A corporação americana Newmont Mining, uma das maiores empresas produtoras de ouro do mundo, planeja a instalação de uma mina de ouro a céu aberto na Reserva Florestal de Ajenjua Bepo no distrito de Birim Norte na região Leste de Gana.
A organização Não ao Ouro Sujo informa que a mina planejada irá ocupar uma área de 2,6 km de comprimento por 0,8 km de largura, e irá criar uma acumulação de resíduos de 60-100 m de altura. A mina irá destruir uma área estimada de 74 há de floresta na reserva.
A mineração é uma atividade de curto prazo com efeitos no longo prazo, e quando ocorre em áreas florestais é um fator de destruição e degradação da floresta desde a fase de prospecção- com a abertura de caminhos de acesso, o estabelecimento de vilas mineiras e instalações adicionais, e a execução de trabalhos geofísicos- até a fase de exploração, que resulta em importante eliminação de vegetação que não só afeta o habitat de centenas de espécies como também a manutenção de um fluxo constante de água desde as florestas para outros ecossistemas e os centros urbanos.
É gerado um despejo, que se auto-perpetua, de material ácido tóxico que pode perdurar durante centenas ou até milhares de anos. Além disso, as finas partículas de metais pesados que, com o tempo, se separam dos resíduos espalham-se pelo vento, depositando-se no solo e nos leitos dos cursos d’água, e integrando-se lentamente aos tecidos de organismos vivos como os peixes.
A água é afetada de múltiplas formas: pela erosão e sedimentação decorrentes da escavação, da drenagem de ácido que a contamina, da destruição florestal que perturba os padrões de chuva.
A ameaçada floresta de Ajenjua Bepo tem importância crucial para várias comunidades vizinhas que temem que o projeto provoque deslocações ou destrua as lavouras das quais dependem. De acordo com a organização Não ao Ouro Sujo, os grupos comunitários da área, "inclusive a Associação de Agricultores Preocupados de New Abriem, tem protestado contra os planos de mineração da Newmont e a inadequada compensação que a corporação oferece por destruir suas terras e seu sustento. Eles juntaram acima de 200 assinaturas para encaminhar uma petição ao governo ganense. ‘Estamos passando noites em branco pensando no trauma do deslocamento, da perda de terras agrícolas e meios de vida, das novas doenças especialmente no surto de casos de malária em decorrência das valas e outras poças de água estagnada nas valas que serão escavadas na área por parte Newmont Ghana Gold Limited,’ disse Akosua Nsia do povoado de Yayaaso, uma das comunidades da área diretamente afetada pela mina (1).
O apoio internacional provém de mais de 6000 assinaturas de mais de 50 países no mundo todo que “exortam o governo de Gana a opor-se a conceder licenças a toda companhia mineradora que visar desenvolver a mineração na polêmica Floresta de Ajenjua Bepo ou em outras florestas do país.” (2)
Os signatários denunciam que a autorização da mineração na floresta de Ajenjua Bepo irá deslocar mais de um milhar de pessoas de seus lares e, no mínimo, 8.000 pessoas irão perder suas terras. “As informações disponíveis sobre os impactos prováveis da mina indicam que os impactos sobre a biodiversidade, cobertura florestal, qualidade da água e as comunidades irão ser extremamente sérios. Acima da quarta parte da floresta na reserva irá ser destruída junto com o habitat para muitas espécies ameaçadas e vulneráveis, e os resíduos e substâncias químicas tóxicas irão ameaçar as fontes de água. Milhares de pessoas e importantes locais culturais irão ser deslocados.”
O projeto de mineração chega em um momento em que foi apresentado um panorama nefasto dos impactos da mineração no país por parte da Comissão dos Direitos Humanos e Justiça Administrativa (CHRAJ) de Gana em um relatório que evidencia as “violações generalizadas dos direitos humanos dos integrantes das comunidades e dos direitos coletivos das comunidades”, e “a poluição generalizada das fontes de água das comunidades, a privação e a perda dos meios de vida.” (3)
(1) Akyem Proposed Mine, Ghana, No Dirty Gold, http://www.nodirtygold.org/ghanaakyem.cfm
(2) Gana: 6,000 Signatures against Mining Concession, por Selorm Amevor, Public Agenda, http://www.ghanaweb.com/public_agenda/article.php?ID=11743
(3) The State of Human Rights in Mining Communities in Ghana,
http://www.nodirtygold.org/HumanRightsInGhanaMiningCommunities.pdf