Desde que a ciência florestal ocidental definiu as florestas como entidades predominantemente produtoras de madeira, os esforços se têm concentrado no aumento da produtividade de um único produto: a madeira. As florestas com diversidade foram simplificadas, cortando todas as espécies nas que a indústria não estava interessada, enquanto promovia a predominância absoluta de árvores “valiosas” na floresta.
Boletim Nro 88 - Novembro 2004
Árvores Geneticamente Modificadas
O TEMA CENTRAL DESTA EDIÇÃO: ÁRVORES GENETICAMENTE MODIFICADAS
Um grande número de cientistas está trabalhando ativamente em modificar árvores geneticamente, para cumprir melhor com os objetivos econômicos da indústria. Já estão realizando-se testes de campo em uma série de países e os álamos geneticamente modificados já têm sido lançados na China, sem considerar o perigo que isso implica para as florestas do mundo. O presente boletim visa a fornecer parte da informação disponível e instar às pessoas interessadas para que se envolvam no assunto. Depois de ler o boletim –e se os itens apontados são suficientemente convincentes- um bom ponto de partida seria aderir à petição para uma Proibição Global das árvores geneticamente modificadas (disponível em http://elonmerkki.net/dyn/appeal/), que será apresentada no próximo mês na Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança Climática.Boletim WRM
88
Novembro 2004
NOSSO PONTO DE VISTA
O CENÁRIO DAS ÁRVORES TRANSGÊNICAS
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26 Novembro 2004Talvez eu esteja sendo naïve, mas realmente pensava que o Banco Mundial deveria ter um posicionamento sobre árvores transgênicas. O primeiro campo experimental de árvores transgênicas foi em 1988. Com certeza, eu pensava, 16 anos é tempo suficiente para os experts em planos de ação do Banco avançarem com alguma coisa. Quando a brilhante nova política florestal do Banco apareceu há dois anos, depois de um processo de consulta a todos os interessados que era “embasado por amplos estudos analíticos, técnicos e econômicos, alguns autorizados pelo Banco Mundial e outros por instituições independentes e ONGs em um amplo leque de assuntos", de acordo com o Banco. Será que a nova política tem alguma coisa a dizer sobre árvores transgênicas?
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26 Novembro 2004As árvores transgênicas não são o resultado da evolução. Elas são o resultado das decisões tomadas por instituicões e empresas para seu desenvolvimento e posicionamento. Para isso, as companhias, as instituições de pesquisa e as universidades trabalham em parceria. As companhias financiam departamentos de pesquisa nas universidades e influenciam assim o tipo de pesquisa que deve ser colocada em andamento. Mesmo que haja inúmeros atores que trabalham com árvores transgênicas, alguns são claramente mais importantes que outros. A maior parte das pesquisas está sendo desenvolvida em um número relativamente pequeno de países, entre os que se destacam os EUA, Canadá, Japão, Nova Zelândia, Austrália, Chile, Reino Unido e China.
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26 Novembro 2004A despeito dos riscos decorrentes da modificação genética de árvores, não existe nenhuma legislação internacional referida especificamente a árvores transgênicas. Em vez disso, a legislação tem sido elaborada pensando nas colheitas de alimentos e sementes, e não necessariamente cobre os problemas derivados de plantas geneticamente modificadas de vida longa como as árvores.
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26 Novembro 2004Em 22 de outubro de 2004, a Rússia ratificou o Protocolo de Kyoto, o acordo internacional criado para começar a enfrentar o problema do aquecimento global. A ratificação pela Rússia do Protocolo de Kyoto agora dá ao acordo um nível de participação suficientemente alto pelos países mais responsáveis das emissões mundiais de carbono para que o acordo entre em vigor, inclusive sem as emissões de carbono dos Estados Unidos, que representam 25% das emissões anuais globais do mundo inteiro.
