Na região do Chaco Paraguaio, em um área que abrange parte dos Departamentos de Alto Paraguai e Boquerón, habita o grupo Ayoreo (auto- denominado Ayoréode: "os homens ou as pessoas verdadeiras"), formado por diversos clãs.
O território de uso tradicinal do povo Ayoreo sempre tem sido extenso e com características ecológicas de alta diversidade biológica que possibilitam um aproveitamento múltiplo em termos econômicos e nutritivos. Inclui quase todo o Chaco boreal, com exceção das regiões próximas aos grandes rios e parte da zona de transição entre o Chaco e as savanas de Mojos na Bolívia, totalizando uma superfície de 2.8 milhões de hectares.
Os Ayoreo, na sua grande maioria, foram deslocados ao serem ocupadas suas terras para atividades agropecuárias. Essa situação os submeteu a um alto grau de dependência das missões religiosas e do mercado regional. Contudo, um desses clãs, os Totobiegosode ("as pessoas do lugar do caititu"), tem conseguido continuar morando lá em situação de isolamento voluntário, aplicando sistemas econômicos de uso do território com base na caça e a colheita, sendo que para isso é indispensável a conservação das florestas, lagoas, riachos e campos naturais.
Porém, nas últimas décadas, a contínua ocupação de suas terras bem como o desmatamento e a destruição dos hábitat que constituem sua base produtiva, acarretou a redução de seus territórios já que sua mobilidade ficou diminuida devido à destruição dos recursos naturais. Este processo tem se apoiado na escassa vontade política e econômica em deterem o crescimento das fronteiras pecuárias sobre o remanescente final de seus antigos domínios.
Em face da indefensabilidade desses grupos, instituições nacionais competentes, com apoio de organizações da sociedade civil como "Iniciativa Amotocodie" e o Grupo de Apoio aos Totobiegosode (GAT), impulsionaram, como medida de proteção em nível governamental, um plano de ampliação da Reserva da Biosfera do Chaco Paraguaio, incorporando dentro de seus limites o Patrimônio Natural e Cultural Ayoreo Totobiegosode.
Paralelamente, o governo solicitou que o Chaco Paraguaio fosse tombado como Reserva da Biosfera da Rede Mundial da UNESCO. A boa notícia é que a UNESCO acaba de dar seu reconhecimento formal à Reserva de Biosfera Gran Chaco proposta, que, a pedido do Comitê de Gestão da Reserva de Biosfera Gran Chaco, abrange todo o Norte do Chaco Paraguaio e se estende incluindo também as ampliações promovidas pela Iniciativa Amotocodie (que, como instituição é membro do mencionado Comitê de Gestão) e pelo GAT, quer dizer, toda a área de Amotocodie bem como a área do Patrimônio Cultural e Natural criado pelo GAT na área leste do hábitat dos Totobiegosode.
A outra boa notícia é que a Iniciativa Amotocodie conseguiu concretizar a primeira compra de terras em Amotocodie. Trata-se de um lote de 3.740 hectares que fazem parte do hábitat atual de um dos grupos em isolamento voluntário, para quem estão destinadas as terras compradas e à etnia Ayoreo, em geral.
A concretização desta primeira aquisição foi possível graças à contribuição do NC- IUCN (Comitê Holandês da União Internacional para a Conservação da Natureza) e a uma importante doação complementar provinda de uma pessoa amiga da causa dos Ayoreo.
A presença dos Totobiegosode na área é uma garantia de preservação já que sua cultura, que lhes permitiu a convivência durante séculos com seu ambiente sem destruí-lo, também os transformou nos melhores guardiões da natureza. Como diz Benno Glauser, da Iniciativa Amotocodie, "Isto é uma parte do que os Ayoreo da floresta, com seu jeito de ser cultural, espontâneo e natural, contribuem para o mundo de hoje: um jeito diferente e diverso de ser, que não apenas sustenta a integridade ambiental da floresta do Chaco em que moram, mas que ao mesmo tempo sustenta uma consciência e presença diversa que sem eles estaria em falta para o mundo de hoje".
Artigo baseado em informação obtida de: notícias enviadas por Benno Glauser, Iniciativa Amotocodie, correio electrônico: bennoglauser@quanta.com.py; Los Ayoreo Totobiegosode, http://www.dgeec.gov.py/Publicaciones/Biblioteca/Web%20Atlas %20Indigena/171%20Plantilla%20Ayoreo%20toto.pdf; Los Ayoreo Totobiegosode del Chaco Paraguayo, http://www.gat.org.py/es/index.htm