As florestas providenciam o sustento para centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro e, em especial, nas áreas tropicais. A realização de quaisquer atividades que implicarem desmatamento ou degradação da floresta terá, portanto, um impacto direto tanto sobre os meios de sobrevivência dessas pessoas quanto na sua saúde.
Um dos efeitos imediatos que acarreta a perda de floresta é a diminuição da disponibilidade dos alimentos providenciados pela flora e fauna das florestas, tais como frutas, sementes, raízes, mel, vegetais, fungos, insetos, carne e assim por diante. O resultado será a subnutrição que cria as condições para o desenvolvimento de doenças, em especial- ainda que não exclusivamente- em crianças.
Boletim Nro 97 - Agosto 2005
Florestas, plantações e saúde
TEMA CENTRAL DESTE NÚMERO: FLORESTAS, PLANTAÇÕES E SAÚDE
Poucas vezes as pessoas relacionam as florestas com os problemas de saúde. Quando muito, as florestas – particularmente em áreas tropicais – são consideradas como uma fonte presente e futura de medicinas que podem providenciar a cura para numerosas doenças dos seres humanos. Devido ao recente encontro no Equador da Segunda Assembléia da Saúde dos Povos, decidimos que era um bom momento para dedicar integralmente um boletim do WRM a fim de compartilharmos informações a respeito deste assunto. Esperamos que a informação providenciada sirva para gerar consciência tanto da importância que as florestas têm para a saúde humana quanto do impacto que o desmatamento, a degradação das florestas e a monocultura de plantações de árvores têm sobre a saúde de milhões de pessoas mundo afora.Boletim WRM
97
Agosto 2005
NOSSO PONTO DE VISTA
FLORESTAS E SAÚDE
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14 Agosto 2005A floresta é berço de diversidade, o que quer dizer origem de vida. Quando a floresta está sã, dela brota a água, o ar é mais puro e cheiroso, de seus múltiplos recursos é possível obtermos amparo, nos dá de presente alimentos, a arte se expressa na miríade de cores e matizes que se desdobram e ocultam ciclicamente, e em meio de toda essa beleza e prodigalidade é possível sentir de alguma forma o amor que a natureza divide com todos seus seres.
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14 Agosto 2005Em uma tentativa de construir ou de fazer um novo chamamento para uma visão holística da saúde como uma condição equilibrada na que a alegria de viver possa emerger, pode ser relevante refletirmos a respeito de diferentes modos de viver- por exemplo, sobre um tão diferente do moderno e supostamente avançado modo de viver ocidental quanto o dos caçadores coletores. Os caçadores coletores consomem anualmente menos energia per capita que qualquer outro ser humano. Ao fazermos uma análise, a inicial sociedade farta não era outra a não ser aquela dos caçadores – nela, todas as necessidades materiais podiam ser facilmente satisfeitas.
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14 Agosto 2005“Se nos mostró que nuestra vida existe con la vida arbórea, que nuestro bienestar depende del bienestar de la vida vegetal...” es lo que leo una y otra vez en el “Mensaje al Mundo Occidental” enviado por la Confederación de las Seis Naciones Iroquesas, al noroeste del continente norteamericano, a las Naciones Unidas, 1977. "Apontaram para nós que nossa vida existe com a vida arbórea, que nosso bem- estar depende do bem- estar da vida vegetal..." é o recado que leio uma e outra vez na "Mensagem ao Mundo Ocidental" enviado pela Confederação das Seis Nações Iroquesas, no noroeste do continente norte- americano, às Nações Unidas, 1977.
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14 Agosto 2005Assim como outros Povos Indígenas, os Katu em Laos dependem das florestas para se sustentarem. Eles moram nas Montanhas Annamite, cobertas de floresta em grande quantidade, próximas da fronteira com o Vietnã, e assim praticam o cultivo rotativo e a caça e colheita para conseguirem a maior parte de seus alimentos, fibras, medicinas e materiais de construção na floresta. Até recentemente, era assim. Um novo estudo de quatro aldeias Katu na província de Sekong, no sudeste de Laos, descreve os impactos que o meio ambiente deteriorado e as restrições sobre seus meios de vida tradicionais vêm atingindo a dieta, saúde, cultura e modos de vida do povo Katu.
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14 Agosto 2005De 17 a 23 de julho, em Cuenca, Equador, mais de 1300 participantes provindos de 80 países dos cinco continentes se reuniram sob a ordem "As vozes da terra nos convocam" a fim de analisarem os problemas de saúde global e traçar estratégias de promoção de saúde para tod@s. A declaração final do evento identifica, como principal causa da deteriorização das condições de saúde da maioria da população mundial, as políticas neoliberais que transferem riqueza do Sul para o Norte, de pobres a ricos e do setor público para o privado. A privatização dos bens públicos e o "livre comércio"- contexto do neoliberalismo- conta com a Organização Mundial de Comércio (a OMC) e as Instituições Financeiras Internacionais para controlar os fatores que influenciam a saúde.
