Laos: na panela -a dieta do Povo indígena Katu e seus meios de vida

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Assim como outros Povos Indígenas, os Katu em Laos dependem das florestas para se sustentarem. Eles moram nas Montanhas Annamite, cobertas de floresta em grande quantidade, próximas da fronteira com o Vietnã, e assim praticam o cultivo rotativo e a caça e colheita para conseguirem a maior parte de seus alimentos, fibras, medicinas e materiais de construção na floresta. Até recentemente, era assim.

Um novo estudo de quatro aldeias Katu na província de Sekong, no sudeste de Laos, descreve os impactos que o meio ambiente deteriorado e as restrições sobre seus meios de vida tradicionais vêm atingindo a dieta, saúde, cultura e modos de vida do povo Katu.

Jutta Krahn, nutricionista do Departamento de Alimentação e Economia Mundiais da Universidade de Bonn na Alemanha, passou dois anos documentando exatamente o que os Katu comiam. Duas das aldeias Katu que ela observou, a Ban Tham Deng e a Ban Thong Kai no distrito de Kaleum, estão circundadas por floresta. As outras duas, a Ban Kandon Mai e a Ban Nongbong no distrito de Thateng são próximas de rodovias na floresta severamente degradada mas com acesso aos serviços governamentais e comerciais.

Krahn registrou cerca de 100 plantas e animais que faziam parte da dieta tradicional dos Katu. A pesquisa revelou que, no início da década de 1960, os Katu comiam uma ampla variedade de frutas e vegetais e carne silvestre que satisfaziam seus requerimentos nutricionais. Atualmente, os Katu consomem mais arroz e menos carne silvestre, colheitas de raízes e tubérculos, e menos “alimentos que satisfazem” com amido como grãos grossos e milho.

O preparo tradicional e as técnicas de tempero estão desaparecendo, levando a diminuição de nutrientes na alimentação. Por exemplo, explica Krahn, os pequenos animais ou pássaros tradicionalmente cozidos pelos Katu ao amassarem a carne com todos os ossos e cartílagos em um tubo de bambu que é cozinhado lentamente sobre o fogo. “Este tipo de picadinho de carne contém grande quantidade de cálcio e ferro. Se a mesma comida fosse preparada de outra forma, os minerais não seriam absorvidos tão facilmente.”

Krahn encontrou que os Katu consomem menor quantidade de ferro, zinco, cálcio, vitamina B, gordura e proteína do que no passado. As crianças de todas as aldeias pesquisadas sofreram altos níveis de retardamento do desenvolvimento e de enfraquecimento chegando muitos deles a estarem abaixo do peso normal. A introdução da produção de arroz em terras alagadas não tem substituído a perda da produção seca de arroz em terras em barbecho. A cultura de vegetais e frutas não tem substituído os índices reduzidos de colheita de vegetais e frutas silvestres..

Os Katu que moram nas aldeias Ban Tham Deng e Ban Thong Kai têm uma dieta melhor que aqueles que moram próximos dos comércios. “As aldeias na floresta têm um consumo consideravelmente mais alto de carne silvestre e também de frutas e vegetais”, afirma Krahn. “Nas duas aldeias próximas do comércio, Ban Nongbong and Ban Kandon Mai, existem famílias que fazem apenas duas refeições ao dia.”

Os Katu estão enfrentando novos problemas de saúde, inclusive malária e infestação de vermes, que eles dizem que são muito piores do que no passado.

Krahn acredita que os impactos do bombardeio dos EUA e a pulverização de defolhantes durante a guerra contra o Vietnã necessitam, urgentemente, ser melhor pesquisados. Os Katu disseram a ela que, no início da guerra, os peixes morriam e flutuavam mortos nos rios. Eles contaram para ela das deformidades do seu gado e das mães que tinham filhos com defeitos de nascença. Krahn está preocupada porque “dioxinas e furanos são duradouros no ecossistema. Eu acredito que ainda estão presentes.”

O corte de madeira é desenfreado na província de Sekong, ameaçando as florestas dos Katu. Em 2002, de acordo com um relatório de Charles Alton, um consultor das Nações Unidas, e Houmphan Rattanavong, do Conselho Nacional de Ciência de Laos, uma companhia chegou a Ban Tham Deng com uma pilha do que parecia serem documentos oficiais e começou a cortar a floresta. Então os lenhadores vieram e começaram a cortar as árvores de Aquilaria. Estas árvores são altamente valiosas por terem uma resina usada para produzir medicinas, incensos e perfumes. De 1999 a 2000, o rattã de Ban Tham Deng foi cortado “quase ao ponto da destruição total”, observaram Alton e Houmphan. Nesses casos, os moradores de Ban Tham Deng não receberam nada em troca.

Krahn sugere que uma nova abordagem de “estratégias de segurança alimentar” é necessária em Laos, que leve em consideção tanto os aspectos culturais da nutrição e alimentação bem como o meio ambiente.

Ela sustenta: “Meu ponto de partida seria estudar os diferentes grupos étnicos, suas culturas de alimentação, e de cozinhar e suas dietas. Porque não existe informação nem do governo nem de organizações de desenvolvimento que se focalize na produção de alimentos, especialmente de arroz em áreas alagadas. Eu diria que o governo e as organizações para o desenvolvimento poderiam nivelar esta situação facilitando maiores pesquisas e detalhando os conceitos de segurança alimentar para os variados grupos étnicos e os diferentes lugares geográficos.”

É importante observar tanto a qualidade quanto a quantidade de alimentos. Ao mexer na panela com as mulheres Katu, que são as responsáveis pela saúde de sua família, poderiam ser conseguidos resultados adicionais em termos de optimizar o consumo de nutrientes, disse Kranh.

Por Chris Lang, e-mail: chrislang@t-online.de Jutta Krahn pode ser contatada através do correio: jukrahn@gmx.de Um resumo de seu relatório sobre os Katu está disponível na página: http://www.wrm.org.uy/countries/Laos/Katu.html