Freddy Molina pertence à diretoria da Associação Coordenadora Indígena e Camponesa de Agroflorestação Comunitária Centro- americana (ACICAFOC). A ACICAFOC é uma organização social de base comunitária na América Central sem fins lucrativos, que congrega associações, sociedades, cooperativas, federações e organizações locais e é liderada por pequenos e médios produtores agroflorestais, povos indígenas e camponeses. Esses grupos trabalham pelo acesso, uso e manejo dos recursos naturais, dirigindo-se a garantir a alimentação e a sustentabilidade econômica das comunidades em harmonia com o meio ambiente. A ACICAFOC é também membro fundador do Caucus Mundial para o Manejo Florestal Comunitário . O senhor Molina esteve no Fórum sobre as Florestas das Nações Unidas e respondeu algumas perguntas sobre sua comunidade, as florestas e o UNFF.
1. Onde o senhor mora?
Moro em uma das comunidades próximas à Reserva da Biosfera Maia, no Distrito de Petén, na Guatemala, C.A. Esta reserva tem um tamanho de dois milhões e cem mil hectares e está formada por parques nacionais, corredores biológicos, concessões comunitárias e concessões industriais.
2. Conte- nos a respeito da comunidade e da floresta onde o senhor mora
Minha comunidade leva o nome de uma árvore, "El Caoba" (Swietenia macrophylla) e nove comunidades pertencem a minha organização. Quanto a nossas florestas, costumávamos considerá-las nosso inimigo. Desmataríamos nossas terras para plantar milho e grãos e para criar áreas de pastoreio para gado vacum. Agora as florestas são nossas aliadas, desde que o Governo da Guatemala nos deu uma concessão comunitária florestal que nos fornece um meio de vida, educação e saúde através do manejo sustentável.
3. O que a ACICAFOC faz e qual o seu papel na organização?
A ACICACOF é um processo comunitário que nos pertence. Foi nosso suporte para desenvolver a capacidade local, nos ajudou a ver as coisas de forma diferente e nos deu uma nova perspectiva através da experiência compartilhada e esclarecendo o caminho para nossa participação ativa- e não como antes, quando outros nos falavam de como atingir projetos que viriam beneficiar nossas comunidades. Sou o presidente desta organização comunitária na América Central.
4. Quais os principais problemas enfrentados por sua comunidade e suas florestas?
Começamos gerando trabalhos, aperfeiçoando a qualidade de vida, treinando, diminuindo pobreza, mudando atitudes, promovendo respeito pela floresta e pelo trabalho em equipe. Porém, até agora, não conseguimos envolver todos nossos vizinhos porque são processos novos. Aqueles que ainda não se beneficiaram com esses processos continuam destruindo a floresta. Por isso nós estamos criando programas de compreensão ligados à floresta, tais como recursos não madeiráveis, ecoturismo, serviços meio- ambientais para produções orgânicas, etc.
5. Como o governo da Guatemala aborda os direitos dos povos indígenas e comunidades, e o manejo florestal?
Em virtude das convenções internacionais, a pressão externa, o envolvimento de nossos povos indígenas no governo e os acordos de paz, ganhamos terreno. Ainda há um longo caminho a percorrer, embora os povos indígenas tenham recebido algum reconhecimento e o racismo tenha diminuido nos últimos tempos. A respeito das florestas, o objetivo das concessões de comunidades florestais na Guatemala é o resultado de acordos de paz. (cerca de meio milhão de hectares em mãos de comunidades)
6. Esta é sua primeira vez no UNFF? O que o senhor acha desse processo? O que o senhor obteve desse processo ou o que o senhor espera obter ao sair dele? O senhor está contente de ter participado, sente que fez um bom investimento de seu tempo?
Esta é minha segunda vez. Este processo é bom e pode ser melhor ainda. Tive a oportunidade de apresentar nossa experiência. Considero que minha experiência encorajou todos os que sempre acreditaram que o melhor caminho para salvar nossas florestas é envolver as comunidades no manejo sustentável. Também mostrei que a experiência da Guatemala deve ser levada em consideração.
7. O que o senhor acha do comportamento de seu governo no UNFF- 4? Em especial, em relação aos direitos dos povos indígenas e das comunidades? E o que o senhor acha do modo em que agem os outros países centro- americanos?
Volto ao meu país muito contente, houve uma boa representação do governo. Nós conseguimos coordenar nossa posição em relação aos direitos dos povos indígenas e comunidades. Acho que é importante ter uma boa equipe com a influência centro- americana.
8. Se o senhor tivesse que enviar uma mensagem ao UNFF a respeito de uma recomendação para a "ação", qual seria? O que o UNFF poderia fazer pelas comunidades que dependem das florestas da Guatemala?
Eu recomendaria um diálogo da comunidade mundial e a união de esforços para conseguir ajuda internacional diretamente e não através de intermediários. Deveríamos sempre ter certeza de que novas alianças, comunidades ou outros grupos têm planos estratégicos que almejam uma verdadeira podeirização comunitária; devemos pôr um ponto final ao fato de fazer dinheiro a custas da pobreza e ignorância de nossos povos.
Para maiores informações sobre a ACICAFOC, acesse http://www.acicafoc.net/