Em ocasião do Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores, a Rede Latinoamericana contra as Monoculturas de Árvores (RECOMA), uma rede de organizações latinoamericanas cujo objetivo fundamental é coordenar atividades para se opor à expansão das monoculturas florestais em grande escala na região e que conta com representantes de vários países latinoamericanos, junto com diversas organizações e ativistas sociais, estão fazendo um apelo público a rejeitar a iniciativa denominada “Projeto de Plantações de Nova Geração” (NGPP por sua sigla em inglés (1)), promovida pela organização conservacionista Fundo Mundial para a Natureza (WWF, por sua sigla em inglês).
O apelo alerta o seguinte:
“De acordo com a informação disponível em seu site, o WWF afirma que “não é possível prescindir do comércio atual das commodities(2) e os serviços que fornecem as plantações de árvores”, e ainda mais, apresenta a necessidade de melhorar omodelo florestal atual para manter tal fluxo, conservar os ecossistemas prístinos e respeitar os direitos das comunidades. E para consegui-lo considera que basta com melhorar o manejo das plantações.
Contudo, é o comércio atual de commodities e, mais amplamente, o modelo de produção e consumo atual que está na raiz dos problemas que a humanidade sofre atualmente. E em nenhum momento o WWF faz uma crítica a este modelo ou se apresenta uma mudança. Quer acreditar ou fazer acreditar que por um ato de mágica serão resolvidas as contradições intrínsecas do florestamento industrial: concentração da terra, despejo de comunidades locais e exclusão de outras formas produtivas, esgotamento da água e do solo.
Os prejuízos sociais e ambientais das plantações- em relação inversamente proporcional ao lucro das corporações- estão diretamente relacionados com o ‘modelo florestal’ de escala industrial e em regime de monocultura, ao qual o WWF faz referência. Por isso, as grandes corporações florestais sempre usaram todas as estratégias possíveis para maquiar de verde suas atividades. E o WWF cai como uma luva para tal fim. A única preocupação desta organização parece ser manter e ampliar os mercados atuais das plantações.
Além disso, uma grande parte do NGPP está voltada a abrir as portas ao mercado do carbono e a energia para as plantações florestais, permitindo assim que ainda mais terras férteis das que milhões de pessoas na América Latina dependem para sua sobrevivência sejam ocupadas por grandes corporações.
A iniciativa NGPP envolve um grupo de corporações do setor florestal (CMPC – Forestal Mininco, Masisa, Fibria, Masisa, Mondi, Portucel, Sabah Forest Industries, Stora Enso , Veracel, UPM-Kymmene) bem como a Administração Florestal do Estado da China, a Comissão Florestal do Reino Unido e a Iniciativa Florestal da Suécia.
No site da Iniciativa é mostrada uma série de exemplos de plantações industriais no mundo todo, que têm ajudado a "conservar a biodiversidade". Dos nove casos em destaque, cinco correspondem a plantações de árvores na América Latina que pertencem às empresas UPM (caso de estudo no Uruguai), Veracel/ Stora Enso e Fibria (dois casos no Brasil), Masisa (Argentina) e CMPC/ Forestal Mininco (caso no Chile). Todas e cada uma destas empresas acumulam em seus prontuários denúncias por parte das comunidades locais, que obviamente o WWF optou por ignorar.
As denúncias incluem a violação dos direitos das comunidades indígenas e tradicionais a seus territórios, a ocupação ilegal de territórios, a destruição de valiosos ecossistemas e fontes de água, a substituição de terras para a produção de alimentos por plantações, entre outras.
Desde a RECOMA e outras organizações e ativistas abaixo assinados denunciamos este tipo de manipulações como uma forma de servir aos interesses mercantis de empresas que não duvidam em violentar os direitos das comunidades onde impõem suas monoculturas de árvores. Ao mesmo tempo fazemos um apelo público a todos os movimentos e organizações sociais a rejeitar este projeto do WWF.
Lançamos este comunicado como parte das ações do Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores, ao tempo que lembramos Ricardo Carrere, quem durante sua vida e trabalho no WRM e na RECOMA ajudou a incentivar a luta contra as plantações de árvores e seus impactos negativos reivindicando os direitos das comunidades locais e dos Povos Indígenas sobre seus territórios.
21 de setembro de 2011
Notas:
(1) vide o site do projeto em: http://newgenerationplantations.com/
(2) termo anglo- saxão utilizado para definir aquelas mercadorias comercializável a granel nos mercados financeiros internacionais