ATIVIDADES INDUSTRIAIS, FLORESTAS E SAÚDE
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14 Agosto 2005Milhares de indígenas são deslocados de suas terras, militarizados e expropriados em genocídios que não acabam mais. A exploração petroleira acarreta danos que não são indenizados, sem consulta às comunidades e com a anuência dos governos de plantão. Empresas transnacionais tais como a Shell, Repsol e Maxus se apoderam de espaços territoriais sob o pretexto da “utilidade pública”, poluem a água e os leitos de rios, desmatam a floresta virgem e geram impactos que destroem o futuro.
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14 Agosto 2005Em 2000, a equipe de pesquisa do Banco Mundial sobre o Controle da Poluição Industrial publicou um relatório intitulado “Indústrias Verdes”. O relatório decorrente de “seis anos de pesquisa, experiências de políticas e observação direta”, descreve a planta asiática de papel e celulose PT Indah Kiat como uma “história bem- sucedida”. As operações da planta Indah Kiat em Perawang, Sumatra contam uma história diferente, ao menos para a população local. A Indah Kiat começou sua primeira planta de celulose em Perawang no ano de 1984 com uma fábrica obsoleta importada do Taiwan. As 100.000 toneladas ao ano produzidas pela planta de celulose usava cloro e seus resíduos eram despejados no Rio Siak.
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14 Agosto 2005O herbicida com glifosato foi identificado em 1974 por John Franz, um cientista que trabalhava para a multinacional agro- industrial Monsanto, com base nos EUA. Atualmente, a Monsanto se orgulha do fato de seus produtos com glifosato, que incluem o herbicida Roundup estarem “entre os herbicidas mais amplamente usados no mundo”. O glifosato age interferindo no metabolismo da planta e poucos dias depois de ser espargido, as plantas murcham, ficam amareladas e morrem. Os herbicidas com glifosato também contém produtos químicos que fazem que o herbicida transpasse as folhas e portanto o glifosato pode passar da superfície da planta até as células.
IMPACTOS DAS PLANTAÇÕES SOBRE A SAÚDE
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14 Agosto 2005Entre 1994 e 2004, a quantidade de florestas nativas e fazendas que foram transformadas em plantações de monocultura de árvores na Tasmânia quase se quadruplicaram- atingindo 207.000 hectares. A maioria das fazendas substituídas usava métodos orgânicos ou métodos que envolviam o uso de muito poucos produtos químicos se comparados com a grande dependência dos produtos químicos que apresentam as monoculturas de árvores que ocupam agora o lugar delas.
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14 Agosto 2005A anexação do território Mapuche ao estado chileno e a imposição de seu sistema jurídico sobre todos os povos originários que coexistem no país marca uma mudança profunda nos modos de viver do povo Mapuche. Entre 1881 e 1907, a população Mapuche, despojada de seu território, sua autonomia e os bens gerados como sociedade agropecuária, foi vítima da fome e de doenças que provocaram cerca de vinte mil vítimas.
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14 Agosto 2005Os riscos para a saúde humana associados com as plantações de árvores geneticamente modificadas, embora sejam praticamente improvisados, são significativos e além disso, legitimam a convocação mundial para proibir as árvores transgênicas. Os riscos para a saúde podem ser divididos nas seguintes categorias: a exposição a produtos químicos perigosos (como o herbicida RoundUp) empregados nas plantações; os efeitos nocivos da inalação do pólen das árvores que produzem a toxina bacteriana Bt; os perigos associados com o consumo de frutas provindas de árvores transgênicas; e as ameaças decorrentes do uso de marcadores resitentes aos antibióticos no desenvolvimento de árvores transgênicas.
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14 Agosto 2005As florestas da Indonésia pegaram fogo mais uma vez. A fumaça dos incêndios de Sumatra provocaram o pior nevoeiro na Malásia desde 1997. Um insalubre nevoeiro de fumaça (uma mistura de pó, cinzas, dióxido de sulfureto e dióxido de carbono) cobriu a principal cidade da Malásia, Kuala Lumpur e outras 32 cidades. As escolas foram fechadas e os hospitais ficaram lotados com pacientes com doenças respiratórias. Dados do Serviço de Saúde Riau da Indonésia informaram que mais de 1990 pessoas experimentaram infecções do aparelho respiratório superior e problemas nos olhos. A Malásia se declarou em estado de emergência no dia 11 de agosto já que as taxas de poluição do ar dispararam até atingirem níveis extremamente perigosos na costa oeste.