Chile: selo do CERTFOR nas plantações de árvores tem valor zero

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Grande parte das plantações das empresas florestais chilenas estão certificadas, algunas pelo FSC e a maioria pelo CERTFOR (filiado ao PEFC). Em números redondos, o FSC já certificou cerca de 350.000 hectares enquanto o CERTFOR, cerca de 1.600.000 hectares. Devido à importância do CERTFOR no Chile, é interessante fazer uma análise mais detallada.

A primeira questão que chama a atenção é o número total de hectares certificadas pelo CERTFOR, equivalente a quase 80% do total plantado no Chile. Quer dizer que estas empresas certificadas são as principais responsáveis da maior parte dos problemas ambientais documentados no Chile com relação às plantações: destruição de floresta nativa, degradação de recursos hídricos, tanto em quantidade quanto em qualidade, impactos sobre o solo, a flora e a fauna.

Ao mesmo tempo, essas plantações florestais provocaram sérios impactos sociais: ocupação de territórios mapuche, repressão, criminalização, migração, perda de empregos, condições de trabalho ruins, doenças decorrentes do uso de agrotóxicos.

Cabe salientar que encontrar informações sobre essas empresas certificadas não foi uma tarefa simples. Eventualmente foi possível encontrar as grandes cifras de plantações, citadas nos parágrafos a seguir, mas não foi possível encontrar os detalles da localização e o do tamanho das diversas propriedades, já que nenhuma dessas empresas fornece esse tipo de informação nos sites.

Também chama a atenção o fato de um único grupo econômico- Grupo Arauco- possuir mais de um milhão de hectares de plantações de pinheiro e eucalipto certificadas pelo CERTFOR. Fazem parte do grupo as empresas Bosques Arauco (289.000 has), Forestal Celco e Forestal Cholguán (550.000 has) e Forestal Valdivia (252.000 has).

Por sua vez, o outro grande grupo econômico- Grupo Matte, proprietário da Forestal Mininco- possui entre 550.000 e 600.000 hectares certificadas pelo mesmo selo.

Além dos impactos acumulados (um aspecto que parece não ter importância para os certificadores) dessas plantações, os dois grandes grupos têm um longo histórico- passado e presente- de impactos sociais e ambientais negativos. Em uma matéria publicada recentemente neste boletim (Chile: as pernas curtas da mentira florestal- Boletim Nº 120), resumimos muitos destes impactos. Por exemplo, nele informamos que “na época do ano de maior demanda de mão-de-obra, no município de Los Sauces, Província de Malleco, sul do Chile, a Forestal Mininco apenas dá emprego a 19 pessoas do município, com salários muito baixos... Tal como acontece em outras partes do país, seus enormes lucros são traduzidos- em perda da qualidade de vida para os moradores locais. 33,8% da população vive entre a pobreza e a indigência."

E ainda, “A atividade agrícola diminuiu 22% nos últimos 10 anos, obrigando pouco mais de 1.400 pessoas a emigrar aos povoados… Uma das razões é a falta de água, já que as plantações florestais têm ressecado os solos. A cada verão, a prefeitura deve distribuir água em caminhões para o consumo domiciliar.”

“Mas, além da falta de água existe o problema da poluição com agrotóxicos. Os vizinhos das áreas rurais de Porvenir Bajo e Porvenir Alto sofrem graves problemas pelas fumigações realizadas pela Forestal Comaco. Os agrotóxicos, principalmente herbicidas (glifosato e simazina), são borrifados em forma mecânica ou manual antes de plantar e em diversos momentos da primeira etapa de crescimento das árvores, poluindo assim rios, esteiros e acéquias.”

Os trabalhadores que conseguem arrumar um emprego nessas empresas certificadas também devem enfrentar problemas. Uma notícia publicada recentemente na imprensa (15/11/07) informa  que "trabalhadores florestais da Província de Arauco, em Curanilahue, acusam a Forestal Arauco de intervencionismo dos sindicatos; de descumprir seus compromisos e obrigações; de empobrecer seriamente a província”. E pior ainda, um movimento iniciado em março, na área de Arauco “que iniciou as negociações dos trabalhadores empreiteiros com os grupos florestais matrizes (Bosques Arauco, Forestal Mininco)… deixou como saldo um trabalhador morto".

Estas empresas também são responsáveis pela criminalização da oposição e das longas penas de prisão impostas aos oponentes. A exceção ocorreu em 15 de junho de 2007, quando, pela primeira vez, uma empresa florestal- a Mininco- perdeu uma ação judicial iniciada por um comuneiro mapuche, José Cariqueo. Contudo, corresponde lembrar que durante cinco anos, José Cariqueo, esteve encarcerado e foi perseguido pelas falsas acusações da Mininco.

Em suma, ao outorgar o selo a estas empresas, o CERTFOR está outorgando a ele mesmo outro selo: o de óbito.

Artigo elaborado com base nas informações de: Mapuexpresss. Trabajadores Forestales denuncian a Empresa Arauco del Grupo Angelini, 15/11/07 http://www.mapuexpress.net/?act=news&id=2185

Pehuén. Mapuche gana juicio a forestal Mininco, 15/6/07

http://www.pehuen.org/mapuche-gana-juicio-forestal-mininco

El Quinto Infierno. Amplia gama de actividades en Santiago y regiones por movilización de CUT http://www.elquintoinfierno.cl/2007/08/28/amplia-gama-
de-actividades-en-santiago-y-regiones-por-movilizacion-de-cut/

Cifras de plantaciones certificadas, http://www.pefc.org/ y http://www.certfor.org/