O estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) “Preliminary Review of Biotechnology in Forestry Including Genetic Modification” (ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/008/ae574e/ae574e00.pdf), publicado em dezembro de 2004 resumiu o estado da biotecnologia na atividade florestal em geral, fazendo referência especificamente à modificação genética das árvores. Em suas constatações informa sobre 225 testes de campo ao ar livre de árvores GM no mundo inteiro, em 16 países. Lamentavelmente não diferenciam quais testes de campo são atuais e quais ocorreram no passado, descrevendo um panorama um tanto distorcido. Dos 225 testes de campo, listam 150 nos Estados Unidos. Os remanescentes são listados principalmente na Europa: na França, na Alemanha, na Grã Bretanha, na Espanha, em Portugal, na Finlândia e na Suécia, bem como no Canadá e na Austrália. Os testes de campo no Sul são listados na Índia, na África do Sul, na Indonésia, no Chile e no Brasil. A China é o único país que se sabe que tem desenvolvido plantações comerciais de árvores GM, com bem mais de um milhão de árvores plantadas em dez províncias.
Mencionava-se no estudo que a Índia tinha levado a cabo um teste de campo de uma plantação de árvores GM. Atualmente, uma nova Política Florestal Nacional está sendo debatida a portas fechadas que, de acordo com um relatório do Indian Financial Express, “espera-se que promova as árvores geneticamente modificadas (GM) para fomentar a indústria do papel bem como melhorar a qualidade dos subprodutos da madeira.”
As árvores geneticamente modificadas têm o potencial de mudar radicalmente e permanentemente as florestas do mundo. Como com os cultivos GM, um assunto fundamental é a fuga de genes, mas os efeitos vão mais longe disso devido ao papel central que as árvores têm no ecossistema.
Depois de pesquisar, o pessoal de Ecologist Asia não pode descobrir detalhes da Política Florestal Nacional proposta. A subsidiária na Índia da Monsanto diz que não está trabalhando com árvores GM na Índia neste momento. Em resposta a uma pergunta por e-mail, a representante da Monstanto Índia, Susan Joseph, disse desde seu escritório em Mumbai que “O negócio da Monstanto Índia consiste em desenvolver herbicidas de ata qualidade, sementes híbridas (milho e girassol) e características biotecnológicas (algodão Bt).” No entanto, quando foi perguntada sobre o curso de ação provável da Monstanto se a nova Política Florestal índia promover as árvores GM, ela não respondeu.
Anne Peterman do Global Justice Ecology Project, sediado nos EUA, que está coordenando uma campanha internacional contra as árvores GM, disse em resposta a isso que “As árvores estão sendo modificadas para resistir ao herbicida Roundup da Monsanto. Se forem propostas as árvores “Roundup-ready” (resistentes ao herbicida Roundup) para a Índia, essa será uma conexão com a Monsanto, apesar de que ela não esteja diretamente envolvida na Pesquisa & Desenvolvimento. A Monsanto vai beneficiar-se definitivamente com essas árvores através dos aumentos nas vendas de seu herbicida tóxico Roundup.” Se, como foi sugerido pelo Indian Financial Express, o objetivo da utilização de GM na Índia é fomentar a indústria do papel, é provável que uma característica que será geneticamente modificada é o conteúdo de lignina nas árvores. Reduzir a quantidade de lignina, que fornece a rigidez e fortaleça às paredes de células das plantas é potencialmente uma economia para a indústria da pasta de celulose e do papel, que deve remover menos lignina durante o processamento da fibra de madeira.
No entanto, como foi apontado pelo Prof. Joe Cummins do Instituto da Ciência na Sociedade (ISIS), sediado no Reino Unido, em um trabalho sobre redução de lignina, “as vantagens do conteúdo reduzido de lignina são compensadas pela desvantagem das plantas com menor lignina, que são mais facilmente atacadas por predadores como insetos, fungos e bactérias.”
É provável que as débeis árvores GM com lignina reduzida requeiram características adicionais geneticamente modificadas, como resistência aos insetos Bt e tolerância aos herbicidas. A fuga dessas características para o ecossistema selvagem é então apenas uma questão de tempo, como já tem acontecido com os cultivos GM de diferentes tipos.
As agências internacionais como a FAO também estão tendo um papel fundamental no assunto das árvores GM. Em resposta a uma pergunta por email, Pierre Sigaud da FAO disse que “A FAO não se pronuncia em favor nem contra as árvores GM.” Em uma declaração sobre biotecnologia em seu site na web a FAO diz que apóia um “enfoque cauteloso caso por caso para abordar as preocupações legítimas pela biosegurança de cada produto ou processo antes de sua liberação”. No entanto, com o envolvimento da FAO no programa das árvores GM na China, resulta claro que isso representa uma postura de fato em favor das plantações industriais de árvores GM. Não houve qualquer resposta a um email pedindo mais clarificações sobre a posição da FAO.
As espécies que poderiam ser comercializadas na Índia incluem o eucalipto GM, que tem sido chamado de “árvore egoísta”, por causa dos grandes volumes de água que utiliza, com o decorrente efeito sobre os vulneráveis lençóis freáticos da Índia. A pulverização de glifosato, por exemplo com o Roundup da Monsanto, também levaria à inevitável poluição da água potável e problemas com a saúde para os moradores locais, tais como câncer e abortos. A Dinamarca já tem proibido o glifosato por essa razão.
A nova Política Florestal Nacional da Índia está sendo delineada neste contexto, possivelmente com pressão de companhias que vão beneficiar-se com as árvores GM. Enquanto as florestas da Índia, já sujeitas a pressões, lutam para sobreviver neste século 21, com as comunidades humanas, ecossistemas nativos e especialmente as fontes de água, que dependem delas, é hora de pedir transparência neste processo.
Artigo baseado em informação de: “The International Status of Genetically Modified Trees”, 2005, Anne Petermann, Global Justice Ecology Project, http://www.globaljusticeecology.org/index.php?name=getrees&ID=339; “Preliminary Review of Biotechnology in Forestry Including Genetic Modification”, FAO, dezembro de 2004, ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/008/ae574e/ae574e00.pdf; “GM trees bloom in rush to feed growing paper industry”, BV Mahlakshmi, 2005, http://www.financialexpress.com/fe_full_story.php?content_id=97000 ; “Frankentrees Threaten India’s Forests”, Philip Carter, email: pcarter@web.ca, http://www.writingfortheplanet.com/images/GE_Trees.
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