A floresta é o lar de muitos povos, incluída uma parte substancial da população indígena. Segundo um estudo de 1992 sobre a situação dos povos indígenas nas florestas tropicais, financiado pela União Européia, as áreas de floresta tropical do mundo eram habitadas por aproximadamente 12 milhões de índios, 3,5% do total da população da área em estudo. Esse número não inclui índios habitando outros tipos de floresta.
Boletim Nro 79 - Fevereiro 2004
As mulheres e as florestas
O TEMA CENTRAL DESTE BOLETIM: AS MULHERES E AS FLORESTAS
A presente edição do boletim do WRM está totalmente focalizada na questão das mulheres e as florestas, de forma coincidente com a próxima celebração do Dia Internacional da Mulher em 8 de março, no que 129 mulheres morreram durante uma greve de operárias têxteis nos Estados Unidos em 1909. O objetivo deste boletim é compartilhar informação sobre os impactos diferenciados que as mulheres sofrem com relação à perda das florestas e à degradação e sobre o papel especial que as mulheres têm a respeito do uso prudente e equilibrado das florestas. Desse jeito esperamos contribuir com a conscientização na questão do gênero a respeito das florestas e ajudar para sua incorporação nas agendas dos ativistas das florestas e das mulheres. Gostaríamos de expressar nossos mais sinceros agradecimentos a muitas pessoas –tanto homens quanto mulheres- que contribuíram com este boletim, e ao mesmo tempo homenagear todas as incontáveis e invisíveis mulheres que estão lutando através dos trópicos numa batalha desigual para proteger as florestas que constituem seus lares e meios de vida.Boletim WRM
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Fevereiro 2004
NOSSO PONTO DE VISTA
CONSERVANDO A FLORESTA
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12 Fevereiro 2004Não é por acaso que a feminilidade está ligada à natureza, à origem e ao mistério. A mulher é fazedora de vida, amamentadora da espécie, transmissora da tradição oral e zelosa guardiã de segredos. Quando do início da conquista de Eldorado, a grande jibóia-mulher serpenteava desde a memória do tempo pela Floresta Amazônica; ela, a serpente cósmica, era o grande rio com seus compridos e enormes braços de água, com seus aprazíveis remansos e suas cálidas e fecundas lagoas.
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12 Fevereiro 2004O papel dos povos indígenas e dos sistemas de conhecimento tradicional na conservação da biodiversidade é uma realidade tão conhecida, que dispensa maior fundamentação. Não obstante, o papel desempenhado pelas mulheres em particular é menos reconhecido, e mesmo nos casos em que há tal reconhecimento, ele não vem acompanhado da correspondente provisão de espaço para participar nas respectivas plataformas de discussão e tomada de decisões, em especial, nos processos dominantes. A região nordeste da Índia é rica em florestas e áreas alagadas, e é habitada por mais de 250 nações indígenas. Historicamente, essa região da Índia é vizinha da região norte da Birmânia e de Bangladesh.
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12 Fevereiro 2004Na Indonésia, a região ocidental de Java – Halimun – é muito conhecida pela alta diversidade biológica e riqueza cultural. Em termos de sistemas de manejo comunitário dos recursos florestais, os povos indígenas e a população local de Halimun possuem séculos de agricultura e conhecimento das florestas tropicais. Eles utilizam a floresta e as terras em volta para vários modelos de agricultura migratória, arrozais, hortas, hortas com mistura de árvores e vários tipos de floresta. Esses modelos são manejados por homens e mulheres como um sistema único integrado. Vê-se às claras que homens e mulheres contribuem para o bem-estar da família, com freqüência, de forma complementar, e que cada tipo de contribuição é indispensável, em especial, nas famílias pobres.
