A perda da biodiversidade é rápida e constante. Ao longo dos últimos 50 anos, os seres humanos temos mudado os ecossistemas mais rápida e amplamente do que em qualquer outro período semelhante da história humana. As florestas tropicais, muitas zonas úmidas e outros habitats naturais estão diminuindo de tamanho. As espécies estão se extinguindo mil vezes mais rápido do que no passado. As causas diretas da perda da biodiversidade --mudanças nos habitats, super-exploração, a introdução de espécies invasivas forâneas, a descarga de nutrientes e a mudança climática-- não mostram nenhum sinal de diminuição... Está na hora de transformar nossas esperanças e energias em ação pelo bem de toda forma de vida na Terra.
Boletim Nro 104 - Março 2006
A Biodiversidade
O TEMA CENTRAL DESTA EDIÇÃO: A BIODIVERSIDADE
A biodiversidade não trata apenas de espécies, habitats e genes: trata da vida e das interações entre as diferentes espécies, incluídos nós, os seres humanos. Nesta edição do Boletim WRM visamos a colocar um rosto humano à biodiversidade, fornecendo informação sobre como alguns atores humanos (a maioria através de corporações) exercem um impacto nas espécies, habitats e genes, e como isto está destruindo os meios de vida e também as vidas de muitos seres humanos que dependem da biodiversidade para sobreviverem. Dividimos o boletim em duas seções --florestas e plantações-- com o objetivo de marcarmos as diferenças entre ambas, as quais, embora seja difícil de acreditar, continuam a ser confundidas por atores “expertos” tais como a FAO, o Fórum das Nações Unidas sobre as Florestas, a Convenção sobre a Mudança Climática e até a Convenção sobre a Diversidade Biológica.Boletim WRM
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Março 2006
NOSSO PONTO DE VISTA
AS FLORESTAS, AS COMUNIDADES E A BIODIVERSIDADE
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7 Março 2006A situação é muito parecida em muitos países do Sul: as pessoas e as organizações que apoiam estão tentando proteger as florestas contra as alianças entre o governo e as corporações. As bem conhecidas causas da perda de biodiversidade tais como o desmatamento industrial, a prospecção e exploração de combustível fóssil, a mineração, as hidrelétricas, as monoculturas industriais, a construção de estradas e a criação de camarões continuam sendo promovidos para benefício quase exclusivo de grandes corporações.
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7 Março 2006Contrariamente ao enfoque empresarial do tipo “mineiro” a respeito das florestas que invariavelmente implica sua destruição, destacam-se os diferentes usos transmitidos de geração para geração de comunidades indígenas e locais que têm desenvolvido um amplo e profundo conhecimento (além da ciência) da floresta que lhes tem permitido beneficiar-se com ela de forma sustentável.
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7 Março 2006A atividade madeireira industrial é uma das principais causas diretas da perda de biodiversidade das florestas. Muitas organizações e governos se têm focalizado na atividade madeireira ilegal e bem menos na atividade madeireira legal destruidora (vide Boletim Nº 98 do WRM). Nesse sentido, um relatório recente (“Legal Forest Destruction. The Wide Gap Between Legality and Sustainability” -Destruição legal da floresta. A ampla brecha entre a legalidade e sustentabilidade-) fornece uma perspectiva mais ampla através da análise do comércio de madeira holandês, seu ênfase na legalidade e o impacto da atividade madeireira legal sobre as florestas.
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7 Março 2006A Reserva Ecológica Manglares-Cayapas-Mataje, na província de Esmeraldas possui uma superfície de 51.300 hectares, e dentro dela está o mangue chamado Majagual, com 28.367 hectares. O mangue é hábitat de espécies de crustáceos como a concha, a ostra, o caranguejo azul e o camarão e de espécies de árvores como o mangue-vermelho ou verdadeiro, o preto, o branco e o jeli. Na década de 50, o mangue Majagual tinha sido talado para extrair o tanino da casca do mangue para utilizá-lo na indústria do curtimento. Depois disso se proibiu o corte e finalmente em 26 de outubro de 1995 se transformou em reserva protegida, reconhecida por ter os mangues mais altos do mundo (em média, mais de 50 metros de altura).
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7 Março 2006Com um custo de 1,6 bilhões de dólares, o megaprojeto Camisea para a extração de gás natural na área localizada às márgens do rio Camisea, uma das mais ricas em biodiversidade no mundo, conta com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como principal financiador público. Mas não foi nada bom para as comunidades locais. Como foi denunciado no Boletim Nº 95 do WRM, o projeto Camisea será feito à custa da destruição dos bosques, a poluição dos rios, a poluição sonora, a erosão dos solos e a conseqüente degradação da flora e fauna na área de influência do projeto.
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7 Março 2006Mais cedo neste ano aconteceu uma coisa estranha: a Papua Ocidental fez manchete. A notícia foi a descoberta de uma nova espécie de pássaro papa-mel, um pássaro “perdido” do paraíso, um canguru dourado quase extinto, 20 novas espécies de rãs, quatro novas borboletas e cinco novas espécies de palmeiras. As espécies foram achadas durante uma expedição às Montanhas de Foja organizada pela Conservation International e o Instituto Indonésio de Ciências. “É o mais próximo de um Jardim do Éden na Terra” disse Bruce Beehler, que co-dirigiu o grupo. Suas palavras foram cuidadosamente publicadas em jornais do mundo inteiro.
