Argentina: um ano após o NÃO em Esquel, surge rede nacional contra a mineração

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Em 4 de dezembro, milhares de pessoas de cidades e paragens das províncias do Chubut e Rio Negro voltaram a marchar, junto com os habitantes de Esquel, para dizer NÃO à Mina. Essa reafirmação popular acontece em meio a mais uma investida mineradora, já que o pessoal das corporações está rondando as cercanias de Cholila (no Chubut, a poucos quilômetros do Parque Nacional Los Alerces). Caso a atividade mineradora continue, ficarão comprometidas várias bacias lacustres e a floresta andina patagônia. O temor dos moradores não mais reside no início da exploração, mas na própria fase de prospecção. Nessa fase, a mineradora Meridian Gold poluiu arroios em Esquel (Huemules e Willa) e a Barrick Gold despejou hidrocarbonetos em águas subterrâneas na província de São João (Vale do Cura – Projeto Pascua Lama).

A empolgante integridade moral dos esquelenses, que não recuaram diante das ameaças e ataques contra seu local dos “Vizinhos Autoconvocados pelo NÃO”, e a gravidade da ameaça mineradora possibilitaram que, nos dias 24 e 25 de novembro, se reunissem em Buenos Aires delegados de Catamarca, São João, Chubut, Tucumán, Córdoba e Rio Negro e criassem a Rede Nacional de Comunidades Atingidas pela Mineração.

O encontro permitiu conhecer a problemática do centro, oeste e noroeste da Argentina. Os depoimentos dos delegados de Catamarca e Tucumán, províncias atingidas pela exploração da jazida de ouro Bajo La Alumbrera, foram taxativos. Tal atividade compromete a bacia Salí-Dulce, sendo que a contaminação não só provoca impactos nessas províncias, mas, também, em Santiago del Estero, Córdoba e Santa Fé. O representante de Tucumán também chamou a atenção para a ameaça contra a floresta de yungas, devido à execução de 37 empreendimentos mineiros.

A delegação são-joanina também deu o seu sinal de alerta, advertindo que a próxima exploração da mina de ouro Veladero comprometerá a bacia do rio Jáchal e atingirá a Reserva da Biosfera São Guilherme (tombada pela UNESCO, em 1984, como Patrimônio Natural da Humanidade).

Embora o panorama seja sombrio, a integridade moral da população de Esquel e comarcas alimenta a esperança de, na Argentina, as pessoas crescerem em número e coragem ao tomarem consciência do perigo que enfrentam.

Por Hernán Scandizzo, correio eletrônico: herscan@data54.com