A organização BanglaPraxis, de Bangladesh, e outros grupos locais reagiram à intenção anunciada pela Shell Bangladesh de realizar prospecções aéreas (aerofotogrametrias) e testes sísmicos nos blocos de mangue dos Sundarbans a partir do dia 27 de setembro.
Bangladesh é um país basicamente agrícola, embora o processo de urbanização avance rapidamente, e, desde meados dos anos setenta, cada vez mais voltado para uma economia de mercado, fazendo do desenvolvimento industrial uma prioridade e seguindo o rumo da privatização, das reformas de livre mercado e do incentivo ao investimento estrangeiro, o mais das vezes, nos setores de gás natural, energia elétrica e infra-estrutura física.
Até o início dos anos noventa, a empresa estatal de gás e petróleo Petrobangla, junto com suas oito companhias operadoras (CO), era o único ator nos setores de petróleo e gás em Bangladesh. Porém, nos últimos anos, Bangladesh tem estimulado empresas petroleiras estrangeiras a operar no país. Atualmente, a Shell, a Texaco, a Scotland's Cairn Energy PLC, a Holland Sea Search, a Unocal, a Rexwood-Oakland e a UMC Bangladesh Corporation realizam prospecções através de seis sociedades com Contratos de Produção Conjunta (CPC) com a Petrobangla.
Uma das áreas mais atingidas pelo avanço do "desenvolvimento" é a floresta de mangue dos Sundarbans, no litoral sudoeste do país, considerada patrimônio da humanidade e o maior mangue do mundo. Mais de quatro milhões de pessoas que moram em torno dos Sundarbans subsistem, em parte, graças à extração de recursos florestais: produtos madeireiros e não madeireiros, áreas de pesca e outros serviços como o turismo. Vários milhões mais de pessoas dependem dos Sundarbans de forma indireta.
Recentemente, o SBCP Watch Group, uma rede de organizações que monitora os projetos financiados pelo Banco Asiático de Desenvolvimento nos Sundarbans, criou um programa para a preservação dos Sundarbans. Quando o coordenador do Watch Group colocou a questão dos testes da Shell na floresta, a multinacional respondeu enviando material de divulgação para cada participante do programa. Nele, as autoridades da Shell Bangladesh explicam que não explorariam as florestas de Sundarbans, em si, mas que realizariam um estudo aeromagnético no bloco 10, área próxima aos Sundarbans e possuidora de uma área de floresta. Os blocos são divisões de território arrendadas pelo governo, para a prospecção de petróleo e/ou gás e a realização de atividades extrativistas por parte das empresas multinacionais.
A empresa também garante que o teste será realizado a 10 quilômetros da floresta. No entanto, os ambientalistas consideram que a área de impacto que atingiria a floresta é de 20 quilômetros. O "abalo" produzido pelo teste sísmico teria conseqüências de longo alcance para os Sundarbans, destruindo o seu frágil ecossistema. É bem provável que toda perfuração curso acima da floresta leve águas poluídas curso abaixo dos Sundarbans. A perfuração no bloco 10, adjacente à floresta, implica idêntico risco, já que vários rios fluem das áreas desse bloco em direção à floresta.
As organizações locais acham que se fosse verdade que a Shell não pretende fazer perfurações dentro da floresta, então, não seria necessária a realização de nenhum teste. Não obstante, elas possuem evidência de que a multinacional está avançando na prospecção e que vem fazendo pesquisas de opinião tendenciosas na região, através da BETS, uma firma local contratada pela Shell.
Em Bangladesh, o enorme movimento popular contra a exportação de gás tem gerado consciência. A população local está se defendendo e a organização local AOSED (membro da rede Coastal Development Partnership (CDP), que vem trabalhando no caso Shell) está lançando uma campanha contra o avanço da Shell. Eles exigem que a empresa não inicie nenhuma atividade dentro ou em torno da floresta, no bloco 5, ou no vizinho bloco 10, sem antes consultar os grupos de moradores atingidos. A multinacional deveria consultar não só as organizações que trabalham junto com eles, mas, também, outras organizações que têm feito críticas em relação às atividades da Shell.
As pessoas atingidas acham que não é necessária nenhuma informação "científica", pois o local do teste ou perfuração é o seu lar e sabem perfeitamente que o impacto nelas e em seus meios de subsistência vai trazer depredação, destruição e deslocamento.
Artigo baseado em informação de: "Grave concern over move to explore gas in Sundarbans", M. Shafiqul Alam, The Financial Express, http://www.financialexpressbd.com/index.asp?
aday=9&amonth=6&aYear=03&Submit=+++Submit+++ ; State of Sundarbans, Anisur Rahman, Bangladesh Door, http://www.bangladesh-door.com/ ; "Sundarban Threatened Anew by Shell Oil", Late Friday News, 117th, Urgent Notice Addendum, enviado por Alfredo Quarto, Mangrove Action Project, correio eletrônico: mangroveap@olympus.net , http://www.earthisland.org/map/ltfrn_117.htm ; informação direta de Zakir Kibria, BanglaPraxis, correio eletrônico: banglapraxis@yahoo.com , e Alfredo Quarto, correio eletrônico: mangroveap@olympus.net , Late Friday News, 117th Urgent Notice Addendum.