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7 Março 2006A destruição das florestas muitas vezes criou situações tão graves que, empresários e funcionários, acuados pelas denúncias, pelas pressões sociais, ou pela pressão de setores empresariais que vêem seus interesses ameaçados pelo desprestígio de suas atividades, estão desenvolvendo seu próprio discurso de solução ambiental. Passaram da negação absoluta dos prejuízos, a tentar responsabilizar às vítimas; desse modo, com o discurso, pretendem mudar a realidade, mostrando estatísticas dos sucessos empresariais em matéria ambiental e social. Porém, como a gravidade dos impactos é impossível de ocultar, agora fala-se em compensações e em programas de remediação ambiental.
MONOCULTURAS DE ÁRVORES
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7 Março 2006As plantações de eucalipto, pinheiro, acácia, gmelina, teka e dendezeiro têm se tornado um grave problema social e ambiental. Do ponto de vista da biodiversidade, elas eliminam a maioria das plantas autóctones e quase não fornecem alimento para a fauna. Algumas espécies de árvores utilizadas nas plantações invadem e prejudicam os ecossistemas naturais. Apesar disso, elas continuam a ser promovidas, especialmente no Sul, para a produção de matéria-prima barata principalmente para as fábricas de papel/celulose e as indústrias de azeite de dendê.
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7 Março 2006No Dia Internacional da Mulher aconteceu uma celebração inusual no Brasil. Na madrugada do passado 8 de março, cerca de 2 mil agricultoras ligadas à organização Via Campesina realizaram uma ação relâmpago nas dependências da Aracruz Celulose, no município de Barra do Ribeiro, perto de Porto Alegre. O estabelecimento Barba Negra é a principal unidade de produção de mudas de eucalipto e pinus da empresa para abastecer sua fábrica de Guaíba e possui até um laboratório de clonagem de mudas.
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7 Março 2006Neste mês o WRM publica um novo relatório titulado “The death of the forest: A report on Wuzhishan's and Green Rich's tree plantation activities in Cambodia" (A morte da floresta: um relatório sobre as atividades de plantação de árvores da Wuzhishan e da Green Rich no Camboja). O relatório registra o impacto das plantações de árvores de duas companhias sobre as comunidades locais e seus meios de vida. Por razões de segurança, os pesquisadores do relatório desejam manter o anonimato. O ano de 2005 foi outro ano funesto para a democracia no Camboja. O Primeiro Ministro Hun Sen utilizou litígios por difamação para prender ou intimidar membros da oposição política, a mídia, os sindicatos e as ONGs.
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7 Março 2006Na região sudeste da Nicarágua, em uma extensão de 3.180km², encontra-se a Reserva Biológica de Indio Maíz, que deve seu nome aos rios Indio e Maíz. É uma das reservas de biosfera mais importantes do país e contém um floresta úmida tropical, zonas úmidas e lagoas que abrigam uma fauna diversa: onças, águias Mayor, araras da espécie ambigua, peixes-boi, tubarões-martelo e crocodilos. Na floresta há árvores como cedros, mognos, amendoeiras, nespereiras, acariquaras, catiguás, entre outros.
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7 Março 2006A Papua Nova Guiné possui um sistema de terras comunais que tem permitido que a maioria das comunidades rurais obtenha uma renda decente do livre e fácil acesso à terra, à água limpa e à abundância dos recursos naturais. No entanto, a introdução de plantações de cultivos comerciais socava seus sistemas e estruturas tradicionais, ocasionando impactos ambientais e sociais negativos.
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7 Março 2006Por mais de uma década uma rede de interesses tem impulsionado as plantações industriais de árvores no Laos. A organização principal é o ADB (Banco Asiático de Desenvolvimento). Em 1993, o governo laosiano aprovou o TFAP (Plano de Ação sobre a Floresta Tropical), levado a cabo com fundos do ADB e do Banco Mundial, entre outros. O TFAP recomendou cortar as florestas e estabelecer plantações industriais de árvores nas áreas de floresta degradada.
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7 Março 2006Duas grandes empresas florestais nacionais (a FYMNSA e a COFUSA), uma finlandesa (a Botnia-UPM/Kymmene) e uma espanhola (a Ence-Eufores), têm recebido o certificado do FSC (Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal). Esse certificado permite às empresas garantir que suas “florestas” (de eucaliptos e pinus!) são manejadas de forma ambientalmente apropriada, socialmente benéfica e economicamente viável. Pelo menos isso é o que sustenta o mandato do FSC. No entanto, um recente estudo levado a cabo no Uruguai evidencia exatamente o oposto.
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7 Março 2006O crescente uso da biotecnologia no setor florestal tem levado à expansão da plantação de árvores geneticamente modificadas em pelo menos trinta e cinco países. Apesar de que, de acordo com a FAO, a maioria da pesquisa se limita aos laboratórios, muitos milhões de árvores GM já têm sido liberados em testes a campo aberto na China, na América do Norte, na Austrália, na Europa e na Índia, e em menor grau, na América do Sul e na África.
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7 Março 2006Os cisnes-de-pescoço-preto tinham como habitat o Santuário da Natureza Carlos Anwandter do rio Cruces, sítio Ramsar, localizado ao norte da cidade de Valdivia, na região X. O cisne-de-pescoço-preto (Cygnus melancoryphus) é uma ave migratória nativa da América do Sul. Os locais onde mora são os humedais do sul do Brasil, Uruguai, quase toda a Argentina e o Chile da região IV à XI. Alimenta-se de vegetais e no rio Cruces de uma alga, a elódea. Além de que o cisne-de-pescoço-negro passou a fazer parte da identidade local, o Santuário do Rio Cruces permitiu o desenvolvimento de uma importante corrente turística que redundava em uma fonte de renda e de trabalho importante para os habitantes do local.