A organização Maderas del Pueblo del Sureste, A.C. informa em um comunicado emitido recentemente, que no passado dia 3 de outubro se realizou, de forma totalmente arteira, brutal e violadora dos mais elementares direitos humanos, individuais e coletivos, uma operação policial de caráter federal e estadual, contra a população indígena e camponesa tojolabal da comunidade Miguel Hidalgo, Município de Trinitaria, Chiapas. A referida comunidade mantinha sob sua administração, desde o dia 7 de setembro deste ano, a área arqueológica e cerimonial maia de Chinkultic.
Esta operação foi realizada por centenas de agentes da Polícia Ministerial, Agência Federal de Investigação (AFI) e Polícia Estadual Preventiva (PEP) que ingressaram à aldeia em veículos, a cavalo e a pé. Na aldeia acharam a resistência de homens, mulheres e meninas/meninos, perante a qual as forças repressoras reagiram com sanha, de acordo com os jornalistas presentes “espancando indiscriminadamente crianças, mulheres e idosos, dando-lhe o tiro de morte a três feridos graves e assassinado um condutor que os trasladava para um hospital em Comitán”.
A ação repressiva exercida contra a comunidade de Miguel Hidalgo se complementou com outra, desenvolvida horas antes, contra grupos indígenas tojolabales das comunidades de Santa Rita, Ojo de Agua, Nuevo Porvenir, Venustiano Carranza, Antela, San Nicolás, Tierra Blanca e Nueva Rosita, as que também desde o início de setembro passado tinham tomado pacificamente o acesso ao Parque Nacional Lagunas de Montebello, controlado e administrado até a época pela Comissão Nacional de Áreas Naturais Protegidas (CONANP).
O saldo desses atos de força desmedida contra civis foi de pelo menos seis mortos e duas dezenas de feridos, além de mais de cinqüenta pessoas detidas.
Com essa repressão, o Estado mexicano (governos federal e estadual) tem violentado flagrantemente homens, mulheres e meninas e meninos e não apenas seus direitos humanos relativos à integridade e à vida consagrados tanto na Declaração Universal dos Direitos Humanos quanto na Convenção Interamericana de Direitos Humanos e no Pacto Internacional de Direitos Políticos e Civis têm sido atacados, mas também seus direitos como indígenas, a respeito do território, e a recuperar, resguardar e administrar seu patrimônio natural e cultural ancestral, tal como o reconhece a Declaração da Organização das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos Indígenas (artigo 11) e a Convenção 169 da OIT (artigo 14) como foi apontado já pelo Centro de Direitos Humanos Frei Bartolomé de las Casas e a Comissão Nacional de Observação pelos Diretos Humanos.
Essa brutal operação repressiva e essa massacre constituem um fato repudiável e se impõe a justa exigência de justiça e castigo exemplar não apenas dos autores materiais, mas também e principalmente aos autores intelectuais que deram as ordens desde o mais alto nível.
No entanto, isso não é mais do que uma amostra do tipo e magnitude dos interesses que estão por trás da ambição de apossar-se de forma privatizada e com fins de lucro multinacional, dos territórios indígenas e camponeses de Chiapas e do Sueste do país, ricos em recursos naturais de caráter estratégico (biodiversidade, recursos genéticos; água doce não poluída e caudais potencialmente produtores de hidroeletricidade; vento –como energia eólica-; e cobertura florestal que captura carbono) bem como possuidores de inigualáveis belezas cênicas e Centros cerimoniais sagrados –não “ruínas”- e arqueológicos.
Só que neste caso a sanha evidenciada em Chinkultic pela operação oficial parecesse um sinal de que foi executado como uma punição exemplar cujo fim seria o de debilitar e desmoronar possíveis resistências e novas tentativas indígenas que –sem importar sua afiliação política: zapatistas, perredistas ou príistas/panistas- pretendam defender, recuperar, resguardar e administrar autonomamente seu patrimônio cultural e natural para, desta forma, garantir ao investimento privado multinacional (leia-se, entre muitas outras: Monsanto; Sanofi Aventis; Glaxo; Ford Motors Co.; Iberdrola; Repsol; Femsa-Cocacola; Grupo Carso; hoteleiras Meliá; Riu e Barceló) a “tranqüilidade social e política” que vêm exigindo sem dúvidas cada vez com maior impaciência.
É por isso que neste caso, como em outros casos semelhantes em Chiapas e no resto do país, o que está em jogo não são unicamente os direitos, territórios e recursos naturais dos Povos Indígenas e comunidades em luta e resistência, mas os direitos do Povo mexicano no conjunto e a própria soberania de nossa Nação.
Artigo baseado em informação obtida de: Comunicado de Maderas del Pueblo del Sureste, A.C., e-mail: m_a_zules@hotmail.com, www.maderasdelpueblo.org.mx, enviado por Miguel Angel Garcia Aguirre.