Brasil: os empregos letais da Aracruz

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Em todos os lugares onde a indústria da celulose e do papel opera, ela traz consigo a promessa de emprego. Lamentavelmente para as pessoas que moram na área que a indústria invade, essas promessas raras vezes trazem trabalho. Em um relatório recente para o Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, Alacri De'Nadai, Winfridus Overbeek e Luiz Alberto Soares, registraram de que forma a Aracruz Celulose, o maior produtor do mundo de pasta de eucalipto branqueada, não tem providenciado trabalho para o povo local.

O relatório titulado “Promises of Jobs and Destruction of Work: The case of
Aracruz Celulose in Brazil” (Promessas de Emprego e Destruição do Trabalho: O caso da Aracruz Celulose no Brasil) documenta que desde a década de 80, quando 9.000 pessoas trabalhavam para a Aracruz, o emprego na companhia tem diminuído constantemente. A maior mecanização tem levado a grande número de demissões. A Aracruz tem terceirizado muitos de seus trabalhos, levando a menor segurança no trabalho e menores salários para os trabalhadores que conseguiram manter seus empregos. Atualmente a Aracruz emprega diretamente apenas 2.000 trabalhadores.

Em 2002, a Aracruz abriu uma nova linha de pasta que aumentou a produção de pasta da companhia de 1,2 milhões de toneladas para 2 milhões de toneladas ao ano. O investimento de USD 600 milhões criou 173 novos empregos. Isso é aproximadamente USD 3,5 milhões por emprego.

Os empregos que a companhia e seus sub-empreiteiras realizam são às vezes perigosos e têm sérios impactos na saúde dos trabalhadores. Em 2003, durante uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Parlamento Federal em Brasília, um trabalhador da Aracruz chamou a companhia de “assassina”. Ele tinha visto como morreram vários colegas em decorrência de problemas de saúde causados pelo trabalho na Aracruz.

No ano passado, dúzias de ex-trabalhadores da Aracruz com sérios problemas de saúde formaram um novo movimento: o Movimento dos Ex-trabalhadores Mutilados da Aracruz Celulose. O Movimento também inclui as viúvas de ex-trabalhadores da Aracruz. Nenhuma dessas pessoas tem recebido qualquer tipo de indenização da Aracruz por suas mutilações.

O Movimento tem documentado minuciosamente os casos de 33 ex-trabalhadores da Aracruz. Os trabalhadores sofreram lesões na coluna causadas por carregar pesadas caixas de mudas ou agrotóxicos. Na década de 80, os trabalhadores eram transportados em caminhões com tábuas de madeira como assentos. Muitos trabalhadores sofreram lesões na coluna já que os caminhões dirigiam por caminhos cheios de buracos. Os acidentes com as serras elétricas eram comuns e incluíam a perda de dedos, pés e cortes no corpo e no rosto. Alguns trabalhadores foram amassados por árvores quando da derrubada. Outros trabalhadores sofreram lesões na coluna ao remover troncos de eucaliptos. Os trabalhadores responsáveis da manutenção e reabastecimento das serras elétricas e máquinas sofreram de irritação nos olhos e uma doença chamada de leucopenia, a redução do número de glóbulos brancos no sangue.

Particularmente em risco estavam os trabalhadores nas plantações da Aracruz que aplicam pesticidas e herbicidas para garantir que as plantações de monoculturas continuem sendo isso: monoculturas. Entre os sintomas observados entre esses trabalhadores estavam as dores de cabeça, os vômitos, a dor na boca e no estômago, as unhas esponjosas e a visão afetada (incluindo o risco de cegueira).

Os trabalhadores danificados denunciaram poucos acidentes e doenças aos funcionários da Aracruz. Os serviços médicos da Aracruz não aceitam diagnósticos de doenças de médicos externos como prova autêntica de doenças. A Aracruz demitiu todas as 33 pessoas afetadas enquanto trabalhavam para a companhia.

Atualmente, muitos dos trabalhos braçais na Aracruz, especialmente aqueles dos operadores de serras elétricas, têm sido substituídos por máquinas. Mas as doenças entre trabalhadores que manuseiam químicos perigosos como pesticidas e herbicidas ainda são comuns.

O relatório “Promises of Jobs and Destruction of Work” inclui uma entrevista com um homem de 59 anos que costumava trabalhar para a Plantar, uma das companhias terceirizadas da Aracruz. Ele trabalhou durante quatorze meses aplicando pesticidas em 2000 e 2001. Depois de quatro meses de trabalho, ele desmaiou enquanto estava trabalhando: “Meu amigo me levou para a sombra, pegou um chapéu, e me abanou por uns dez minutos até que me recuperei” disse para os pesquisadores. “Depois trabalhei toda a tarde. Passaram-se dois ou três meses e eu desmaiei de novo.” Ele ficou doente, mas quando se queixou perante seu supervisor, em vez de receber tratamento, foi demitido.

Outro homem que tinha trabalhado nas plantações da Aracruz descreveu a morte de um colega, Junio. Junio se tinha queixado de sentir-se indisposto durante o dia. Quando os trabalhadores acabaram de trabalhar, perceberam que Junio não estava. Foram buscá-lo: “Quando o acharam ele estava deitado, com a bomba nas costas."

Em 2003, duas pessoas ficaram doentes ao misturar três pesticidas em uma das plantações da Aracruz. Eles estavam empregados pela Emflora, outra das companhias terceirizadas da Aracruz. Depois de uns poucos dias de trabalho sem botas, macacões nem roupas protetoras, começaram a sofrer dores de cabeça, tontura, arrepios e dores de estômago. Diagnosticaram-lhes leucopenia. Um deles promoveu uma ação contra a Emflora por dano corporal.

A Aracruz diz que está “melhorando a qualidade de vida de seus empregados”. De fato, usando sub-empreiteiras como a Plantar e a Emflora, está tentando evadir suas responsabilidades. O relatório “Promises of Jobs and Destruction of
Work” conclui que a “A Aracruz Celulose consegue burlar os processos judiciários e a responsabilidade, e enquanto os trabalhadores continuam arriscando sua saúde e suas próprias vidas, sem que seus direitos sejam garantidos, as plantações de eucaliptos estão crescendo.”

O relatório "Promises of Jobs and Destruction of Work: The case of Aracruz Celulose in Brazil" está disponível em: http://www.wrm.org.uy/paises/Brasil/fase.pdf

Por Chris Lang, E-mail: chrislang@t-online.de