A lavagem verde da Unilever com a RSPO

Imagem
WRM default image

Escândalos relacionados a alimentos para bebês na África, destruição de florestas tropicas para fabricar barras de chocolate: há empresas, por exemplo, a Nestlé, que atraem escândalos como a luz atrai insetos. Por outro lado, existem as empresas-Teflon, como a revista norte-americana Newsweek chamou as multinacionais que fazem basicamente a mesma coisa que seus concorrentes, mas nas quais as críticas não grudam. A Unilever é o protótipo disso. A empresa é até elogiada por importantes organizações ambientais internacionais, como o WWF, por seu compromisso ambiental. Como isso pode acontecer, sendo a Unilever uma das maiores consumidoras de óleo de dendê do mundo?

Para começo de conversa, a Unilever tem contrato com empresas envolvidas em escândalos, como a multinacional do dendê Wilmar. A Wilmar tem um histórico de contínuas violações dos direitos humanos e extração ilegal de madeira, e é a maior negociante de óleo de dendê do mundo. Com a ajuda de forças policiais, a Wilmar destruiu a aldeia de Sungai Beruang, bem como povoados próximos que estavam situados dentro de plantações de dendê, para romper a resistência dos moradores à indústria do dendê [nota à imprensa da Robin Wood]. A Amigos da Terra documentou graves violações de direitos humanos por parte da Wilmar em Uganda [www.foei.org]. A Unilever é um dos maiores clientes dessa empresa e é conjuntamente responsável pelos crimes e violações de seu fornecedor.

Ao mesmo tempo, o enorme crescimento no setor de óleo de dendê foi um desastre para o clima do mundo. A conversão de florestas tropicais em plantações de dendê fez da Indonésia o terceiro maior emissor de um gás do efeito estufa, o dióxido de carbono. Isso não impede o diretor-presidente da Unilever, Paul Polmann, de louvar a si mesmo como protetor da atmosfera da Terra na Cúpula do Clima de Copenhague, em 2009.

Além disso, a empresa trabalha contra a bioenergia, mas não por motivos altruístas. Em vez da ameaça ao suprimento de alimentos ao mundo, é o acesso barato a matérias-primas que preocupa fabricantes de alimentos como a Unilever.

A estratégia de comunicação da Unilever, baseada em lavagem verde, baseia-se principalmente no esquema de certificação da Mesa Redonda sobre Dendê Sustentável (RSPO, Roundtable of Sustainable Palm Oil). A empresa admite que a produção global de óleo de dendê causa graves problemas, mas também afirma que eles podem ser resolvidos com a ajuda da RSPO. Da perspectiva da ONG Robin Wood e seus parceiros na Indonésia, a RSPO é apenas uma ferramenta útil para a Unilever fazer lavagem verde naquilo que sempre fez para obter lucro. Os cinco pontos a seguir explicam por que:

A RSPO é predominantemente formada pela indústria

Um total de 581 empresas está diante de apenas 26 ONGs, e 11 das 16 vagas na direção da RSPO são reservadas para bancos e empresas de óleo de dendê. A RSPO é presidida pela Unilever e não por um membro neutro, o que dá à empresa um controle significativo sobre o esquema de certificação.

Critérios frágeis

Em função dessas estruturas, os critérios são frágeis. Empresas de óleo de dendê que têm conflitos intensos com as populações locais recebem o selo da RSPO. Além disso, a RSPO possibilita que as florestas sejam convertidas em novas plantações e tolera o uso de agroquímicos extremamente tóxicos, como o Paraquat, o que não é de estranhar, já que o próprio fabricante do Paraquat (Syngenta) é um de seus membros.

Organismos de certificação dependentes

As empresas que se candidatam à certificação da RSPO pagam aos organismos de certificação. Essa relação comercial direta leva a uma corrida para ver quem faz menos: o órgão de certificação que ignorar o maior número de problemas em favor de seu cliente receberá contratos mais lucrativos. Um exemplo disso é o órgão de certificação TÜV, reconhecido pela RSPO. A ROBIN WOOD examinou as ações desse certificador em outubro de 2011, em um estudo feito em Sumatra, e encontrou deficiências alarmantes. [Declaração Statement Robin Wood zum TÜV Rheinland]. Importantes membros da RSPO foram informados sobre as falhas da TÜV na Indonésia, mas até agora, sem quaisquer consequências.

De detentoras de direitos a detentoras de interesses

Com sua prática, a RSPO transforma as populações locais com direitos à terra em pessoas com interesses legítimos (stakeholders). Na mesa redonda, essas populações são forçadas a negociar seus direitos com representantes do poderoso lobby do óleo de dendê. Isso sugere que seja possível encontrar um compromisso justo entre agressor e vítima. E, nesse cenário, as populações locais só têm a perder. Os direitos humanos não são negociáveis.

A superexploração continua – a RSPO promove a expansão

A mais importante contribuição de um selo de sustentabilidade para o óleo de dendê seria interromper a expansão dessa indústria. Essa é uma reivindicação clara de organizações ambientais e de direitos humanos da Indonésia, como Cappa, Walhi, Save Our Borneo ou Perkumpulan Hijau, juntamente com Robin Wood. No lado oposto, empresas que são membros da RSPO estão entre as impulsionadoras da expansão de novas plantações. Exemplos atuais podem ser encontrados na província indonésia de Papua Ocidental. Membros da RSPO, como Wilmar, Medco ou Rajawali, deram início a um imenso projeto com óleo de dendê, à custa da população local e do que resta das florestas tropicais [https://awasmifee.potager.org].

Conclusão: As ONGs e o público mais amplo não devem ser cegados pela estratégia de lavagem verde da Unilever. Grandes corporações como essa devem levar em conta que o negócio global de óleo de dendê causa expulsão de pessoas, derrubada de florestas e contaminação com pesticidas tóxicos, e que a RSPO é a principal ferramenta para que tudo isso seja submetido a lavagem verde.

Peter Gerhardt, peter.gerhardt@ovi.com, publicado por EJOLT (Environmental Justice Organisations, Liabilities and Trade), http://www.ejolt.org/2012/09/unilever-and-how-to-greenwash-tropical-devastations/