Às voltas com uma crescente dívida externa e pressionado pela globalização e a liberalização do comércio, Gana, como muitos países da África ocidental, teve a sua capacidade para financiar o gasto público nacional seriamente limitada. Além disso, a maior parte das exportações dos países africanos vem sofrendo a queda dos preços, o que traz como resultado uma escassa receita oriunda de exportações e contribui para a geração de um grande déficit orçamentário. Na tentativa desesperada de satisfazer o pagamento da dívida externa e enfrentar o déficit, muitos países da África, inclusive a República de Gana, empenharam-se na extração agressiva dos recursos primários, não só dilapidando os recursos da floresta, mas, também, se furtando a destinar recursos orçamentários para práticas de manejo florestal sustentável.
A madeira é um dos principais produtos de exportação, com a resultante degradação das florestas do país. Quase a metade de Gana estava coberta de florestas, acolhendo 680 espécies de árvores e vários tipos de mogno. A maior parte dessas árvores foi derrubada. No início da década de 1990, apenas restava de pé um terço das florestas do país.
Paralelamente, os territórios indígenas foram transformados em massa em áreas para a atividade madeireira e mineração, bem como em terrenos para culturas agrícolas destinadas a satisfazer necessidades externas, principalmente através de plantações de monoculturas extensivas. Na ânsia de atrair investimento estrangeiro, foi negado aos moradores locais o seu direito à terra.
Depois do país ter perdido cerca de 70% das florestas, foram implementadas severas restrições à atividade madeireira e começou a ser aplicado um programa de florestamento (mais precisamente de reflorestamento). Porém, esses esforços foram realizados seguindo o mesmo modelo de oferta de produtos primários, para sustentar formas de vida não sustentáveis em outros lugares, e como monoculturas extensivas. No caso, árvores com valor comercial, geralmente destinadas para alimentar plantas industriais de celulose. Surpreendentemente, em certos âmbitos, essas plantações são consideradas florestas.
As plantações de árvores caracterizam-se pela concessão de incentivos perversos por parte dos governos. Gana, por exemplo, promoveu a criação de um fundo para a instalação de plantações de árvores por parte de pessoas físicas e empresas, convocando pequenos proprietários de terras para que as mesmas fossem destinadas a esse objetivo. A FAO apoiou esses incentivos às plantações. O programa de florestamento e reflorestamento --que abrange uma limitada variedade de espécies e que está sendo executado pelo Departamento de Manejo Florestal de Gana-- foi promovido como um importante "projeto de desenvolvimento" que daria emprego a uma população empobrecida.
No entanto, a publicação ganesa Chronicle revelou há pouco que a maior parte das 150 pessoas contratadas pela Asuowam Complex (AC) Ltd., uma empresa madeireira de Wamfie, na região de Brong Ahafo, para um projeto de reflorestamento na reserva de florestas degradadas de Pamu-Brekum, foi demitida. Desde o início do projeto, em 1998, a AC Ltd. já plantou árvores numa área de 400 hectares. Do total de 150 pessoas contratadas pela AC Ltd. como força de trabalho para o projeto, apenas uma estrutura básica de 15 empregados ficou vigiando o local. A decisão da gerência da AC Ltd., de demitir 135 pessoas, esteve baseada no fato da empresa ter ficado sem fundos, como resultado da falta de madeira em rolos para suas operações. Primeiro, a empresa demitiu os empregados do setor madeireiro e, depois, fez a mesma coisa com aqueles que trabalhavam no projeto de reflorestamento.
O que resta, finalmente, é um deserto de árvores e nenhuma fonte de emprego para as pessoas. Aliás, é um saldo desfavorável, sobre o qual há muito o que meditar.
Artigo baseado em informação obtida em: "The Bane of Sustainable Forest Management in Africa: The Case of Ghana. A Discussion paper", Lambert Okrah, ICA-Gana, correio eletrônico: icagh@ghana.com ; Country Study & Country Guide for Ghana, http://www.1upinfo.com/country-guide-study/ghana/index.html ; "Dark Clouds Over Gov't Afforestation Program", Dominic Jale, Ghanaian Chronicle (Accra), http://www.ghanaian-chronicle.com/220624/