O Fórum Social Mundial não é um espaço para sonharmos mas um lugar para compartilharmos idéias sobre como concretizar em realidade uma aspiração de nós todos. A mensagem é clara: outro mundo É possível. Qual mundo? Um mundo onde prevalece a justiça social, onde a paz é uma realidade, onde a natureza é respeitada, onde as pessoas interagem como iguais.
Como chegamos lá? Esta é outra questão, cuja resposta nós- todos nós juntos- estamos tentando encontrar. Porém, já existem muitas idéias concretas em áreas específicas, pelo menos quanto à direção na que deveríamos avançar. Todas essas idéias têm algo em comum: dependem de pessoas que estão cientes dos problemas, concordam nas soluções e se organizam para impulsionar as mudanças.
Boletim Nro 91 - Fevereiro 2005
O Fórum Social Mundial
O TEMA CENTRAL DESTE BOLETIM: O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Cerca de 155 mil participantes provindos de 135 países se reuniram no Fórum Social Mundial (WSF) de 26 a 31 de janeiro em Porto Alegre, Brasil. Sob um ardente sol, milhares de pessoas entravam e saíam das centenas de barracas diferentes espalhadas pelo longo cinturão costeiro do Rio Guaiba. Tão diversas foram as barracas quanto os tópicos tratados no Fórum. Nesse contexto, o Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, trabalhando em parceria com outros movimentos sociais e organizações, organizou muitos eventos e participou de outras atividades relevantes que ocorreram em Porto Alegre. Alguns desses eventos e atividades estão considerados neste boletim que está dividido em duas seções principais. A primeira seção focaliza as atividades deenvolvidas com o intuito de avançar para um mundo novo e relacionadas com as áreas principais que interessam ao WRM: florestas, comunidades florestais, plantações e clima. A segunda seção está centrada nas plantações de monoculturas de árvores e fábricas de polpa em grande escala como símbolos de um mundo que já não é mais possível.Boletim WRM
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Fevereiro 2005
NOSSO PONTO DE VISTA
NA CONSTRUÇÃO DE UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL
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22 Fevereiro 2005Muitos dos participantes do Fórum Social Mundial de 2004 se encontraram em Mumbai com a certeza de que as problemáticas florestais são principalmente sociais e políticas e que as comunidades florestais vêem-se cada dia mais atingidas pela globalização - e por novas formas de comércio e liberalização econômica que são decorrentes dela. Eles concordaram na necessidade de criarem um movimento mundial para garantir a conservação das florestas e os direitos dos povos sobre as florestas. Os princípios em que esse movimento deveria estar embasado foram acordados e circularam entre os grupos como a Inciativa de Mumbai para as Florestas - Declaração de Princípios.
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22 Fevereiro 2005Em um mundo cada vez mais fragmentado e especializado, muitas vezes as respostas sociais e de resistência também se têm dado forçosamente de forma fragmentada e especializada. São muitas as organizações que se dedicam a um tema, afastando-se muitas vezes do todo. Nesse todo, como círculos convergentes, as diferentes problemáticas têm pontos de contato que se traduzem em assuntos das agendas dos movimentos sociais. O Movimento Mundial pelas Florestas (WRM), em sua defesa das florestas têm incorporado a sua estratégia de ação o tema de gênero, por exemplo, e procura que as organizações de mulheres, por sua vez, tomem o assunto florestas e plantações nos aspectos que se relacionam com sua área.
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22 Fevereiro 2005O Grupo de Durban é uma coalizão de ONGs, ativistas sociais e ambientalistas, comunidades, acadêmicos, cientistas e economistas do mundo todo preocupados pela mudança climática, que apelam para um movimento popular mundial contra a mudança climática. O grupo denuncia o imperfeito enfoque das negociações internacionais e reclama a participação ativa de um movimento mundial de povos do Norte e do Sul para que o assunto do clima volte a suas mãos.
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22 Fevereiro 2005A engenharia florestal teve suas origens na Alemanha, no final do século XVIII sendo o mais claro exemplo da forma em que as florestas foram subtraídas das economias rurais locais e redesenhadas para servirem às necessidades de uma economia do Estado em vias de industrialização. As florestas européias faziam parte da agricultura oferecendo não apenas uma superfície para pastagens como também fertilizantes, forragem para alimentação e teto, alimento para animais domésticos e pessoas, córtex e raízes para a medicina e tingimento, seiva para resinas, madeira para combustível e edificação, entre outros usos.
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22 Fevereiro 2005A Rede Latinoamericana contra as Monoculturas de Árvores (RECOMA) é uma rede descentralizada de organizações de todos os países da região, que tem como objetivo fundamental a coordenação de atividades para resistir a expansão de monoculturas de árvores em grande escala na região, já sejam para a produção de madeira e celulose, para a produção de azeite de dendê ou para serem "sumidouros de carbono". No V Fórum Social Mundial, vários integrantes da RECOMA presentes em Porto Alegre puderam se reunir e ficar a par da situação de cada país bem como traçar estratégias futuras e planejar atividades para o ano.
SÍMBOLOS DE UM MUNDO QUE JÁ NÃO É POSSÍVEL
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22 Fevereiro 2005Há uma coisa que esse outro mundo possível que exigimos deve ter: diversidade biológica. A vida pede isso em todo momento e de forma gritante. A mensagem é evidente. Quanto maior for a diversidade de um ecossistema, maior será sua riqueza e beleza. Eis as valiosas florestas tropicais, profundo receptáculo de inumeráveis espécies animais e vegetais, de cores, nuanças e sons, berço de cascatas e riachos, matriz de populações humanas. São valiosas tanto estética quanto funcionalmente para o ser humano, fornecendo-lhe alimento, abrigo, materiais de construção, ornamentação e úteis. Não se trata de não utilizá-los, mas de fazê-lo com prudência, solidariedade e respeito, de forma “sustentável” para dizê-lo de forma atual.
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22 Fevereiro 2005Em 1972, no Estado do Rio Grande do Sul, a poucos quilômetros da cidade de Porto Alegre, no município de Guaíba e sobre o rio do mesmo nome, o grupo norueguês Borregaard estabeleceu uma fábrica de celulose que foi fechada em 1975 em decorrência de pressões públicas contra a poluição que estava causando. Nesse momento, a fábrica foi comprada pela Klabin e aberta novamente sob o nome Riocell. A fábrica utilizava cloro elementar para o branqueamento da celulose, o que gerou grande poluição no rio Guaíba, que fornece água potável à cidade de Porto Alegre. No entanto, foi com dinheiro público obtido através de um empréstimo do BID de 170 milhões de dólares, que o Estado teve que realizar trabalhos para despoluir a bacia do rio.
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22 Fevereiro 2005Consumismo e pobreza são as duas pontas do atual mercado mundial do papel. Manipulação dos mercados, acordos de cartel, estabelecimento de preços e outras práticas similares outorgam a um grupo de empresas o poder necessário para controlá-lo. No meio disso, poluição do ar, da água e do solo, acumulação e estrangeirização da terra, aumento da escala, aprofundamento de uma forma de produção que cada vez requer menos trabalhadores. Uma cadeia de ações insustentáveis nessa área –cópia de outras- que deixa atrás qualquer sensibilidade e prudência com a natureza e as gerações atuais e futuras. A eqüidade social não está entre os objetivos desses empreendimentos.