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12 Fevereiro 2004O Centro para Pesquisas Internacionais em Silvicultura (Center for International Forestry Research) vem aplicando, há mais de cinco anos, um programa denominado “Manejo colaborativo adaptativo das florestas” (ACM, em inglês). No momento de maior expansão desse programa, trabalhamos em 11 países (Nepal, Indonésia, Filipinas, Quirguistão, Malauí, Camarões, Zimbábue, Gana, Madagascar, Bolívia e Brasil); atualmente, continuamos trabalhando em oito desses países. Um dos aspectos mais surpreendentes dessa experiência é o sucesso quanto à participação da mulher (e outros grupos marginalizados) em nosso trabalho com as comunidades.
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12 Fevereiro 2004No marco da Rede Plantas Medicinais da América do Sul, o Centro Uruguaio de Estudos em Tecnologias Apropriadas vem coordenando, no Uruguai, um trabalho em parceria de recuperação do saber popular e tradicional sobre o uso de plantas como remédios e alimentos. Desejamos contar a vocês a experiência que estamos construindo com um grupo de mulheres desde novembro de 2002, quando realizamos o primeiro encontro focado nos “Ciclos da mulher e medicina natural”. Nessa primeira instância, partilhamos visões e conhecimentos em plantas que nos ajudam a nos manter saudáveis, considerando as diversas fases dos nossos ciclos femininos.
A NOCIVA ABORDAGEM INDUSTRIAL
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12 Fevereiro 2004No mundo todo, a mulher fica exposta a grandes sofrimentos. Por exemplo, por causa da guerra e da discriminação sexual por parte do homem. As crianças sofrem em conseqüência do sofrimento da mãe. Em muitas culturas, a mulher é considerada inferior pelo homem e, portanto, é obrigada a fazer trabalhos mais duros e pesados. Noventa por cento (4,5 milhões) da população da Papua-Nova Guiné depende da floresta para o seu sustento, e foi assim por centenas e milhares de anos. A floresta fornece alimento, material para a construção de moradias e remédios, além de ser fonte de cultura e espiritualidade.
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12 Fevereiro 2004A presente matéria evidencia a vulnerabilidade dos povos atingidos pelas barragens – em especial, as mulheres –, despejados de seus lares e terras e transferidos para outro lugar. Devido à necessidade de derrubar florestas e desviar o curso de rios, as barragens podem de fato privar as pessoas que se interpõem em seu caminho de seu direito a recursos tradicionais. Evidentemente, alguns problemas ligados às barragens são os mesmos em todo lugar. Contudo, começaremos apresentando alguns exemplos de projetos hidrelétricos na Malásia, alguns em andamento, outros concluídos, onde é possível apreciar o preço pago pelo “desenvolvimento”.
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12 Fevereiro 2004Diz o povo cigano que, quando suas mulheres estiverem se oferecendo nas esquinas e seus anciãos morrerem sozinhos num asilo, o povo cigano terá deixado de ser povo. As mulheres nas áreas petrolíferas foram jogadas nas esquinas, punidas com violência e, literalmente, estão submersas na contaminação. Não fosse pelas mulheres, faz tempo que a comunidade de Sarayacu, no Equador, teria sido subjugada pelas empresas petroleiras. Vítimas e protagonistas da resistência ao petróleo: é isso que as mulheres são.
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12 Fevereiro 2004A aqüicultura interior tem sido praticada durante centenas de anos nos países asiáticos, a saber: Indonésia, China, Índia e Tailândia. Os camarões eram tradicionalmente cultivados em arrozais ou em tanques junto com peixes, sem alterar significativamente os mangues, que por séculos têm sido utilizados em comum pela população local, os que lhes proporcionam uma série de produtos como peixe comercial, camarão, caça, madeira, mel, combustível, remédios. As mulheres têm tido um papel chave no aproveitamento dos recursos dos mangues. Na Ilha Papua, o conhecimento nativo regula o papel das mulheres no mangue.
