Malásia: transformação de florestas de mangue em granjas camaroneiras

Imagem
WRM default image

O chapim real (Parus major) verde escuro e amarelo pertencem a uma espécie de pássaros que têm seu abrigo nos pântanos de mangue litorâneos da Malásia e ambos estão desaparecendo já que o país redobra os esforços para impulsionar a agricultura.
Os agricultores voltados para o comércio estão transformando os pântanos em Kuala Selangor, a 90 km (56 milhas) ao noroeste da capital, Kuala Lumpur, em granjas camaroneiras e assim estão ameaçando um delicado ecossistema que abriga centenas de espécies.

Os produtos florestais e marinhos obtidos dos manguezais fornecem uma fonte de renda para os povoadores. Mas também, os manguezais formam um pára- choque natural que protege contra o mar embravecido ou as tsunamis, tais como aquelas que atingiram partes da Malásia peninsular em dezembro do ano passado e mostraram a importância dos manguezais para a vida humana e dos ecossistemas.

As florestas de mangue protegeram várias ilhas indonésias e o litoral noroeste da Malásia das piores conseqüências das tsunami, induzindo o Primeiro Ministro da Malásia Abdullah Ahmad Badawi a fazer um apelo para a preservação desses manguezais. "Os manguezais não devem ser tocados, eles agem como uma barreira contra as grandes ondas... eles quebram as ondas," disse Abdullah.

Os manguezais têm exuberantes e complicados sistemas de raízes que combatem a erosão do solo ajudando, em conjunto, a segurar a costa, formando uma proteção contra as ondas destrutivas e mantendo um ecossistema variado que abriga insetos, peixes e lontras. Os fiddler crabs azuis e laranja (crustáceos do gênero Uca) andam a passos rápidos de um lado para o outro ao longo do pântano em Kuala Selangor com peixes de lama (Boleophthalmus boddaerti) e lesmas enquanto macacos silver- leaf (Presbytis cristata) se penduram dos galhos das árvores entre os que esvoaçam 156 variedades de pássaros.

Porém, uma extensão de 8 quilômetros (5 milhas) de floresta de mangue foi transformada em granja camaroneira em Kuala Selangor no início deste ano. As estatísticas do Departamento Florestal mostraram que a península da Malásia tinha 85.800 hectares (214.500 acres) de florestas de mangue em 2003, o que significa diminuição da superfície de 86.497 hectares que havia em 2002.

"Nós não procuramos lesmas nem outras coisas aqui. Antes, nós costumávamos conseguir em torno de 30 quilos (66 libras) mas agora não há nada. Nós apenas vivemos à custa do que restou aqui," disse o povoador Hassan Yatim, enquanto coletava paus de árvore de mangue para sua parcela de vegetais.

As granjas camaroneiras também têm alterado o modo de vida e a dieta dos animais no pântano de Kuala Selangor. Agora, os guarda- rios comuns (Alcedo Althis), picanços (do gênero Lanius) e aves pernaltas do local se dirigem para as granjas a fim de conseguir facilmente as sobras em vez de caçar suas presas na densa floresta de mangue do parque natural de 200 hectares. As lontras também rumam direto para as granjas camaroneiras, especialmente quando os trabalhadores da granja distribuem alimentos aos camarões.

Apesar da ameaça para o ecossistema, o Departamento Florestal afirma que as granjas são legais como parte dos pântanos de Kuala Selangor e agora estão classificadas como terras agrícolas em vez de reservas florestais como eles eram antigamente.

Ao mesmo tempo que os benefícios no curto prazo vão para as companhias voltadas para o negócio camaroneiro, as grandes perdas em termos de ambiente e sustento serão criadas para a população local.

Extraído e adaptado de: “Development Threatens Malaysia's Mangroves”, Jahabar Sadiq, Reuters News Service, distribuído por The Mangrove Action Project News, 158º Edição, julho de 2005, E-mail: mangroveap@olympus.net