Bangladesh: objetam Projeto para a Conservação da Biodiversidade dos Sunderbans

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A organização ambiental SBCP Watch Group, formada por quatro organizações não-governamentais (ONGs) locais -- Actionaid Bangladesh, Rupantar, JJS e Lokaj --, foi fundada no ano 2000, com o objetivo de monitorar as atividades do chamado Projeto para a Conservação da Biodiversidade dos Sunderbans. Esse projeto de 77,5 milhões de dólares é financiado pelo Banco de Desenvolvimento Asiático (BDA), o Fundo para o Meio Ambiente Mundial (FMAM) e o Fundo de Desenvolvimento Nórdico (FDN), sendo o seu autodeclarado propósito a recuperação do ecossistema original da maior área contínua de mangues atualmente existente no planeta (ver o boletim 44 do WRM).

O grupo cívico julga que, caso não seja feita uma avaliação séria, o projeto terá resultados negativos. O Projeto para a Conservação da Biodiversidade dos Sunderbans não identificou corretamente as causas estruturais da pobreza e da destruição da biodiversidade dos Sunderbans; pelo contrário, ele responsabiliza a população local. Embora um dos componentes do projeto seja a erradicação da pobreza daqueles que moram na "Área de Impacto" ou "Área de Atenuação" adjacente à floresta de mangue, basicamente, eles não foram consultados na hora de desenhar o projeto, lembra a ONG. Entre outras coisas, o projeto não levou em conta a criação industrial de camarão realizada na área vizinha aos Sunderbans, atividade que a organização reputa de "nova maldição para as comunidades locais". As granjas camaroneiras deslocaram atividades tradicionais, como posseiros, trabalhadores rurais, pequenos agricultores ou pescadores artesanais, os quais, expulsos pelas empresas camaroneiras, recorreram à floresta em procura de fontes de sustento alternativas, desse modo aumentando a pressão sobre os minguados recursos do ecossistema.

Uma pesquisa realizada por ONGs revelou que a única atividade feita no ano todo nos Sunderbans é a colheita do camarão. À medida que foram fechando todas as fontes de trabalho, uma quantidade grande de desempregados viu-se forçada a juntar camarão, caranguejo e ostra, de um jeito que até as próprias pessoas que fazem a colheita acham insustentável. A população local considera que se o governo proibisse a criação industrial de camarão na região, os agricultores pobres e marginalizados seriam beneficiados, já que seriam criadas numerosas oportunidades de emprego na lavoura e noutras atividades afins, produzindo culturas e variedades locais de peixe, para satisfazer as necessidades locais. A criação industrial do camarão fez surgir um movimento popular de resistência que já tem vários anos e uma vítima em Koronamoyee Sardar, quem, para os sem terra de Bangladesh, se transformou em símbolo da luta pelo direito à terra e contra as empresas camaroneiras (ver o boletim 51 do WRM).

De acordo com a pesquisa das ONGs, a criação industrial de camarão também causou vários outros impactos. Como resultado da diminuição das atividades agrícolas, existe menos palha de arroz, matéria-prima para a fabricação dos tetos, motivo pelo qual há um excesso no consumo do capim silvestre dos Sunderbans. O aumento da salinidade na região arrasou a vegetação toda, trazendo uma forte escassez de madeira para combustível, dessa forma aumentando, também, a pressão sobre os recursos dos Sunderbans. A redução da criação de gado também levou a que exista menos esterco de boi, usado como combustível alternativo, em lugar da lenha.

A organização ambientalista apresentou uma série de recomendações perante o BDA, para que faça uma avaliação urgente das atividades e o desenho do Projeto para a Conservação da Biodiversidade dos Sunderbans em função de interesses e princípios legítimos, e torne público o relatório da avaliação. Também reclama que sejam reconhecidos os direitos dos pobres aos recursos naturais comuns e que seja declarada uma moratória para a exploração de petróleo e gás, na região dos Blocos 5 e 7 (ver os boletins 15 e 44 do WRM). Entre as propostas do grupo, está a realização de uma produção de camarão sustentável, que leve em conta o meio ambiente e as pessoas, em lugar de uma produção comercial. Também são sugeridas a adoção e aplicação de políticas voltadas para um uso e manejo da terra favoráveis ao ambiente e um processo de monitoramento do projeto amplamente participativo.

A defesa e o uso sustentável da Floresta de Reserva dos Sunderbans somente serão possíveis quando as pessoas participarem ativamente no projeto, desde o seu início, e quando o meio ambiente e os interesses da população local tiverem prioridade em relação às empresas comerciais de grande porte.

Artigo baseado em informação obtida em: "Citizen's Forum for Conserving the Biodiversity of the Sunderban Reserve Forest", http://www.cdp.20m.com/sundorbon.html ; Holiday Publication, http://www.weeklyholiday.net/060902/count.html