Equador: impactos de empresa camaroneira em reserva de mangues

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A Reserva Ecológica Manglares-Cayapas-Mataje, na província de Esmeraldas possui uma superfície de 51.300 hectares, e dentro dela está o mangue chamado Majagual, com 28.367 hectares. O mangue é hábitat de espécies de crustáceos como a concha, a ostra, o caranguejo azul e o camarão e de espécies de árvores como o mangue-vermelho ou verdadeiro, o preto, o branco e o jeli.

Na década de 50, o mangue Majagual tinha sido talado para extrair o tanino da casca do mangue para utilizá-lo na indústria do curtimento. Depois disso se proibiu o corte e finalmente em 26 de outubro de 1995 se transformou em reserva protegida, reconhecida por ter os mangues mais altos do mundo (em média, mais de 50 metros de altura).

Apesar disso, aceitou-se a existência de duas grandes empresas camaroneiras dentro da Reserva: El Rosario e Puro Congo. O desenvolvimento da criação industrial de camarões costuma ser promovido pelos governos endividados e pressionados pelas instituições financeiras internacionais, para aumentar as exportações e permitir o ingresso de divisas. Mas os fatos sempre evidenciam que essa contabilidade não funciona do mesmo jeito para as economias locais (vide Boletim Nº 51 do WRM).

Estabelecida em 1993, a empresa camaroneira Puro Congo S.A., propriedade do cidadão colombiano Carlos Acosta construiu muros de concreto na praia e abriu ilegalmente canais artificiais de 30 metros de largura por dois metros de altura com o fim de fornecer de água às piscinas. A camaroneira verte suas águas ilegalmente nos esteiros El Aguacate, Guachalá, Majagual e o rio Cayapas, provocando a desaparição de mais de 20 espécies nativas e migratórias da área, bem como a diminuição de mais de 70% dos recursos marinhos e costeiros do setor.

A organização comunitária Asociación de Pescadores Artesanales y de Comercialización de Productos Bio-Acuáticos Manglares del Norte - APACOBIMN (Associação de Pescadores Artesanais e de Comércio de Produtos Bio-aquáticos Mangues do Norte) tem denunciado reiteradamente a destruição do mangue, a poluição e a salinização de águas subterrâneas e superficiais da Zona Úmida Laguna de la Ciudad e dos poços das comunidades vizinhas pelas atividades da empresa camaroneira, bem como por seus impactos sobre a fauna, já que tem envenenado milhões de peixes e dizimado iguanas verdes, aves nativas e migratórias e mamíferos terrestres e aquáticos. Mas apesar das constantes denúncias, a empresa Puro Congo tem a intenção de ampliar-se mais 300 hectares na Zona Úmida Laguna de la Ciudad, dentro de Majagual e obter a concessão da área por dez anos.

As autoridades ambientais nacionais verificaram as denúncias e recomendaram que o Ministério ordenasse o fechamento dos canais e que os responsáveis do dano pagassem o custo de recuperação da zona úmida e as correspondentes indenizações. Mas o Ministério não tem adotado qualquer medida nesse sentido.

Por sua vez, a Coordinadora Nacional para la Defensa del Ecosistema Manglar - C-CONDEM (Coordenadoria Nacional para a Defesa do Ecossistema dos Mangues) denuncia que, como retaliação pelas denúncias realizadas, vários prédios das comunidades vizinhas sofreram danos. Junto com a APACOBIMN, a C-CONDEM exige que não seja autorizada a extensão da concessão pedida pela empresa camaroneira.

Os dois mangues mais altos do mundo -dois colossos do mangue Majagual, da variedade de Rhizophora (mangue-vermelho) de 65 e 63,8 metros- caíram há nove meses um deles e há quatro meses o outro. Apesar de que foi dito que morreram “de velhos” a C-CONDEM denuncia que a erosão progressiva dos esteiros e das praias -já que enormes massas de água são captadas para o serviço das piscinas camaroneiras, tratando-se de drenagens para uma camaroneira de 630 hectares- é a verdadeira causa da morte dos exemplares únicos no mundo.

Artigo baseado em informação obtida de: “Manglares más altos del mundo no mueren de viejos, los mata la camaronera Puro Congo”, C-CONDEM, Boletim à imprensa, 13-02-2006, e-mail: manglares@ccondem.org.ec; “Luto por los mangles más altos del mundo”, Manuel Toro, 22 de janeiro de 2006; os dois artigos distribuídos pela Rede Mangue Internacional, Boletim Eletrônico #28.