender as necessidades das pessoas nem muito menos do ambiente. Estão desenhadas para satisfazer as necessidades dos grandes negócios e das grandes indústrias que produzem de forma insustentável para mercados insustentáveis.
Artigo baseado em informações obtidas de: “Africa action at the United States Social Forum”, http://www.africaaction.org/1/category/d2d/1.html; Grand Inga Dam, DR Congo, International Rivers Network, http://www.internationalrivers.org/es/africa/grand-inga-dam; Information on the Inga Projects, World Energy Council,http://www.worldenergy.org/documents/annex_3__information_on_inga_projects.pdf