Para as pessoas que lutam por seus direitos em áreas de florestas, a mudança climática parece estar afastada de suas preocupações imediatas. No entanto, saibam ou não, são dos atores mais importantes e comprometidos na proteção do clima da Terra.
Nro 136 – Novembre 2008
Mudança Climática
MUDANÇA CLIMÁTICA
Ao tempo em que nas salas da Convenção sobre Mudança Climática fala-se de complexas e intrincadas fórmulas e instrumentos para “vender” emissões e “compensar” a poluição- para não ressentir os grandes interesses das petroleiras, mineradoras, madeireiras, enfim, do grande capital- no mundo real os povos agem.
Toda luta em defesa das florestas é uma ação em favor do clima; toda oposição a mega-projetos que poluem e destroem é uma ação em favor do clima; toda denúncia sobre projetos que afetam a natureza é uma ação em favor do clima.
Nos artigos a seguir são descritas realidades e situações bem diversas, no entanto, em todas, sem exceções, pode ser vista a ligação com a proteção do clima. Apesar disso, o que as comunidades recebem não são aplausos senão repressão e no melhor dos casos, desconhecimento.
Está na hora de a Convenção sobre Clima olhar para o lado certo, para o lado daqueles que, de fato, agem em favor do clima. Ela tem a responsabilidade por fazê-lo.
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Boletim WRM
136
Novembre 2008
NOSSO PONTO DE VISTA
O QUE A CONVENÇÃO SOBRE MUDANÇA CLIMÁTICA NÃO VÊ
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25 Novembro 2008O modelo de desenvolvimento atual vem se aprofundando em função de modelos em larga escala - de produção, comercialização , consumo – e as atividades que o sustentam são também em larga escala e fundamentalmente intensivas. Elas são as que têm acarretado o maior problema que paira sobre a humanidade desavisada: o aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, responsáveis pela mudança climática. Uma dessas atividades econômicas industriais é o desflorestamento – geralmente para obter madeira e/ou ganhar terras para a criação industrial de gado ou para a plantação industrial de monoculturas (comestíveis, combustíveis ou árvores).
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25 Novembro 2008Na Colômbia, o governo usa a criminalização das organizações sociais e de base como um dos mecanismos de repressão voltado a impor forçadamente os agronegócios do mercado global, obras de infra-estrutura ou a extração de recursos naturais com altos custos humanos, sociais e ambientais. A criminalização tem sido uma técnica eficaz que, através de estratégias discursivas e simbólicas, combinadas com o uso formal da legalidade, deslegitima e penaliza os atores sociais que se opõem a condições injustas de trabalho, à destruição ambiental, ao desenvolvimento de políticas que prejudicam a sobrevivência do planeta que se subordina à rentabilidade e aos lucros empresariais.
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25 Novembro 2008A floresta tropical da República Democrática do Congo (RDC) –a segunda maior do mundo- está desaparecendo com a atividade madeireira. De acordo com um relatório do The Guardian (1), atualmente uma dúzia de grandes companhias,principalmente européias, dominam a indústria e têm vastas concessões: a Trans-M tem donos libaneses; um outro grupo, que controla aproximadamente 15 m de acres é propriedade dos irmãos portugueses Trindade; a família norte-americana Blattner possui mais de 2 m de acres; o Grupo alemão Danzer possui 5 m. Para fazer com que valha a pena a difícil tarefa de exportar madeira nas corredeiras perto da cidade capital de Kinshasa, a demanda é por madeira de maior qualidade para as cozinhas, revestimentos de solos e móveis europeus.
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25 Novembro 2008No dia 17 de dezembro de 2001, conforme a Portaria # R-578-2001-MINAE e de maneira furtiva, o Ministério do Meio Ambiente e Energia (MINAE) da Costa Rica outorgou à empresa Indústrias Infinito S.A., subsidiária da transnacional canadense Vanesa Ventures, o direito à exploração de uma mina de ouro a céu aberto através da lixiviação com cianeto. Indústrias Infinito S.A. planeja explorar uma área de 18 quilômetros quadrados em Crucitas, na região norte do país, entre os cerros La Fortuna e Botija, a 3 quilômetros do rio San Juan. Isso leva ao desmatamento de mais de 190 hectares de floresta (incluindo espécies interditas como a amendoeira), porque, como descreve o jornalista e opositor do projeto, Marco Tulio Araya:
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25 Novembro 2008"O Mekong é importante para as pessoas que vivem ao redor dele, talvez mais do que qualquer outro rio na terra” escreveu Fred Pearce em seu livro sobre os rios do mundo"When the Rivers Run Dry". Aproximadamente dois milhões de peixes são pescados no Rio Mekong todo ano, segundo somente depois do Amazonas. No Camboja, 70 por cento da proteína dos aldeões provém do peixe. O Mekong também é extremamente diverso, com aproximadamente 1.300 espécies de peixes, de novo segundo somente depois do Amazonas.
