Laos: o Banco Mundial disfarçou cifras para justificar Nam Theun 2?

Imagem
WRM default image

Quando o Banco Mundial aprovou a quantia de US$ 270 milhões em subvenções e garantias para a controversial represa hidrelétrica Nam Theun 2 (NT2) de mil megawatts em Laos, no dia 31 de março deste ano, a maioria dos diretores estava convencido que os benefícios econômicos do projeto eram mais importantes que os aspectos adversos da questão social e ambiental.

O reservatório por trás da represa Nam Theun 2 inundaria uma área de 450 quilômetros quadrados onde moram 6.000 indígenas e é hábitat de espécies em perigo como o elefante asiático e os patos de asas brancas. A água seria transferida desde o Rio Theun ao Xe Bang Fai. Mais de 120.000 pessoas que vivem ao longo do Xe Bang Fai veriam sua pesca e meios de vida serem destruídos devido à mudança do fluxo do rio.

Mas existe evidência de que o pessoal do Banco disfarçou a avaliação econômica da represa e essas suposições errôneas explicam o benefício econômico líquido maior do que o alegado para o projeto. Uma equipe formada por economistas da universidade Thai e um analista interessado na energia pública perceberam as suposições erróneas do Banco e seu impacto no decorrer de um abundante correio com o Banco .

A avaliação do Banco Mundial conclui que "a decisão de comprar energia da NT2 oferece significativas economias ao sistema de energia regional", e que construir a NT2 produzirá uma economia líquida de 188 milhões de dólares sobre a existência da NT2 comparada com o uso de geração por combustão de gás natural para produzir a mesma quantia de eletricidade. Cerca de 95% da eletricidade gerada pela NT2 será vendida à Tailândia.

Os pesquisadores do interesse público analisaram as suposições que permitiram o cálculo de uma economia de 188 milhões de dólares e como essas suposições foram alteradas entre uma versão esboçada da avaliação do projeto que circulou amplamente e uma versão final divulgada exatamente uma semana antes da reunião da Diretoria. Uma descoberta surpreendente foi que na versão final da avaliação, o pessoal do Banco tinha aumentando os custos das "operações variáveis e manutenção (VOM, sigla em inglês)" estimados para a alternativa de gas- fired em 1240 por cento comparado com as suposições da versão esboçada. A mudança (de US$0.564/MWh a US$7.000/MWh) é apenas percebida ao serem comparadas a versão inicial e final em duas tabelas, uma impressa em tamanho de fonte 6 e a outra em tamanho de fonte 5.5, na metade do estudo.

A cifra adulterada é 1310 por cento mais alta que a estimada pelas autoridades de Thai que corresponde a US$ 0.5358/MWh. Isso empurra a estimativa para os custos de operação e manutenção da alternativa de gas- fired a mais do que o triplo da marca de referência de Thai, e mais do que o dobro da marca de referência internacional mais alta que os pesquisadores puderam encontrar.

Fazendo com que a eletricidade a partir de gás natural apareça mais cara, as alterações das suposições de operação e manutenção do gás natural explicam US$ 156 milhões da economia de US$ 188 milhões declarada pelos defensores do projeto NT2. De forma esclarecedora, essa quantia é mais ou menos o que era necessário para equiparar o aumento dos custos e a diminuição dos benefícios que o projeto final tinha que ajustar, incluindo um aumento de US$ 101 milhões nos custos de desenvolvimento do projeto NT2 e remoção de US$ 20 milhões injustificados de crédito de gás de efeito estufa da NT2.

Os pesquisadores encontraram que a análise econômica feita pelo Banco da NT2 foi também sobrecarregada com muitas outras suposições incorretas que ajudaram para fazer que a represa parecesse vantajosa.

Primeiro, a análise encobriu o alcance da NT2, que, na verdade, reduziria os benefícios econômicos da produção de eletricidade de outra represa, a Theun Hinboun, da qual desviaria água. Inexplicavelmente o Banco deu a cada unidade de eletricidade producida por Theun Hinboun apenas 1/3 do valor de cada unidade produzida por NT2. Esse fato fez com que a NT2 fosse entre US$ 51 e US$ 63 milhões mais atrativa do que teria sido.

Segundo, a análise do Banco omitiu levar em consideração quatro usinas de energia totalizando 2800 megawatts para ser construída pelas autoridades tailandesas de eletricidade. No caso que a demanda futura por eletricidade na Tailândia fosse baixa, a construção da NT2 significaria que essas usinas de energia ficariam inativas, originando custos mas não providenciando benefícios. A avaliação econômica do Banco sobre a NT2 consider um cenário no qual a demanda por eletricidade é baixa, porém não inclui essas usinas. Se for incluida apenas uma dessas usinas “omitidas mas comprometidas” ("omitted but committed") seriam reduzidas as economias no total da NT2 em outros US$ 20 milhões.

Terceiro, o Banco não incorporou os resultados de um estudo que ele mesmo tinha encarregado que encontrou que seria mais barato investir em 1225 megawatts de conservação de energia e 216 megawatts de energia renovável do que construir a NT2. É difícil saber exatamente quanto isso infla as "economias" vinculadas à NT2, desde que o cálculo requeriria repetir o modelo econômico inteiramente, e o Banco não disponibilizou para o público os documentos e os dados econômicos relevantes.

Juntando o impacto dos erros já discutidos, o total é, no mínimo, de US$ 227 milhões, que de longe ultrapassam as economias de US$ 188 milhões alegadas no projeto.

Além disso, o Banco faz repetidas reivindicações falsas que seu modelo econômico "apenas os riscos desfavoráveis que poderiam afetar negativamente o grande teste para projetar viabilidade, por exemplo, condições de demanda menores das esperadas, preços dos combustíveis menores dos esperados e custos maiores dos antecipados para a construção da NT2”. Na realidade, o Banco baseia sua avaliação do risco na suposição de que os custos de construção poderiam ser "baixos", rendendo um lucro inesperado para o cenário da NT2. Se a análise do Banco realmente usasse sua seleção do pretendido cenário, a NT2 seria US$ 51 milhões mais custosa.

Um estudo independente deve ser dirigido para as irregularidades na avaliação econômica da NT2 e o Banco Mundial deve reconsiderar seu papel no projeto da NT2. Não é tarde demais para corrigir os erros e avaliar o projeto em suas verdadeiras vantagens. Cancelar o projeto é ainda mais adequado que comprometer os contribuintes de Thai a uma opção economicamente inferior. Os investidores são atingidos também, como muitas das cifras falsas que inflam fortemente a avaliação comercial do projeto.

A avaliação econômica supra discutida é de Robert Vernstrom Nam Theun 2 Hydro Power Project Regional Economic Least-Cost Analysis: Informe final Março de 2005 em http://siteresources.worldbank.org/INTLAOPRD/Resources/RELC-2005-final.pdf.

A versão esboçada do relatório da avaliação econômica está disponível em:
http://siteresources.worldbank.org/INTLAOPRD/491761-1094074854903/20251513/Economic.pdf.

Um completa versão com referências deste artigo está disponível em:
www.palangthai.org/docs/NT2EconMalfeasRefs.pdf .

Os cálculos dos pesquisadore sobre o impacto das suposições errôneas do Banco estão disponíveis em:www.palangthai.org/docs/NT2EconMalfeas.xls

Um arquivo de correspondências com o Diretor do Banco Mundial para Lao PDR e Tailândia (com cópia à Diretoria do Banco) a respeito desses assuntos está disponível em:www.palangthai.org/docs/RemarkableAssumptions.pdf.

Por Christopher E. Greacen, Ph.D., Diretor, Palang Thai, E-mail: chris@palangthai.org ; E Decharut Sukkamnoed, Lecturer of Economics, Kasetsart University, E-mail: tonklagroup@yahoo.com