A engenharia genética avança às pressas em seu afã por fornecer árvores geneticamente desenhadas para as plantações comerciais, incorporando características como resistência a herbicidas, produção de inseticidas, rápido crescimento e baixo conteúdo de lignina nas árvores, para adaptá-las às exigências do mercado.
A tentativa de alterar árvores geneticamente faz parte de uma longa história de tentativas de transformação de ecossistemas diversos em fábricas de produção para um único uso. Com a Revolução Verde iniciada na década de 1950, que implicou a industrialização e "mercantilização" da agricultura, o sólido paradigma do manejo florestal diversificado vem sendo crescentemente substituído por um modelo em que não há margem para outros usos da floresta, afora a extração de fibra de madeira, sendo a sua máxima expressão o plantio de monoculturas de árvores em grande escala.
Em mais um passo nessa direção, as indústrias estão se juntando a algumas autoridades do governo e universidades, para tornar real as plantações de árvores geneticamente alteradas. Embora afirmem que estão avaliando os possíveis impactos ambientais, surgem, no mundo todo, experiências de campo com árvores geneticamente alteradas. Essas experiências não estão isoladas do entorno, e o seu impacto no meio ambiente é imprevisível. As primeiras espécies transgênicas a serem utilizadas comercialmente em plantações serão o álamo, o pinheiro e o eucalipto. As árvores transgênicas envolvem uma série de ameaças, entre elas, a perda de milhões de quilômetros quadrados de floresta, a perturbação de populações de insetos, pássaros e fauna silvestre, a poluição da água e do solo e o incremento do uso de herbicidas e praguicidas. Também provocarão a inevitável e irreversível poluição das florestas com pólen alterado geneticamente, dando lugar a um contínuo efeito dominó.
No seio da comunidade acadêmica e da sociedade civil, surgem vozes que se opõem fortemente a essa tendência. Em março de 2002, foi lançada uma campanha contra as árvores transgênicas, organizada pela Action for Social & Ecological Justice (ASEJ, antigo Eastern North American Resource Center, da Native Forest Network), membro fundador da Aliança Global contra as Árvores Geneticamente Manipuladas (Global Alliance Against Genetically Engineered Trees - GAAGET). No começo do outono do ano 2002, a ASEJ realizou sessões de estratégia regional nas quatro regiões dos Estados Unidos mais intensamente envolvidas em pesquisa e desenvolvimento de árvores geneticamente alteradas. Seguidamente, foi realizada uma sessão de estratégia nacional, em que participaram grupos como a Rainforest Action Network, a Dogwood Alliance e o Forest Ethics. O objetivo dessa campanha é conseguir a proibição internacional do uso de árvores transgênicas no meio ambiente, incluindo locais de experiências e aplicações comerciais.
Também temos boas notícias. A Kinkos, a gigante das fotocópias, anunciou que não trabalharia com fornecedores que usam árvores geneticamente alteradas. Essa é a primeira medida desse tipo, em relação às árvores transgênicas, e é um passo transcendente e inovador rumo à eliminação das graves ameaças ecológicas que representam as árvores geneticamente alteradas.
"Elogiamos a decisão da Kinkos e parabenizamos a Rainforest Action Network e a Dogwood Alliance por essa importante vitória", declarou Brad Hash, responsável pela campanha contra árvores geneticamente manipuladas da ASEJ, quem confia em que isso seja apenas o início de uma onda que se propagará pela indústria toda. A ASEJ comunicará os seus objetivos enquanto organização na conferência da Coalizão Solidária com a América Latina (Latin American Solidarity Coalition - LASC), a ser realizada em Washington DF na segunda semana de abril. Essa conferência foi escolhida como ponto de partida, devido às iminentes ameaças que representam as árvores transgênicas para as florestas e povos indígenas da América Latina. A campanha incluirá dias nacionais de ação em localidades-chave dos Estados Unidos.
Artigo baseado em informação obtida em: "Kinkos Policy Major Step Toward GE Tree Eradication", release da ASEJ, 13 de março de 2003, enviado por Elizabeth Bravo, Ação Ecológica, correio eletrônico: ebravo@accionecologica.org; "ASEJ's Campaign Against Genetically Engineered Trees", Action for Social and Ecological Justice, correio eletrônico: info@asej.org, http://www.asej.org/getrees.html, "GE Trees", Global Alliance Against GE Trees, correio eletrônico: gaaget@gaaget.org; http://www.gaaget.org.