Foram enviadas inúmeras cartas desde o estrangeiro ao governo do Equador no contexto da campanha de apoio a organizações sociais e indígenas equatorianas que pretendem evitar a aprovação de uma legislação que implicaria a expansão das monoculturas de árvores em grande escala (vide artigo sobre o Equador neste boletim). Mas queremos publicar na íntegra a carta do Conselho de Organizações de Médicos e Parteiras Indígenas Tradicionais de Chiapas (o Compitch) porque reflete o sentimento de muit@s e está inspirada pelo coração de um povo latino- americano que, nesta hora, bate em uníssono com o equatoriano.
“Dra. Ana Albán Mora Ministra do Ambiente do Equador e… os outros
Presente Somos mexicanos de baixo, indígenas maias, habitantes das florestas em Chiapas, igualmente latino- americanos.
Fazemos parte da maior (e não por isso a mais importante) organização de médicos tradicionais de Chiapas, estado federado no sudeste do México. Somos de todas as filiacões políticas, de todos as crenças religiosas, de todas as línguas indígenas que ainda são faladas neste estado.
Não somos muitos mas acredite. Em 2001, após dois anos de resistência, conseguimos a cancelação do projeto bio-prospectivo americano ICBG Maya. Há um ano, 24 horas depois de uma passeata relâmpago, do projeto de lei estatal para definir (corporativamente) a riqueza biológica do estado. Há alguns meses, conseguimos neutralizar o rascunho do decreto da lei federal de acesso aos recursos genéticos. A causa de nossa disconformidade e mobilização, sempre foi a mesma: a falta de consulta aos interessados, neste caso, nós e outros como nós, as maiorias sociais.
Ficamos sabendo que o mesmo acontece no Equador, que a convocação não chega ao povo de baixo para participar de um processo de discusão pública que atingirá seus recursos naturais, neste caso as florestas, porém, chega à classe empresarial, aquela que tem dinheiro.
Não vamos fazer nenhuma petição formal, administrativa, de que a senhora suspenda isto ou emende aquilo. Apenas que pegue um espelho, olhe para ele e olhe bem o que ele reflite, para atrás e para diante, como sempre deveria ver- se um espelho. Se esse espelho apenas refletir o presente, quer dizer, a permanência do mesmo, bem, então a senhora perde e nossos companheiros equatorianos de baixo vencem porque, sabe, nossos espelhos, os de baixo, reflitem a memória e o tempo que vem, ou seja, de onde vem o rosto que olha para ele e também o que pode esperar de acordo com o rosto que é olhado nesse momento. Mas também vencem, vencemos, porque nós, ao contrário da doutora, senhora ministra, não recebemos nada de ninguém por defendermos as riquezas de nossas pátrias que guardamos para felicidad de todos e porque, também ao contrário dos senhores ao fazermos assim, nós nos multiplicamos.
Para os UICN, FAO, Banco Mundial, Tropenbos International, Ministério da Agricultura da Holanda e anexos, acrescentamos umas comedidas orações porque, vista sua história recente, concluímos que para eles não bastaria com o raciocinio anterior.
Desde o espelho fiel da história com tempo, a nossa e a de seus povos:
A Diretoria do Conselho de Organizações de Médicos e Parteiras Indígenas Tradicionais de Chiapas (o Compitch)
Presidente: Manuel Pérez Jiménez Secretário: Domingo López Sántiz Tesoureira: Francisca Pérez Pérez
Palenque, Chiapas, México, em 20 de junho de 2006”