Boletim Nro 112 - Novembro 2006
Faça o download do boletim completo em pdf
TEMA CENTRAL DESTE BOLETIM: BIOCOMBUSTÍVEIS
O grave problema do aquecimento global, o aumeno do preço do petróleo, a dependência dos países industrializados de reservas petrolíferas fora de suas fronteiras, os interesses do agronegócio sempre ávido de aumentar seus lucros, os padrões de vida “ocidentais” altamente consumidores de combustíveis- especialmente no tocante ao transporte-, conformam os alicerces do surgimento dos combustíveis derivados das culturas vegetais. O modelo em que são apresentados- em grande escala, funcionais para a globalização, consolidando a pilhagem dos bens naturais dos povos – oferece uma “solução” para a crise energética que implica uma virada de 360º- isto é, para que tudo siga igual…
NOSSO PONTO DE VISTA
-
30 Novembro 2006A substituição dos combustíveis fósseis por biocombustíveis (elaborados a partir de biomassa vegetal) pode parecer um passo na direção correta para evitar o agravamento da mudança climática. No entanto, os planos previstos para sua produção e uso não apenas não solucionam esse sério problema mas agravam muitos outros. Os biocombustíveis que se planeja adotar são o biodiesel (obtido de plantas oleaginosas) e o etanol (obtido a partir da fermentação da celulose contida nos vegetais). Entre os muitos cultivos possíveis para esse fim, salientam a soja, o milho, a colza, o amendoim, o girassol, o dendezeiro, a cana-de-açúcar, o choupo e o eucalipto.
BIOCOMBUSTÍVEIS: UMA VIRADA DE 360º
-
30 Novembro 2006O Escritório de Pesquisa Biológica e Ambiental do Departamento da Energia está financiando um estudo por três anos com US$ 1,4 milhões realizado por pesquisadores da Universidade de Purdue com o objetivo de determinar formas para alterar o conteúdo de lignina e provar se as modificações genéticas afetam a qualidade das plantas usadas para produzir biocombustíveis. Uma árvore híbrida de álamo é a base para a pesquisa que faz parte do objetivo do DOE para substituir 30 por cento do combustível fóssil usado anualmente nos EUA para transporte por biocombustíveis até 2030.
-
30 Novembro 2006Em 1972, um estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT) sobre as tendências crescentes de consumo colocou em alerta os políticos e cientistas do mundo inteiro. O estudo, denominado “Os limites do crescimento” foi encomendado por uma equipe internacional de cientistas, pesquisadores e industriais –conhecidos depois como o Clube de Roma- e se transformou em um clássico para a análise da relação entre produção e ambiente.
-
30 Novembro 2006As modalidades do consumo e produção de biocombustível já estão causando um impacto negativo sobre a segurança alimentar, os meios de vida rurais, as florestas e outros ecossistemas e espera-se que esses impactos negativos se acumulem rapidamente. A produção de biocombustível em grande escala, orientada à exportação, requer monoculturas em grande escala de árvores, cana-de-açúcar, milho, dendezeiro, soja e outros cultivos. Essas monoculturas já constituem a causa número um do despovoamento rural e do desmatamento no mundo inteiro.
-
30 Novembro 2006No mundo há aproximadamente 800 milhões de automóveis que consomem mais de 50% da energia produzida no mundo, o que faz com que o automóvel individual seja o primeiro causador do efeito estufa. Apesar de que existe consenso em que a mudança climática é uma realidade, não há intenções sérias de mudar o estilo de vida que o causa, e em vez disso, procuram-se soluções tecnológicas que permitam manter os lucros das empresas que se beneficiam com esse modelo. Neste contexto, nos últimos anos começaram a promover-se os biocombustíveis como uma alternativa ao aquecimento global.
-
30 Novembro 2006Em julho de 2006, a /Pulp and Paper International/ apresentou um relatório em um congresso denominado World Bioenergy 2006 (Congresso Mundial de Bioenergia 2006). O congresso foi realizado na Suécia, onde os biocombustíveis fornecem 25 por cento da energia e a maior parte de sua calefação. “As fábricas de pasta de celulose combinadas com fábricas de aquecimento que enviam o excesso de energia a sistemas distritais de calefação são uma parte estabelecida da infra-estrutura do país e uma fonte útil de renda adicional para suas fábricas de pasta de celulose,” aponta a /Pulp and Paper International/.
OS BIOCOMBUSTÍVEIS E SEUS IMPACTOS LOCAIS
-
30 Novembro 2006No Brasil, a produção através da agricultura de uma nova matriz energética ocupa diariamente espaço na mídia, ganhando cada vez mais respaldo social e justificativa econômica para o desenvolvimento do campo. Rapidamente, o uso da terra para produção de alimentos passa a dividir o espaço com a produção de combustíveis. Esta mudança na percepção social é bem evidente nas repetidas reportagens que mostram os produtores rurais e proprietários de terras como os novos donos de ‘campos de petróleo’.
-
30 Novembro 2006Em Camarões, como em outros países africanos, por exemplo Costa de Marfim ou Gana, a produção de dendezeiro está distribuída em 3 setores: um setor agroindustrial, um setor local controlado pela agroindústria, e um setor tradicional de pequena escala. Mesmo que a Indonésia e a Malásia tenham uma posição de liderança no mercado mundial do dendê, o setor agroindustrial em Camarões conta com várias vantagens.
-
30 Novembro 2006O mundo ocidental, em especial os países do norte, rendeu-se ao vício pelos energéticos provindos dos fósseis. Esse rumo provocou o que hoje ninguém duvida: a mudança climática. Muitas soluções foram propostas para fazer frente a esta questão, mas a maioria permite que a corrida suicida da humanidade continue com força. Os megaprojetos de biocombustíveis constituem uma das propostas de solução. Será que os promotores desta alternativa mediram as conseqüências que poderia ter sua implementação em importantes ecossistemas, povos e culturas? Este artigo delimita, em primeiro lugar, os passos dados para abrir caminho a estes projetos e se focaliza especialmente nas implicações que teve o plantio do dendezeiro africano- fonte de um dos biocombustíveis cuja produção está projetada.
-
30 Novembro 2006A Indonésia é um dos países mais rural e habitado do mundo, com uma população total de 220 milhões de pessoas. Atualmente, o país tem cerca de 6 milhões de hectares de plantações de dendê e tem desmatado mais do triplo- cerca de 18 milhões de hectares de florestas, em nome da expansão do dendê. Os planos regionais existentes já destinaram outros 20 milhões de hectares para plantações de dendê, principalmente em Sumatra, Kalimantan, Sulawesi e Papua Ocidental e agora estão sob discussão planos adicionais para o estabelecimento da maior plantação de dendê com 1,8 milhão de hectares no coração de Borneo.
-
30 Novembro 2006A Malásia, junto com a Indonésia, é o líder mundial em produção de dendê cru para exportação mesmo que seja a um enorme custo. Conforme um relatório de Amigos da Terra de 2005, 87 por cento do desmatamento recente no país foi realizado para abrir caminho às plantações de dendê. Como as florestas tropicais da Malásia constituem um ecossistema dos mais diversos no planeta, o fato de desmatar essas áreas significa uma séria ameaça para inúmeras espécies vegetais e animais.