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25 Novembro 2008Em 15 de outubro, o Presidente da República, Econ. Rafael Correa Delgado e quatro Ministros do Estado emitiram o Decreto 1391 que regulariza a aqüicultura industrial do camarão. O Decreto tem a contradição que, de um lado reconhece a ilegalidade na que tem funcionado milhares de hectares de piscinas dedicadas à criação e cultivo do crustáceo, bem como o corte dos mangues em decorrência das atividades dessa indústria. Mas de outro lado, essa ilegalidade acaba sendo premiada na medida que se outorga em concessão à indústria camaroneira áreas que são Bem Nacional de Uso Público (ver http://www.ccondem.org.ec/imagesFTP/6940. DECRETO_1391_10_2008_1_.pdf ), violando assim 56 disposições legais que protegem o ecossistema de mangues desde a década de 70.
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25 Novembro 2008Os Vangujjars -uma tribo nômade distinta com uma muito rica herança cultural- têm estado vivendo espalhados nas terras altas de florestas indianas de Uttrakhand pelos últimos três séculos. Eles ainda levam uma vida nômade com seus búfalos e deslocamentos entre áreas altas do Himalaia no verão para áreas baixas no inverno. Eles sempre têm recebido tratamento de madrasta por todos os governos de Uttar Pradesh ou Uttrakhand. Mas a partir de outubro de 2008 o ataque aos vangujjars tem virado mais intenso e descarado. Mais de 100 aldeias foram totalmente destruídas pela administração do Parque Nacional de Rajaji.
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25 Novembro 2008A empresa mineradora ítalo-argentina TERNIUM planeja impactar cerca de 2.000 hectares de floresta tropical no município de Coahuayana, estado de Michoacán, no sudoeste do México, para extrair minério de ferro. Entre outros impactos, isso deixaria sem água a todo o município de 15 mil habitantes. O rio El Saucito já tem sido afetado, bem como a montanha e a floresta, e os povos Santa María Miramar, El Saucito, La Palmita, El Parotal e Achotán já vêm sofrendo as conseqüências e, por isso, estão solicitando junto às autoridades que declarem uma Zona de Conservação Ecológica Municipal.
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25 Novembro 2008A Nigéria possui 11700 quilômetros quadrados de floresta de mangue: a terceira maior do mundo e a maior da África. A maioria do mangue se acha no Delta do Níger. A Nigéria é também uma grande produtora de óleo e a maioria do óleo é extraído no Delta do Níger. Lá, o petróleo ou óleo cru abunda em formações rochosas. A complexa mistura de hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos que forma o combustível fóssil líquido inflamável é extraída de poços de óleo nesses campos petrolíferos. Quando o óleo cru é bombeado fora, também traz gás associado com ele. Esse gás natural poderia ser separado do óleo e usado, mas as companhias petrolíferas preferem queimá-lo. A Shell-BP foi a que começou com essa prática na década de 60.
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25 Novembro 2008Há dois anos, 5,3 milhões de hectares de lado a lado da Indonésia ficaram engolfados em chamas na pior estação de incêndios desde 1997/98. A fumaça cobria grandes porções do Sudeste da Ásia, escondendo mais incêndios de turfeiras e florestas na Malásia. Mais de 75.000 incêndios de lado a lado de Sumatra e Bornéu. O experto em turfeiras, o Professor Florian Siegert ajudou a analisar detalhes desde imagens de satélite e concluiu: “A maioria dos fogos foram acendidos para desmatar terras para plantações. Essas queimas às vezes saem de controle porque as florestas já têm sido danificadas pela atividade madeireira ilegal”.1 Agora ocorrem incêndios similares todo ano, apesar de que sua escala varia, dependendo da duração e intensidade da estação seca.
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25 Novembro 2008Apesar de toda a evidência científica que existe sobre o impacto das monoculturas de árvores em grande escala, a Convenção de Mudança Climática faz questão em promovê-las, com o falso argumento de as plantações poderem mitigar os efeitos da mudança climática ao agirem como “sumidouros de carbono”. Os impactos negativos das monoculturas de árvores em áreas florestais têm sido amplamente pesquisados e documentados em quase todos os países em que são instaladas. Contudo, a tendência é minimizar o impacto que tais monoculturas causam nas pradarias, o principal ecossistema em países como a África do Sul, Suazilândia, Uruguai, sul do Brasil e amplas áreas da Argentina, onde essas monoculturas continuam sua expansão.
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15 Novembro 2008A floresta tropical da República Democrática do Congo (RDC) –a segunda maior do mundo- está desaparecendo com a atividade madeireira. De acordo com um relatório do The Guardian (1), atualmente uma dúzia de grandes companhias, principalmente européias, dominam a indústria e têm vastas concessões: a Trans-M tem donos libaneses; um outro grupo, que controla aproximadamente 15 m de acres é propriedade dos irmãos portugueses Trindade; a família norte-americana Blattner possui mais de 2 m de acres; o Grupo alemão Danzer possui 5 m. Para fazer com que valha a pena a difícil tarefa de exportar madeira nas corredeiras perto da cidade capital de Kinshasa, a demanda é por madeira de maior qualidade para as cozinhas, revestimentos de solos e móveis europeus.
CONTRIBUIÇÃO DO WRM COM O DEBATE SOBRE MUDANÇA CLIMÁTICA
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25 Novembro 2008Como contribuição para facilitar o envolvimento da sociedade civil na proteção do clima da Terra, o WRM tem publicado recentemente quatro relatórios relacionados com a mudança climática: