Desde sua fundação em 1956, a Corporação Financeira Internacional (IFC, sigla em inglês) tem entregado mais de US$ 44 bilhões dos seus próprios fundos e providenciado um adicional de US$ 23 bilhões em empréstimos para 3.143 companhias em 140 países. De acordo com sua missão declarada, a IFC existe para “promover o investimento sustentável do setor privado nos países desenvolvidos, ajudando a reduzir a pobreza e a melhorar a vida das pessoas.”
Porém quando fala com a indústria, o pessoal da IFC ocasionalmente deixa deslizar o real propósito da IFC. “Nós estamos abertos aos negócios”, anunciou Tatiana Bogatyreva, uma funcionária sênior de investimento com a IFC, em uma conferência da indústria da embalagem, em Moscou no início deste mês. A conferência foi organizada pelo Instituto Adam Smith, um grupo de extrema direita que faz lobby em prol da privatização e incluiu reuniões tais como “A embalagem como uma ferramenta de marketing” e uma “Mesa- redonda festiva” com executivos da indústria da embalagem. Bogatyreva disse na reunião que a IFC está disposta a financiar mais projetos para o setor da embalagem.
A diferença das outras instituições do Grupo do Banco Mundial, a IFC providencia empréstimos diretamente às companhias, em vez de fazê-lo aos governos. Os benefícios para as companhias são claros. Tanto como providencia financiamentos baratos no longo prazo, a IFC providencia conselho sobre mercados emergentes, setores industriais e estrutura financeira. E a IFC pode ajudar a conseguir financiamento de projetos provenientes de bancos comerciais, tanto como providenciar financiamento nos moldes da compra de ações (“equity” em palavras da IFC) das companhias.
Durante várias décadas, a IFC tem sido o maior patrocinador dos projetos de celulose e papel no mundo inteiro. Nos últimos meses, a IFC tem aprovado empréstimos para projetos de celulose e papel no Paquistã, China, Brasil, Jordânia e República Kyrgyz. Na China, a IFC está protagonizando um importante papel no financiamento da expansão do setor florestal industrial.
Em setembro de 2001, a IFC emprestou um total de US$ 25 milhões a duas subsidiárias da Corporação Sino- Forest para a construção de duas plantas de produção de artigos de madeira e a compra de plantações na China. A Sino- Forest, uma companhia canadense, tem uma área de cerca de 240.000 hectares de plantações no sul da China. A companhia está, atualmente, expandindo sua área de plantação em 200.000 hectares na Província de Guangdong.
Em dezembro de 2004, a IFC anunciou um pacote de financiamento para a Companhia Jiangxi Chenming Paper por uma fábrica de papel de 350.000 toneladas por ano e uma fábrica de celulose associada. A Jiangxi Chenming é uma joint venture entre a Sappi (Africa do Sul), Shinmoorim (Coréia do Sul), Chenming Group (China) e Jiangxi Paper Industry Company Limited (China). A IFC vai comprar algumas ações na companhia e vai providenciar empréstimos à companhia. O valor total das ações e os empréstimos será de US$ 72.9 milhões. E ainda vai conseguir um financiamento adicional de US$ 205 milhões para o projeto.
Em junho de 2005, a Stora Enso assinou um acordo de empréstimo com a IFC por US$ 75 milhões para financiar as atividades da Stora Enso na China. O dinheiro será dirigido às plantações de eucalipto da Stora Enso na província de Guangxi no sul da China e a uma expansão planejada da Fábrica Suzhou da companhia.
As companhias que recebem empréstimos da IFC freqüentemente reivindicam que o empréstimo é um tipo de aprovação independente das atividades da firma. Allen Chan, o Presidente e CEO da Sino- Forest, depois de sua companhia ter recebido um empréstimo da IFC disse, ” A contribuição da IFC é um endosso da Sino- Forest como uma das líderes em manejo florestal sustentável na China.”
Quando a IFC concordou com o empréstimo à Stora Enso, Markku Pentikäinen, chefe da Stora Enso na Ásia e no Pacífico, disse, “Nós temos o prazer de mencionar que investidores tais como a IFC apreciam nossa abordagem de sustentabilidade tanto nas operações florestais quanto na produção de papel. A IFC estabelece um bom exemplo para outros investidores na região através de sua ênfase no investimento socialmente responsável.”
Mesmo que a IFC tenha uma série de políticas que poderiam significar que os projetos são contra os padrões ambiental e social, a realidade é que a IFC prefere fazer negócios a defender padrões.
Em novembro de 2004, a IFC aprovou um empréstimo de US$ 50 milhões a uma gigante companhia de celulose no Brasil, para financiar a expansão das operações de plantações e celulose da companhia. A IFC concedeu o empréstimo a pesar das contínuas disputas territoriais contra a companhia.
Em abril de 2005, representantes de 64 ONGs escreveram ao então presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn para pedir que a IFC cancelasse o empréstimo à Aracruz. Em sua resposta, Atul Mehta, diretor do Departamento para a América Latina e o Caribe da IFC, rejeitou as contínuas reclamações territoriais contra a companhia e afirmou que “os problemas da disputa territorial foram completamente revisados durante a avaliação da IFC.”
Uma semana depois de Mehta ter enviado sua carta, 500 Índios Tupinikim e o povo Guarani cortaram milhares de eucaliptos para demarcar 11.008 hectares de suas terras, onde a Aracruz tinha estabelecido suas plantações de eucaliptos. “Com esta ação, “os Tupinikim e Guarani escreveram ao Ministro da Justiça do Brasil, “queremos expressar a toda a nação brasileria que a terra pertence às nações Tupinikim e Guarani, e deveria ser devolvida a fim de nós podermos construir nosso próprio futuro, garantindo nossa liberdade e autonomia, e o futuro de nossos filhos e netos.”
Com o apoio à Aracruz e ao setor da celulose e do papel, em geral, a IFC deixa claro qual é seu negócio: providenciar dinheiro público para benefício privado.
Por Chris Lang, e-mail; chrislang@t-online.de