Matérias de capa dos principais jornais e revistas descreveram a crise do Congo com base na “idéia preconcebida de os africanos serem 'selvagens e depravados'”, disseram Maurice Carney e Carrie Crawford, da organização Amigos do Congo (FOTC), em seu artigo “Casualties in the Scramble for Congo’s Resources” [Perdas na Luta pelos Recursos do Congo], (em http://friendsofthecongo.org/commentaries/congo_casualties.php). Ao fazer isso, “a mídia dominante de ocidente é cúmplice de um dos roubos de recursos melhor documentados no século XX e que persiste no início do século XXI."
Os autores relembram justificadamente que “O conflito que abrange estupros brutais e assassinatos horrorosos está vinculado de forma inextricável ao saqueio do Congo”, e que “Grande parte da culpa pelo contínuo clima de conflito é atribuído freqüentemente à milícia Hutu que deixou a Ruanda em 1994 devido ao genocídio nesse país. Na realidade, isso é só parte da história, o que não fornece um panorama completo. Convém apontar que, para todos os efeitos, a Ruanda controlou o leste do Congo de a 2002, um período em que eles reclamavam estar sob uma intensa perseguição por parte dos genocidas Hutus conhecidos como Interhamwe. No entanto, durante esse período, o conflito militar mais marcante da Ruanda foi com a Uganda dentro do Congo. A origem do confronto consistiu em determinar quem controlaria as vastas concessões de diamantes em Kinsangi, a centenas de quilômetros da localização dos temidos genocidas Hutus. Portanto, mesmo que a presença dos Hutus no Congo seja um problema, não explica a origem da violência e dos crimes no Congo.”
O artigo aponta que “Já que os grupos humanitários buscam recursos para tomar conta das mulheres e crianças estupradas e tratadas com brutalidade no Congo, eles deveriam começar com as companhias que estão organizadas para apropriar-se indebidamente de bilhões de dólares provenientes da riqueza do Congo enquanto 80 porcento dos congoleses vive com menos de 30 centavos ao dia. Ao lado da situação de estupros e assassinatos coexiste o que um magnata corporativo chama de festa. Gerhard Kemp do Rand Merchant Bank de Joanesburgo, disse ‘O Congo é tão rico em riquezas minerais que você não pode ignorá-las simplesmente. Você não vai querer ser o último a participar da festa.'"
O artigo também cita um relatório de ICG de 2007 que afirma que “os EUA, o Canadá, a África do Sul e a Bélgica são os primeiros que visam ao controle das estratégicas reservas de cobre, cobalto e outros minerais e restringem o acesso da China” e que “ a celebração pública do embaixador dos EUA pela aquisição da Phelps- Dodge [atualmente, a Freeport-McMoRan Copper & Gold] das concessões da Tenke- Fungurume em Katanga, em agosto de 2005, e a grandiosa cerimônia, em junho de 2006, em Kolwezi marcando a reabertura da mina de Kamoto à qual compareceram representantes belgas, americanos, canadenses, franceses, angolanos e até das Nações Unidas” revelaram o principal interesse econômico dos corpos diplomáticos ocidentais que supostamente estão no Congo para apoiar o processo democrático.
Vale a pena reproduzir um comentário de um leitor congolês em Los Angeles a respeito das notícias de um convite pago pelo Diretor Executivo da Freeport-McMoRan Copper & Gold Inc. ao presidente Joseph Kabila: “Simplesmente reforça o que as pessoas sempre têm dito sobre Joseph Kabila: ele está interessado apenas nas empresas mineradoras. As mineradoras podem oferecer empregos, podem dar pequenas quantias de dinheiro à comunidade, mas quando acaba o dia a única coisa que importa às companhias mineradoras são seus acionistas. Joseph Kabila fará tudo para os acionistas estarem felizes enquanto os congoleses que precisam da mesma consideração e proteção se definham até serem exterminados no leste do Congo.” (vide emhttp://www.eacourier.com/articles/2007/10/29/
local_news/doc47228e6172be8078788651.txt)
Conforme a Global Witness, o resultado do acordo tem “o Congo como proprietário de apenas 17,5% de seus próprios recursos e em uma posição que pode até não obter nenhum lucro do acordo. No entanto, a Overseas Private Investment Corporation (OPIC), uma entidade governamental dos EUA, ofereceu um seguro de risco por um projeto de investimento de 1 bilhão de dólares da Freeport- McMoRan.”
O artigo da FOTC lamenta que “em decorrência dos grandes interesses nos recursos do Congo, o povo congolês esteja lutando enfrentando grandes adversidades. A morte está literalmente estabelecida pelo contínuo empobrecimento do povo congolês durante várias gerações. Os contratos detestáveis vigorarão durante 30 a 40 anos e estarão apoiados pela legislação internacional. Já em 2002, o Banco Mundial estabeleceu as diretrizes sobre Florestamento e Mineração no Congo. Essas diretrizes estão determinadas na base de um modelo neoliberal que preconiza a venda da riqueza do país a interesses particulares”.
O artigo da FOTC alerta: “Devemos observar o que está acontecendo no Congo e sentir vergonha ou fechar os olhos mas o antiestético panorama que freqüentemente não é incluído ou é encoberto, especialmente pela mídia dominante, é o papel significativo das corporações que nos fornecem os telefones celulares, as consolas dos jogos, os laptops e outros modernos dispositivos tecnológicos e que tiram proveito das tragédias do Congo.”
Os autores concluíram, "a comunidade global deveria ter um papel construtivo no Congo, o povo congolês tomará conta do resto e produzirá líderes que representem seus interesses através da reconciliação, justiça e prosperidade para esse país vital no coração da África.”
Artigo baseado em “Casualties in the Scramble for Congo’s Resources”, por Maurice Carney e Carrie Crawford, FOTC, 17 de dezembro de 2007, e-mail: info@friendsofthecongo.org, http://friendsofthecongo.org/commentaries/congo_casualties.php