Na segunda metade de setembro último, a ONG equatoriana Ação Ecológica organizou, em Quito, um encontro nacional em torno da questão “As plantações não são florestas”. Nos dias 20 e 21 de setembro, aproximadamente 40 organizações representativas de movimentos indígenas, camponeses, afro-equatorianos, ONGs e parlamentares do Equador, além de representantes do Brasil, Chile e Uruguai, analisaram a problemática das plantações e trocaram experiências. O encontro aconteceu no marco do atual debate, no Equador, a respeito de um plano de florestamento do governo que poderia implicar a promoção de monoculturas de árvores em grande escala em vastas áreas do país.
Representando a Rede Alerta contra o Deserto Verde, do Brasil, Paulo César Scarim falou da experiência, em seu país, de lutas contra a expansão do chamado “deserto verde”: enormes áreas com plantações comerciais de eucalipto. Além disso, ele visitou comunidades na província de Esmeraldas, outrora uma região com abundantes florestas tropicais e mangues, bem como comunidades em Muisne e Daule, onde as empresas – como a Eucapacific, um consórcio japonês que comprou muita terra para plantar eucalipto – chegam prometendo emprego num meio empobrecido. Porém, o desmatamento, os projetos de colonização e, mais recentemente, as camaroneiras e as plantações de dendezeiro, teca e eucalipto acabam deixando a região desprovida de suas riquezas originais. O resultado é um desemprego medonho e o crescente aumento do êxodo rural em direção à periferia das cidades.
Sergio Alcamán, delegado da nação Mapuche, falou da experiência vivenciada no Chile com monoculturas de pinheiro e eucalipto, que não só provocaram impactos nos solos, nas águas e na biodiversidade, mas, também, importaram a apropriação de vastas áreas do território Mapuche pelas empresas florestais durante a ditadura de Pinochet. Apesar disso, a resistência Mapuche vai em aumento.
Por sua vez, o representante do Uruguai (Ricardo Carrere, da Secretaria do WRM) relatou a experiência em seu país e em muitos outros países tropicais e subtropicais, onde os impactos sociais e ambientais das monoculturas de árvores estão gerando lutas contra que, aos poucos, vão se unindo em escala internacional, ampliando e aprofundando o movimento de oposição.
O encontro realizado no Equador possibilitou a troca de experiências entre países que já possuem centenas de milhares (o Uruguai) ou milhões de hectares (o Chile e o Brasil) plantados com monoculturas de árvores e um vasto leque de organizações do Equador, onde a área ocupada por plantações hoje ameaça com ser ampliada. Tanto nesses países quanto em muitos outros, constata-se que as plantações homogêneas de árvores com fins comerciais resultam em perda de terra para as comunidades tradicionais, numa profunda alteração da estrutura econômica e social da região, em desmatamento e no uso intensivo do solo e de substâncias químicas que acabam com solos, rios, mangues e com a biodiversidade de riquíssimos ecossistemas tropicais.
Chegou-se à conclusão, também, de que é preciso observar com calma as atuais estratégias mundiais, como, por exemplo, certificações, serviços ambientais e corredores ecológicos, para não cair numa armadilha.
Em todos os lugares, estão surgindo movimentos de resistência, com táticas e ritmos diferentes, e o clima de solidariedade e de busca de uma organização das resistências em suas múltiplas fases resultou em diversas agendas e na perspectiva de um trabalho em rede. Com esse objetivo, em janeiro de 2003, foi criada a Rede Latino-americana contra as Monoculturas de Árvores (RECOMA), onde participam tanto a Ação Ecológica quanto a Rede Alerta contra o Deserto Verde e o WRM. Poucos dias antes, a RECOMA reunira-se em Cartagena, na Colômbia, visando à elaboração de estratégias comuns para enfrentar a ameaça das plantações. A troca de experiências no encontro do Equador, aqui comentada, é elemento importante da estratégia, e seu balanço positivo augura a continuação desse tipo de troca.
Artigo elaborado a partir de informação de: Relatório de Paulo César Scarim, Associação de Geógrafos Brasileiros-ES / Rede Alerta contra o Deserto Verde, enviado pelo autor, correio eletrônico: pscarim@hotmail.com ; complementado com informação adicional fornecida por Ricardo Carrere.