Nas últimas semanas, a Uganda tem testemunhado crescentes protestos contra o plano do governo de ceder 7.100 hectares da floresta de Mabira- reserva natural desde 1932-, para a empresa SCOUL plantar cana-de-açúcar. Se a floresta fosse arrasada, devastaria um frágil ambiente, desencadeando a erosão do solo, tornando o clima mais seco e removendo uma zona que diminui a poluição do Lago Vitória. A posição de técnicos, profissionais e especialistas contra o projeto bem como os protestos públicos culminaram na renúncia da diretoria e do quadro de técnicos sênior da Autoridade Nacional Florestal. (NFA). A nova diretoria, nomeada em dezembro de 2006, está em vias de aprovar novas cessões de floresta para fins comerciais tais como Kitubulu em Entebbe, Buyaga (Lyantonde), Mpanga (Fort Portal), Nebbi, Arua, Ntungamo, Kitgum e Bobi, entre outros.
Os ugandenses que vivem nas proximidades da floresta de Mabira temem o colapso de seu modo de vida. “A floresta é tudo: lenha, carvão, ervas medicinais, frutos comestíveis, madeira; recolhe a chuva e enche os rios. Nós não podemos viver sem ela,” disse Haruna Salongo, de 48 anos.
”A floresta de Mabira faz parte de nosso patrimônio e do futuro de nossos filhos. A floresta de Mabira é tropical, de madeira dura e está indicada para ser derrubada em prol da produção açucareira na Uganda. É uma das florestas mais biodiversas que restam na África. E também tem um valor a mais para as comunidades que habitam nela ou em seus arredores. O valor da floresta para a Uganda e seu povo vai além do valor das árvores; é um lugar de turismo freqüentado para a observação de aves, caminhadas e outras atividades; tem valor histórico e cultural; tem impacto significativo para o ambiente como um sistema de filtração de água doce e como regulador natural do clima global”, expressaram integrantes da Save Mabira Crusade (SMC), uma rede de particulares, ONGs, líderes cívicos, religiosos, instituições acadêmicas e culturais, organizações políticas e comunidades locais que se agruparam na tentativa de barrar a entrega não só da floresta de Mabira como também de outras reservas florestais na Uganda.
Apesar de a oposição às plantações de açúcar crescer, e a imprensa local afirmar que 80 por cento dos parlamentares votariam contra, o presidente Museveni se manteve intransigente. “O aumento na produção de açúcar impulsará a geração de empregos e das receitas de exportação e a arrecadação tributária- essenciais se o país deve “ter fundos para policiar e proteger o meio ambiente”, disse Museveni. Os residentes de Mabira são céticos a promessas de empregos; referindo-se à população da Ilha Bugala no Lago Vitória, que foram persuadidos a entregar parte de sua floresta tropical primária à queniana Bidco- empresa produtora de azeite de dendê, no ano passado. A Bidco plantou 4.000 hectares de dendê, principalmente em áreas de floresta que a empresa derrubou com bulldôzeres, disseram os moradores. O estado acordou a entrega à Bidco de mais 2.000 hectares de terra florestal ao retirar o status de proteção de reserva natural, mas foi interrrompida pelo protesto popular. Os moradores dizem que perderam recursos vitais como madeira, medicinas, cordas e água doce, e ainda não viram nem empregos nem dinheiro.
”Eles prometeram muitas coisas,” disse Joyce Nakirijja, 70 anos, desde seu quintal em Bugala cercado por bananeiras. “Nossos netos iriam ter empregos e eles construiriam novos caminhos, escolas e hospitais. Foi uma mentira; temos caminhos de terra e a empresa importa os trabalhadores do continente.” Ela acrescentou que outro problema foi que os macacos, ao perderem seu hábitat pelo desmatamento, estavam invadindo as lavouras locais.
No dia 12 de maio de 2007, os líderes da rede SMC organizaram uma manifestação contra a entrega da floresta de Mabira. Tinha de ser uma manifestação pacífica mas se tornou caótica; morreram cinco pessoas, foram destruídas algumas propriedades, houve feridos e muitos dos líderes foram detidos. Agora, eles enfrentam diversas acusações na justiça desde assassinato a participação em uma “manifestação ilegal”- apesar de a polícia ter ordenado a manifestação e dado a autorização para continuá-la. Deverão comparecer junto ao tribunal para responder às acusações nos dias 28 de junho e 6 de julho respectivamente.
No entanto, após tanta dor há boas notícias! O governo da Uganda anunciou no dia 22 de maio que suspendia seu plano de ceder a Reserva Florestal de Mabira para a plantação comercial de cana-de-açúcar.
A luta do povo ugandense rendeu frutos para si e para as gerações futuras.
Artigo baseado em: “Legal Questions Over Plan to Give Away Mabira Forest”, “Save Mabira Forest in Uganda”, “Mabira Forest Crusade – Court”, “Uganda Govt. Gives up Mabira Sale!”, NAPE, http://www.nape.or.ug/