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12 Fevereiro 2004Concederam-se licenças para mineração de mais de 35% das terras altas indonésias, das que 11,4 milhões de hectares estão localizadas em áreas protegidas. No entanto, a contribuição do setor de minas à renda líquida do governo indonésio é apenas 2%-4%. O montante não é equivalente aos impactos causados pelo setor na população local e o ambiente em todo o arquipélago indonésio. Uma das ilhas que mais sofre pelas atividades de mineração é Kalimantan (Bornéu) e particularmente Kalimantan Leste. A ilha de Bornéu abrange 10% da área total da Indonésia e nela habitam 2,5 milhões de moradores em 1275 povoados. O número de homens e mulheres é equilibrado. Os principais meios de vida das pessoas são a agricultura, a pesca artesanal e a criação de camarões.
QUANDO O PLANTIO DE ÁRVORES VIRA PROBLEMA
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12 Fevereiro 2004Em 2002, a organização malaia Tenaganita, junto com a Pesticide Action Network-Asia Pacific (Rede de Ação contra os Pesticidas-Ásia Pacífico), emitiu um estudo que confirmou que as mulheres que trabalham nas plantações estavam sendo intoxicadas pelo uso de pesticidas altamente tóxicos, especialmente Paraquat. Depois da emissão do "Estudo da Intoxicação por Pesticidas nas Plantações", a Diretora da Tenaganita, Dra. Irene Fernandez disse que “Se o governo malaio tivesse implementado as leis eficientemente através de seus órgãos, o Departamento de Segurança e Saúde Ocupacional e o Conselho de Pesticidas, as mulheres não teriam sofrido."
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12 Fevereiro 2004Em 16 de outubro de 2003, Irene Fernandez, Diretora da Tenaganita (una organização não governamental sediada em Kuala Lumpur, Malásia) foi sentenciada a 12 meses de prisão pelo Tribunal de Magistrados pelo Memorando sobre “Abuso, Tortura e Tratamento Desumano aos Trabalhadores Emigrantes em Centros de Detenção”. O memorando tinha sido concluído e enviado às correspondentes autoridades e os meios de comunicação em agosto de 1995.
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12 Fevereiro 2004É talvez nas plantações onde a invisibilidade das mulheres é maior. Poucas mulheres são vistas trabalhando entre as inumeráveis fileiras de eucaliptos ou pinheiros. Mas as plantações são muito visíveis para as mulheres, as que sofrem muito seus impactos de diferentes formas.
A APROPRIAÇÃO DA NATUREZA
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12 Fevereiro 2004Os Twa são uma nação indígena da região dos Grandes Lagos, na África Central, habitando Burundi, o leste da República Democrática do Congo (RDC), Ruanda e Uganda. Calcula-se que a sua população na região não ultrapassa 100 mil indivíduos. Originalmente, os Twa eram um povo das florestas, viviam da caça e da colheita e moravam nas regiões montanhosas dos lagos Tanganica, Kivu e Alberto, mas, no decorrer do tempo, essas florestas foram invadidas por povos agricultores e pastores, ou entregues para projetos de desenvolvimento comercial e áreas protegidas. Hoje, são poucos os Twa que ainda podem manter o seu estilo de vida baseado na floresta.
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12 Fevereiro 2004Os Twa são uma nação indígena da região dos Grandes Lagos, na África Central, habitando Burundi, o leste da República Democrática do Congo (RDC), Ruanda e Uganda. Calcula-se que a sua população na região não ultrapassa 100 mil indivíduos. Originalmente, os Twa eram um povo das florestas, viviam da caça e da colheita e moravam nas regiões montanhosas dos lagos Tanganica, Kivu e Alberto, mas, no decorrer do tempo, essas florestas foram invadidas por povos agricultores e pastores, ou entregues para projetos de desenvolvimento comercial e áreas protegidas. Hoje, são poucos os Twa que ainda podem manter o seu estilo de vida baseado na floresta.
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12 Fevereiro 2004Pachamama é um vocábulo quíchua que significa, basicamente, Terra Mãe. Os quíchuas, povo indígena que habita uma vasta área dos Andes, acreditam que a Terra é uma mãe que cuida dos habitantes como se fossem seus filhos.