Como dissemos em nosso último boletim, “os ares de mudança estão soprando cada vez mais forte”. Um desses ares soprou bem forte na reunião da Rede para Mulheres no Manejo dos Recursos Naturais, realizada por ocasião do último Congresso Florestal Mundial acontecido no Quebec, no mês de setembro. Pela primeira vez nesse tipo de evento, um grupo de mulheres com interesses diversos reuniu-se para trocar opiniões sobre questões de gênero.
Algumas das questões arroladas pelas participantes como sendo de interesse primordial para fazer parte do grupo são: interesse pessoal em temas relacionados com a mulher e trabalho em redes, urgência em incluir a agenda de gênero e equidade no Congresso Florestal Mundial, projetos de desenho centrados em causas da mulher, e a necessidade das atividades florestais possuírem uma agenda em matéria de equidade. Fez-se notar que, nas organizações florestais do mundo todo, as mulheres são marginalizadas, fato evidenciado também na organização do próprio Congresso Florestal Mundial.
Foi discutido o interesse em que essa Rede inclua a mulher como profissional, a mulher como silvicultora e a mulher como usuária da floresta. Concordou-se em que a Rede poderia servir como um grande guarda-chuva, sob o qual pudessem se formar esses e outros grupos de interesse específico, e que devia continuar sendo o mais aberta possível.
No Fórum Aberto, foi lida a seguinte declaração, posteriormente entregue aos comitês de Políticas e Redação do Congresso Florestal Mundial, como forma de garantir que a opinião das mulheres fosse formalmente ouvida:
“Preocupa-nos profundamente que as questões de gênero não tenham sido devidamente tratadas, de maneira formal, no âmbito florestal internacional, em geral, e neste Congresso Florestal Mundial, em particular. Embora alusões ao papel da mulher e a questões de gênero tenham sido feitas nalgumas declarações do plenário, em sessões temáticas, eventos paralelos e mesas-redondas ecorregionais, as mesmas não foram suficientemente incluídas nas declarações finais, e ainda são contribuições ad hoc para o Congresso Florestal Mundial. Ficamos especialmente decepcionadas por não termos sido reconhecidas, na sessão plenária, como grupo de interesse, da mesma forma que os jovens, os povos indígenas, as comunidades da floresta, os trabalhadores e as indústrias. Essa omissão vai de encontro aos compromissos da FAO com a Iniciativa para o Desenvolvimento Rural Sustentável e Agrícola (SARD, em inglês), da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que reconhece a mulher como um dos nove grupos principais.
Portanto,
Propomos que o 13º Congresso Florestal Mundial inclua e considere as questões de gênero em todos os aspectos ligados a tomada de decisões, programas, seleção e apoio a participantes, etc.
Propomos que mulheres e homens participantes neste evento paralelo, e outros com preocupações semelhantes, tenhamos uma sessão especial, para contribuir com nossa perspectiva de gênero nos aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos da silvicultura de futuros congressos florestais mundiais e outros fóruns relacionados com florestas.
Propomos que, no próximo Congresso Florestal Mundial, as mulheres que representam grupos de mulheres ocupem cargos de decisão nos comitês de Políticas e Redação.
Propomos que seja solicitada verba para aumentar a participação de mulheres vindas de países em desenvolvimento e de outras que tiverem necessidade.
Propomos o pedido de verba para cobrir as despesas com local e tradução, para possibilitar a realização pelas mulheres de um fórum prévio ao Congresso Florestal Mundial, como aconteceu no Fórum da Juventude.
Propomos que as mulheres que possam representar tanto usuárias(os) da floresta quanto profissionais florestais tenham um espaço formal dentro do Congresso Florestal Mundial, como dado aos jovens, povos indígenas, trabalhadores florestais e comunidades locais da floresta”.
O WRM apoia totalmente essas demandas, e acha que a perspectiva de gênero não foi incluída em sua totalidade no debate em torno das florestas. Embora os impactos diferenciados do desmatamento na mulher estejam bem documentados – em especial, na Ásia –, bem como o papel diferenciado da mulher na conservação e uso da floresta, nem os ativistas da floresta nem as redes de mulheres incluíram suficientemente a questão em suas agendas de pesquisa, campanha e lobby. A criação dessa Rede, portanto, deve ser entendida como um passo positivo na direção certa.
Artigo baseado em informação das anotações feitas por Jeannette D. Gurung, Coordenadora da Rede para Mulheres no Manejo dos Recursos Naturais, correio eletrônico: jeannettegurung@yahoo.com