Duas grandes empresas florestais nacionais (a FYMNSA e a COFUSA), uma finlandesa (a Botnia-UPM/Kymmene) e uma espanhola (a Ence-Eufores), têm recebido o certificado do FSC (Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal). Esse certificado permite às empresas garantir que suas “florestas” (de eucaliptos e pinus!) são manejadas de forma ambientalmente apropriada, socialmente benéfica e economicamente viável. Pelo menos isso é o que sustenta o mandato do FSC. No entanto, um recente estudo levado a cabo no Uruguai evidencia exatamente o oposto.
No tocante à biodiversidade, resulta insólito que nenhuma das empresas certificadoras faça referência ao principal ecossistema do país (a pradaria), onde se desenvolve o maior número de espécies vegetais, das que por sua vez depende grande parte da fauna nativa. A explicação é simples: as plantações estão estabelecidas precisamente em pradarias. As opções então eram apenas duas: ou ignorar o problema ou recusar a certificação. A SGS e a SmartWood (as duas certificadoras envolvidas), optaram obviamente pela primeira opção.
Para piorar a situação, essas grandes monoculturas certificadas estão tendo impactos sobre a água, o que envolve efeitos em cadeia sobre as numerosas espécies de vegetais e animais relacionadas com zonas úmidas, lagoas e cursos de água, que desaparecem ou diminuem seu vazão. Ao mesmo tempo, têm impactos sobre a pouco estudada flora e fauna dos solos, para as que grande parte dessas plantações constituem um deserto alimentar ou um ambiente tóxico.
Além disso, as mudanças na biodiversidade geradas por essas monoculturas certificadas têm causado impactos sobre os moradores locais. Com efeito, esses desertos alimentares para a fauna local carecem de pessoas. Isso faz com que sejam excelentes refúgios para javalis e raposas, que se alimentam das produções agropecuárias da área, matando cordeiros e aves de curral, bem como dos cultivos dos agricultores, fazendo com que seja quase impossível a supervivência dessas pessoas.
Ao mesmo tempo, a quebra do equilíbrio ecológico decorrente dessas vastas monoculturas de árvores tem deixado o caminho livre para um grande aumento nas populações de cobras peçonhentas que ameaçam a vida dos trabalhadores florestais e das populações vizinhas (e seus animais), que agora acham essas perigosas cobras até dentro de suas casas.
Por essas e outras razões verificadas no estudo mencionado, fica claro que não se trata de um manejo “ambientalmente apropriado” dos recursos naturais.
Do ponto de vista social, confirmou-se que essas plantações geram mudanças negativas no meio rural (latifundiarização e estrangeirização da terra, despovoação do meio rural, desaparição de outras atividades produtivas, impactos sobre outras produções agropecuárias), escasso emprego e sob condições de trabalho precárias (sistemas de empreiteiras, trabalho temporal, baixos salários, trabalho por peça, escasso cumprimento das leis do trabalho) e são poucos os benefícios que trazem para as comunidades locais. Portanto, não é possível afirmar que constituam um manejo “socialmente benéfico”.
Do ponto de vista econômico, o estudo mostra que as empresas plantadoras têm recebido todos os tipos de apoios diretos e indiretos do Estado (subsídios, isenções tributárias, empréstimos suaves, construção de rodovias, manutenção de caminhos rurais afetados pelos pesados caminhões vinculados às atividades dessas empresas). Esses apoios econômicos diretos, junto com a externalização dos impactos ambientais (sobre a água, a flora a fauna) e sociais (mão de obra barata e más condições de trabalho através do uso do sistema de sub-empreiteiras, prejuízos a outras atividades rurais) têm sido fundamentais para viabilizar economicamente uma atividade que sem esses apoios tivesse sido inviável. Isto quer dizer que de nenhum jeito constituem uma atividade “economicamente viável”.
A conclusão é clara: as grandes monoculturas de árvores implantadas no Uruguai não deveriam ter sido certificadas pelo FSC, justamente porque são “ambientalmente impróprias, socialmente prejudiciais e economicamente inviáveis”. A certificação disfarça de verde uma atividade cada vez mais questionada no Uruguai e debilita os que procuram um modelo de desenvolvimento ambientalmente apropriado e socialmente benéfico ... que é justamente o que a maioria dos membros do FSC querem que a certificação apóie.
* O estudo “El maquillaje verde de la forestación en Uruguay: análisis crítico de plantaciones certificadas por el FSC”, por Ricardo Carrere, será publicado em breve em espanhol e em inglês.