Mesmo com estimativas conservadoras, ainda existe menos da quarta parte da floresta pré-colonial de Gana. Os lenhadores e os políticos causaram a maior parte do desmatamento, embora queiram colocar a culpa nos agricultores. Porém, o fato é que ao longo do século XX, os agricultores tiveram muito pouco controle sobre suas árvores e terras. Os colonizadores ingleses deram os direitos sobre a madeira a chefes que imediatamente os venderam a lenhadores ou mandaram derrubá-los e sustitui-los com lavouras de cacau.
Depois da independência o governo demandou a posse de todas as árvores e de todas as terras e as vendeu, quase em sua totalidade, aos lenhadores. Os produtores de cacau seguiram os lenhadores estabelecendo-se nas áreas recentemente clareadas. Como as árvores de cacau crescem melhor na sombra, os agricultores, geralmente, mantêm a floresta coberta. No entanto décadas de políticas florestais ruins e um departamento florestal corrupto fizeram com que os agricultores não recebessem nenhuma compensação - apenas terras estragadas – por causa das árvores que companhias madeireiras derrubaram nas suas terras. Os oficiais do governo – geralmente subornados pelos lenhadores – colocaram taxas muito baixas nas árvores derrubadas e ainda não conseguiram receber a maior parte. A crescente demanda estrangeira na Ásia além das novas plantas para a manufatura da madeira financiadas pelo Banco Mundial levaram o setor madeirero à crise.
Na década de 1990 houve algumas reformas, mas foram muito poucas e chegaram muito tarde. Sob a presão da sociedade civil e de doadores, o governo, sem muita vontade, implementou, verbalmente, algumas poucas reformas para incluir as comunidades em alguns projetos irregulares. Mas os agricultores ainda não podem opinar a respeito das políticas florestais nem se suas terras são outorgadas em concessão nem a respeito de quais companhias vão derrubar árvores nos seus quintais.
Culpando os agricultores tanto os lenhadores quanto os políticos ficam livres de responsabilidades. O mesmo aconteceu em Madagascar, no Senegal e em muitos outros países ao longo da África, onde os agricultores foram os bodes expiatórios de políticos e lenhadores. As histórias de agricultores que utilizam o destrutivo método de roça e queima são levadas em consideração por eruditos naïve e por companhias internacionais de recursos agrícolas apenas preocupadas pelos seu próprio benefício. As companhias de fertilizantes afirmam que o governo deve obrigar os agricultores destrutivos que usam os metodos de roça e queima, a comprarem mais fertilizantes para aumentar a produtividade das terras já existentes e assim evitar sua expansão. As empresas de biotecnologia argumentam que as novas sementes geneticamente modificadas permitirão os agricultores aumentarem a produção de suas próprias terras. Neste processo não conseguimos enxergar os verdadeiros vilões e perdemos oportunidades para conseguir mudanças reais nas políticas e nos governos para melhorar a conservação e a reabilitação.
Por: Aaron deGrassi, e-mail: degrassi@ocf.berkeley.edu
Artigo baseado em: deGrassi, Aaron (2003). Constructing Subsidiarity, Consolidating Hegemony: Political Economy and Agro-Ecological Processes in Ghanaian Forestry. Washington, DC: World Resources Institute. Environmental Governance in Africa Working Paper No. 13. deGrassi, Aaron (2003). (Mis)Understanding change in agro-environmental technology in Africa: Charting and refuting the myth of population-induced breakdown. In, Zeleza, P. T. and Kakoma, I. (eds.), In search of modernity: Science and technology in Africa. Trenton: Africa World Press. pp. 473-505.