O ano começou com fogo no Chile; as notícias nacionais e internacionais divulgaram os devastadores incêndios que afetaram várias regiões do país. Entre elas, as da Araucanía e o Bío Bío, no centro e sul do Chile. Nessas regiões, espalham-se mais de três milhões de hectares de plantações de árvores exóticas, dos quais mais de dois milhões- plantados principalmente com pinheiros e eucaliptos- pertencem às empresas florestais Arauco e Mininco, e foram afetadas pelos incêndios.
Para os defensores do modelo das monoculturas florestais em grande escala e de rápido crescimento, o Chile é o “país estrela”. Este negócio foi fomentado pelo estado chileno não apenas com a concessão de grandes subsídios como também com forte apoio militar. Necessita e usa todo esse apoio para enfrentar o conflito sobre a posse de terras que desencadeou com o povo Mapuche, visto que as plantações se expandiram em terras historicamente deste povo.
Além do conflito territorial com os Mapuches, as monoculturas florestais em grande escala tiveram drásticos impactos. Apresentaram- se inúmeras denúncias: que deslocado floresta nativa causando assim a perda de plantas medicinais e alimentícias bem como fauna; provocaram seca e afetaram recursos hídricos, superficiais e subterrâneos já que são árvores que fazem um uso intensivo da água; poluíram ecossisstemas pelo uso maciço de praguicidas; deixaram comunidades rurais encurraladas; destruíram caminhos rurais por causa do tráfego de maquinaria pesada; substituíram solos agropecuários com a decorrente perda de soberania alimentar; transgrediram lugares sagrados; contribuíram com o aumento da emigração e da pobreza.
Agora, a onda de incêndios revela a fragilidade do modelo de monocultura. O diretor da Mapuexpress, Alfredo Seguel, faz ver a responsabilidade que as empresas florestais têm nos sucessivos incêndios, pela introdução de espécies exóticas como o pinheiro e o eucalipto, que geram verdadeiros desertos. Seguel adverte que o perigo das plantações como focos de incêndio aumenta ainda mais pela presença de pinheiros mortos atacados pela praga da Vespa da madeira (Sirex noctilio). E revela que os locais onde estouraram os incêndios são os mesmos em que essa praga tem se espalhado.
Apesar disso, a reação oficial consistiu em reforçar seu apoio às empresas florestais, colocando a culpa da tragédia nas organizações mapuches e aplicando- lhes repressão.
A Comissão Ética Contra a Tortura (CECT- Chile) encaminhou uma carta pública ao presidente Piñera manifestando sua preocupação pelas operações policiais que violentaram comunidades Mapuche bem como pela invocação da lei antiterrorista, a lei 18.314, promulgada durante a ditadura militar de Pinochet, para reprimir a oposição ao regime. A Comissão declara que essa lei “não cumpre com padrões internacionais quanto aos direitos humanos e obstaculiza as garantias mínimas de um devido processo”, e que seu “uso arbitrário e discriminatório na última década tem gerado um estigma” sobre o povo Mapuche.
O império florestal se desmorona, anuncia Alfredo Seguel. Como todo império, diante da crise, responde com a violência e a criminalização dos protestos. Mas o povo Mapuche continua a resistência, em defesa de seus territórios.
Artigo baseado em informação obtida de: “Chile: la caída del imperio forestal”, Alfredo Seguel, janeiro de 2012, Mapuexpress.net, http://www.mapuexpress.net/?act=news&id=8057; “Carta al Presidente Piñera”, Comisión Ética contra la Tortura (CECT-Chile), janeiro de 2012,http://notascect.wordpress.com/2012/01/09/carta-al-presidente-pinera-2/