A jovem dirigente mapuche Patricia Troncoso está fazendo uma greve de fome desde o dia 10 de outubro de 2007. Patricia está na cadeia, condenada a 10 anos e um dia de prisão, sob a acusação de incêndio terrorista contra a propriedade Poluco Pidenco. Tal incêndio ocorreu em dezembro de 2001 e os supostos autores foram julgados com “testemunhas sem rostos” (ou seja, anônimos) conforme a Lei Antiterrorista criada durante a ditadura militar. Isto é, foi um julgamento sem a menor garantia do devido processo, garantido no Pacto de Direitos Civis e Políticos, ratificado pelo Chile.
O caso de Patricia não é único. Nas cadeias de Angol, Victoria, Lebu, Concepción, Temuco e Traiguén, há mais de 20 presos políticos mapuche, a maioria julgados sob a legislação antiterrorista da época de Pinochet.
A isso tudo, soma-se a atrocidade, ocorrida muito recentemente (3 de Janeiro de 2008), do assassinato de Matias Catrileo- um rapaz mapuche de 22 anos, baleado pelas costas por parte do pessoal de Carabineiros do Chile.
Nada disso é por acaso. O governo chileno está a serviço das empresas florestais e ao tempo que a polícia reprime, tortura e mata; o poder judiciário criminaliza a luta mapuche. A esse respeito, o historiador Víctor Toledo Llancaqueo diz que, “o caso mapuche é ilustrativo da criminalização do protesto social, como um processo político, midiático e jurídico, que ao etiquetar os atos de protesto como crimes, visa tirar o conflito social da arena política, e transferi-lo ao âmbito penal. O objetivo dos impulsores da criminalização é colocar em andamento o poder punitivo do Estado, para neutralizar, disciplinar ou aniquilar o protesto”.
Toledo Llancaqueo acrescenta que “a mídia e os setores de direita foram atores chave do processo de criminalização do protesto mapuche. Diante da emergência da mobilização indígena, promoveram ativamente sua deslegitimação, penalização e seu enquadramento como uma questão de segurança. Por sua vez, o conflito com as comunidades mapuche abalou a imagem corporativa das empresas florestais que, sindicadas por danos ecológicos e repressão a indígenas através de guardas privados, ficaram expostas a perder alguns mercados. Perante essa situação, os grandes grupos florestais pressionam o governo e a opinião pública, para que os conflitos sejam resolvidos penalmente. Foram magnificados os efeitos econômicos do protesto mapuche, e a figura do crime de incêndio” (vide documento na íntegra em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/osal/osal22/CDH22Toledo.pdf).
A situação de repressão e criminalização do povo mapuche, que luta pela recuperação de seus territórios ancestrais hoje ocupados por empresas florestais, se agrava a cada dia, enquanto o Governo e a mídia tentam torná-la invisível. No entanto, também cresce a solidariedade por parte de um conjunto cada vez maior de chilen@s, que vêm se mobilizando em defesa dos direitos desse povo. Em uma declaração recente afirmam que, “tanto a morte de Matias- cujo autor material esperamos que seja punido exemplarmente pela Justiça- quanto o tratamento injusto dado aos presos mapuche, são fruto de uma política de repressão sistemática do Governo chileno contra as comunidades mapuche e a serviço dos interesses de empresas florestais, elétricas e latifundiárias, que não condiz com a posição de nosso país nos organismos e foros internacionais” e exigem “que o Governo termine com essa situação de injustiça institucionalizada, assumindo uma política ativa de respeito e defesa dos direitos humanos e ancestrais do povo mapuche.” (vide declaração na íntegra em http://www.wrm.org.uy/paises/Chile/Declaracion_2008.html).
Desde a cadeia e após mais de 3 meses de iniciada a greve de fome, Patricia Troncoso diz ao povo chileno e ao mundo: “… que a violência ilegítima do dinheiro, do poder; que a perseguição; que a criminalização de nossa causa; que a brutalidade policial não é a forma para resolver o problema histórico e político com nosso povo. Porque enquanto os senhores, senhores políticos, passam, continuam germinando e crescendo para as futuras gerações Mapuches. E os Mapuche continuarão resistindo à arrogância e à dominação. Nós continuaremos lutando, continuaremos resistindo e sabemos que se um de nós cair, dez se levantarão.” (É possível assistir à mensagem no vídeo: http://www.wrm.org.uy/Videos_Esp/Patricia_Troncoso.html ).
Hoje, Patricia se tornou o símbolo da luta de um povo que uma e outra vez tem demonstrado que as palavras de Patricia são verdadeiras: por cada um que caiu, dez se levantaram. E enquanto não se fizer justiça, continuarão se levantando!
Por Ricardo Carrere, WRM, rcarrere@wrm.org.uy