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26 Novembro 2004A polinização dos vegetais é realizada de diversas formas. Uma delas é através das abelhas, borboletas, beija- flores e dos morcegos. Outro tipo de polinização é realizado pelo vento nas plantas que têm as células reprodutoras em flores sem cobertura. Assim acontece nas coníferas (por exemplo, nos pinheiros). Para a fecundação ser efetiva, estas árvores produzem uma quantidade enorme de pólen que o vento arrasta e distribui, passando de planta em planta e atingindo longas distâncias.
ÁRVORES TRANSGÊNICAS NO SUL
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26 Novembro 2004Wangari Maathai e Florence Wambugu têm enfoques totalmente opostos a respeito da plantação de árvores no Quênia. O enfoque de Maathai é anti-colonialista e empodera as pessoas que plantam árvores. O enfoque de Wambugu é neocolonialista e faz com que as pessoas que plantam árvores dependam da biotecnologia. Wangari Maathai recebeu o Prêmio Nobel deste ano. Seu “Movimento pelo Cinturão Verde” ensina às mulheres a estabelecer seus próprios viveiros de árvores. “Fazemos com que sejam pessoas independentes possam cuidar seu meio ambiente elas mesmas” diz Maathai. Além de sua atividade de plantação de árvores, Maathai é a Co-presidenta Africana de Jubileu 2000 e está fazendo uma campanha para o cancelamento da Dívida do Terceiro Mundo.
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26 Novembro 2004Os patrocinadores das plantações de árvores com fins industriais alegam que as plantações podem mitigar a pressão sobre as florestas naturais. A indústria da celulose e do papel do Brasil apresenta esse mito para a propaganda pró-indústria. Em vez de plantar menos madeira em menos terra, a indústria planta mais madeira em mais terra. Todo ano, a área de plantações aumenta e todo ano a área de florestas diminui.
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26 Novembro 2004O setor florestal chileno parece não poder aceitar limites para a expansão de suas monoculturas de pinheiros e eucaliptos. Por um lado, tem recorrido à repressão e às mentiras para enfrentar a oposição local. Por outro lado, tem se espalhado a outros países, tais como a Argentina e o Uruguai, onde tem instalado tanto plantios quanto empresas madeireiras e de celulose, ampliando assim seus impactos a outro ambientes e populações. Ainda por cima, também não aceita os limites impostos pela natureza e está recorrendo à biotecnologia para fabricar árvores com as características pretendidas para poder plantar mais e obter maiores lucros.
ÁRVORES TRANSGÊNICAS NO NORTE
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26 Novembro 2004Em junho de 2004, ativistas desconhecidos atacaram o último experimento remanescente de árvores geneticamente modificadas na Finlândia. Aproximadamente 400 árvores de bétula geneticamente modificadas foram derrubadas. Como deveríamos reagir agora? Essa foi a primeira pregunta para os que faziam campanhas contra as árvores geneticamente modificadas quando soubemos do ataque.
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26 Novembro 2004De 17 a 19 de novembro de 2004, realizou-se uma importante conferência sobre árvores geneticamente manipuladas na Universidade de Duke de Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América. Houve representantes das principais companhias de biotecnologia, incluindo a Arborgen, a Cellfor e outras, bem como algumas das instituições líderes que fazem pesquisa, tais como o Instituto de Biotecnologia Florestal, a Iniciativa Conjunta sobre o Genoma do Departamento de Energia, o Serviço Florestal dos EUA e o Serviço Florestal do Canadá, bem como muitos outros simplesmente interessados em saber mais sobre a tecnologia das árvores geneticamente manipuladas.
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26 Novembro 2004As 7000 hectares de plantios de álamo da Corporação Potlatch em Boardman - Oregon são de tão alta tecnologia quanto um plantio pode ser. As árvores são plantadas em solo desértico arenoso e unicamente crescerão por causa de dezenas de milhares de quilômetros de delgadas mangueiras pretas. A água, os fertilizantes e os pesticidas são bombeados para as árvores através de tubos de irrigação provindos da Represa John Day, construída pelo Corpo de Engenheiros da Armada dos EUA, em 1971. Essa represa é uma das 19 que bloqueiam o Rio Columbia e que tem devastado as pescarias de salmão no rio.