O que tem de errado que uma empresa queira um selo verde para seu "manejo florestal sustentável" e créditos por plantar árvores que ajudem a enxugar o carbono da atmosfera? Potencialmente, muito, em especial, se considerarmos que ambas as pretensões são bastante duvidosas, como indica a cobertura sobre a empresa brasileira Plantar S.A. feita pelo WRM em seu boletim. E resulta ainda mais problemático em se tratando de uma empresa que, para combater as críticas a seu projeto de sumidouros de carbono, lança mão de certas táticas, como, por exemplo, a distorção dos fatos para desacreditar seus críticos.
Mais uma vez, a Plantar serve de exemplo: em carta enviada a potenciais compradores de créditos "de carbono", a empresa afirma que uma carta da sociedade civil brasileira, datada em 26 de março de 2003 (criticando a anunciada venda de créditos "de carbono" pela Plantar), incluía assinaturas acrescentadas sem terem sido informados os signatários. Essa afirmação foi repetida, sem questionar a veracidade, em conferências públicas na Europa pela gerência do Fundo Protótipo de Carbono do Banco Mundial (PCF, em inglês), sob cujo patrocínio serão vendidos os créditos "de carbono" da Plantar.
Essa é uma afirmação muito grave, feita, obviamente, para sujar a reputação daqueles que erguem a sua voz contra as atividades da empresa. A afirmação é falsa; uma simples comparação dos nomes registrados nas diversas cartas teria revelado a falsidade da acusação da companhia. Em virtude do impacto provocado pela repetição dessas afirmações falsas por um funcionário de alta hierarquia do Banco Mundial, sobre a veracidade dos signatários, 77 grupos brasileiros exigiram recentemente uma desculpa por escrito e a emenda pública dos fatos por parte da gerência do PCF.
Resta saber o que é que o PCF vai aprender com esse episódio e com a recentemente anunciada investigação sobre as "Afirmações das ONGs manifestadas nas cartas da sociedade civil". Para o SinksWatch, a repetição de informação sem questionamentos feita pela empresa, certamente, gera mais perguntas a respeito do exame minucioso que o PCF aplica à informação de projetos que recebe dos proponentes. Seguindo a abordagem do PCF de "aprender fazendo", o SinksWatch "aprendeu" que os créditos de carbono do projeto Plantar não estão "fazendo nada" para ajudar a evitar a perigosa mudança climática; pelo contrário, eles estão aumentando as privações da população local. A lição aprendida é: nenhum crédito de carbono da Plantar é um bom crédito de carbono.
Por: Jutta Kill, SinksWatch, correio eletrônico: jutta@fern.org ; http://www.sinkswatch.org