Em circunstâncias tão trágicas como a que está sofrendo o povo haitiano, resulta bem difícil pensar e falar em qualquer outra coisa. Mas pensar- antes de falar- é algo que está incrivelmente ausente nas informações diárias que recebemos a respeito da crise nesse país.
O mundo inteiro vem sendo bombardeado com “notícias” fornecidas por um exército de jornalistas que concorrem entre eles para ver quem divulga o "melhor" artigo ou vídeo ou áudio de horror sobre o sofrimento de inúmeras pessoas.
Parece que cada jornalista se sinta obrigado a nos informar que o Haiti é “um dos países mais pobres do mundo”, embora ninguém pareça compelido a dizer-nos como isso aconteceu. Assim como acontece com o terremoto, a pobreza pareceria ser um “fenômeno da natureza”.
Nro 150 – Janeiro 2010
NOSSO PONTO DE VISTA
COMUNIDADES E FLORESTAS
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30 Janeiro 2010As colinas de Chittagong (CHT) no sudeste do Bangladesh limitando com a Birmânia são uma das últimas regiões florestais que restam no país, e são as terras ancestrais de uma dúzia de comunidades indígenas, chamadas conjuntamente de povos Jumma (de “jum” = cultura migratória). Esses povos têm identidades étnicas, lingüísticas e religiosas totalmente diferentes da maioria muçulmana bengali. Sob controle britânico, a região foi autônoma, em grande parte inacessível para os de fora e quase exclusivamente habitada por povos indígenas. Esse estado especial foi gradativamente erodido após ter sido incluída no Paquistão Leste em 1947.
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30 Janeiro 2010O Acordo de Copenhague- o consenso alcançado por um grupo de países na Cimeira da Mudança Climática de Copenhague e imposto aos demais- foi definido por Praful Bidwai do Instituto Transnacional como “uma paródia do que o mundo precisa para evitar a mudança climática”: O objetivo de aumento de dois graus Celsius na temperatura global está 0,5 grau abaixo do objetivo aceito pela maior parte das nações da ONU; os países pobres são levados principalmente a valer-se por si mesmos em termos de adaptação à mudança climática; e com o decorrer do tempo, as violações do Acordo de Copenhague não teriam conseqüências significativas.
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30 Janeiro 2010Os Penan têm vivido nas florestas tropicais de Sarawak desde tempos imemoriais. Eles costumavam caçar e coletar alimentos da floresta e viviam a base de sagu, uma fécula extraída da medula dos caules da palmeira sagu, até a década de 1950, quando decidiram se estabelecer em aldeias onde vivem hoje em dia. (1)
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30 Janeiro 2010O povo Naso, também conhecido como Teribe, ou Tjer-di, habita no nordeste do Panamá, na província de Bocas del Toro, em um território de 1.300 km2 que abrange grande parte da bacia do rio Teribe e do rio San San. Este grupo indígena, que historicamente se defendeu dos colonizadores e que já estava nessas terras quando chegaram os primeiros conquistadores espanhóis à região, continua praticando a agricultura e a pescaria de subsistência em estreita ligação com a natureza que o circunda e providencia alimento, abrigo, saúde, ocupação e lazer.
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30 Janeiro 2010A floresta não se vende! A floresta se defende! É o clamor no distrito de Barranquita, província de Lamas, região San Martín. Os habitantes dos casarios da bacia do rio Caynarachi, na Amazônia peruana, tiveram seus direitos vulnerados em relação à propriedade sobre a terra que trabalham. Eles têm sido verdadeiros custódios da floresta, tomando conta em suas próprias parcelas da enorme riqueza de flora, fauna e recursos hídricos da floresta.
COMUNIDADES E MONOCULTURAS DE ÁRVORES
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30 Janeiro 2010Como pondera o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves, modelos econômicos pautados em atividades monoculturais serão sempre incompatíveis com o meio ambiente sadio e equilibrado. Qualquer monocultivo em escala industrial, em especial o afeto ao plantio de milhões de árvores clonadas de eucalipto, é incompatível com o propalado desenvolvimento sustentável.
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30 Janeiro 2010No setor florestal da Indonésia há duas realidades. Em uma delas, as florestas continuam sendo destruídas, as turfeiras são dessecadas, as florestas são clareadas, queimadas e substituídas por plantações industriais de árvores. Os direitos dos Povos Indígenas e das comunidades locais são derrubados junto com as florestas. Enquanto isso, na outra realidade, são plantadas árvores, são restauradas as florestas e as emissões de gases de efeito estufa logo irão tornar-se uma coisa do passado.
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30 Janeiro 2010No Norte de Moçambique, em várias províncias, empresas plantadoras de pinus e eucalipto avançam sobre terras que pertencem a comunidades de famílias camponesas. Trata-se de um processo relativamente recente, incentivado pelo governo moçambicano que vê nas plantações de monoculturas de árvores um instrumento de fomentar o desenvolvimento e o progresso, sobretudo nas regiões mais distantes como a Província de Niassa. É nesta província que se concentram os principais incentivos para a monocultura de árvores, sendo que é a província mais distante do capital Maputo, com a maior superfície entre todas as dez províncias do país e, ao mesmo tempo, com a menor população. E muito importante para as empresas: a província dispõe de muitas terras planas e férteis.
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30 Janeiro 2010As florestas não são as únicas paisagens que estão sendo invadidas pelas plantações de árvores. As biologicamente diversas pradarias nativas da África do Sul estão sendo rapidamente substituídas por monoculturas que requerem muita água, incluindo o eucalipto e o pinus tropical – árvores usadas para exportações de pasta de papel. Estamos parados no God’s Window, um mirante popular na borda da escarpa Drakensberg no nordeste da África do Sul. Embaixo de nós, um precipício de 700 metros se mergulha em um escuro mar de folhagem. Milha trás milha de floresta se abre na frente o caminho todo para o Parque Nacional de Kruger na fronteira com Moçambique.
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30 Janeiro 2010Em todos os cantos do mundo onde são instaladas monoculturas de árvores em grande escala, a implantação é precedida de um conjunto de promessas que servem para enganar a população local. Poucos anos depois de serem estabelecidas começa a ser constatado que as promessas não se cumprem e que a situação inclusive piora. Mas já é tarde demais. As empresas tomaram posse do território e implantaram suas plantações.
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30 Janeiro 2010A denominação “florestas plantadas” é um termo cunhado pela FAO com o objetivo de equiparar as culturas florestais às florestas que gradativamente tem ido se espalhando e assimilando por inúmeros organismos internacionais e nacionais, fato que foi aproveitado pelas multinacionais do setor florestal para incidir nessa equiparação, tal como ficou demonstrado no último Congresso Florestal Mundial celebrado no mês de outubro de 2009 na Argentina.