Laos: “ajuda” noruega e chinesa colabora com represa no Rio Xeset

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No final do ano passado, a Norconsult- uma firma consultora noruega, ganhou um contrato de US$ 1,5 milhão para supervisar as obras de construção da represa Xeset 2, no sul do Laos. A Norconsult obteve o contrato, que está financiado pela Agência Noruega de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad), sem existir qualquer outra oferta concorrente.

A Norconsult tem vasta experiência em operar no rio Xeset já que trabalhou no planejamento e construção da represa Xeset 1 de 45 MW, que foi concluída em 1991, com financiamento da Suécia, Noruega, o Banco Asiático de Desenvolvimento e o PNUD. Durante a estação seca, a represa Xeset 1 praticamente não produz electricidade, devido ao baixo fluxo de água no rio Xeset.

Após 8 anos de a Xeset 1 ter sido concluída, a Norconsult foi novamente contratada para realizar um estudo de factibilidade para as represas Xeset 2 e Xeset 3. A Norad providenciou US$ 1,8 milhão para custear o estudo. As represas Xeset 2 e Xeset 3 estão localizadas águas acima da Xeset 1 e com a transferência de água de rios próximos ao rio Xeset, poderá ser incrementado o volume de água que flui através das turbinas da Xeset 1. Do mesmo modo que com a Xeset 1, a maior parte da eletricidade gerada pela Xeset 2 de 76 MW será exportada a Tailândia.

A construção de mais represas na tentativa de resolver os problemas com as represas já existentes é, obviamente, uma proposta atraente para uma firma consultora na construção de barragens como a Norconsult. Porém, mais represas significam maior destruição não só de rios e pescaria como também dos meios de vida da população local.

Há dois anos, Phetsavanh Sayaboulaven realizou uma série de entrevistas aos moradores da área da represa Xeset 2. Quase todos os povos que vivem na área são indígenas, principalmente pertencentes aos grupos étnicos Jru (Laven) e Kouay. Um morador disse a Phetsavanh, “Nós não queremos que eles construam a represa. Afetará gravemente nossa terra e o meio ambiente. A compensação oficial não será adequada, como no caso da represa Houay Ho. Mas não ousamos opor-nos aos funcionários governamentais.”

A China tem um papel importante na represa Xeset 2. O Import- Export Bank da China está financiando 80 por cento do projeto de US$ 135 milhões e o restante provém da Electricité do Laos. O principal empreiteiro é a chinesa Norinco (China North Industries Corporation), uma empresa mais conhecida como fabricante de armas do que como construtora de represas. A construção da Xeset 2 está em andamento e deverá ser conluída até 2009.

Quando a Norinco iniciou a construção da represa, os moradores começaram a roubar. Barras de ferro, cobertas para telhados e grandes quantias de combustível despareceram do local da construção. Alguns moradores enriqueceram rapidamente. O furto poderia ser considerado como uma forma de resistência à represa- ou uma tentativa de os moradores garantirem alguma compensação para eles. Os laosianos que trabalhavam para a construtora chinesa ajudaram os moradores no roubo do combustível. A demissão dos trabalhadores não alterava os fatos porque os novos contratados para substituí-los também ajudavam os ladrões. A situação se tornou violenta quando os moradores mataram um trabalhador chinês que tentou deter o roubo de combustível.

O governo laosiano, provavelmente em uma tentativa de apaziguar os fatos garantiu aos moradores que receberiam alguma compensação. Uma pesquisa recente no Laos aponta que os moradores dos arredores da construção tinham recebido um total de cerca de US$ 150.000 em compensação pela perda de terras e pela perda de pés de café.

Mas os moradores que até agora não foram afetados pelas atividades da construção não receberam nada. Mais de 12.500 pessoas que vivem ao longo do rio Tapoung enfrentarão sérias reduções do caudal do rio quando a água for desviada ao reservatório da Xeset 2. Esses moradores não sabem se receberão alguma compensação nem como será calculada no caso.

Os moradores usam a água do rio Tapoung para suas lavouras de arroz na estação seca. Eles plantam as margens do rio e suas proximidades, seus cultivos são diversos. Muitas plantas silvestres crescem ao longo do rio Tapoung, inclusive plantas medicinais e comestíveis. Peixes, camarões, caranguejos e caracóis são uma importante fonte de proteínas para a população local. O rio também providencia a água para consumo de muitos povoados durante a estação seca. “Se a represa for construída e a água deixar de correr neste rio, ficarei muto triste,” disse a Phetsavanh uma anciã. “O rio tem me alimentado desde a infância e em minha velhice.”

Quando a Norconsult decidiu, em 1999, que as represas Xeset 2 e Xeset 3 eram viáveis, os consultores sabiam que a companhia tiraria partido dessa decisão, através de futuras empreitadas. Quatro anos depois, a decisão da Norconsult foi questionada por um estudo financiado pelo Banco Asiático de Desenvolimento que determinou que as represas Xeset 2 e Xeset 3 “não eram viáveis”. A Norconsult recusou fazer qualquer comentário quando perguntei como seus consultores tinham chegado à conclusão contrária.

A situação perversa no Boloben Plateau é que a consultora noruega se beneficia da “ajuda” noruega, uma constructora chinesa se beneficia da “ajuda” chinesa, e os moradores laosianos devem pagar os custos da destruição dos rios e seus meios de vida.

Por Chris Lang, e-mail: chrislang@t-online.de, http://chrislang.org